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Quanto tempo dura a proteção da vacina? A ciência ainda não sabe

Duração da imunidade ainda não está determinada e pode ser muito pequena em pacientes com doenças que afetam o sistema imunológico

Vacinação: é possível que a vacina contra a covid-19 se torne parte do calendário anual, como ocorre com a gripe (JEFF KOWALSKY/Getty Images)
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Thiago Lavado

Publicado em 21 de maio de 2021 às 11h55.

PorCarey Goldberg, da Bloomberg

A proteção das vacinas contra o coronavírus deve diminuir, mas ninguém sabe quando. Pode ser já neste outono nos Estados Unidos para a primeira leva de pessoas que foram vacinadas no inverno passado, e muitos preveem que os reforços da Covid serão feitos anualmente, assim como nas vacinas contra a gripe.

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Idealmente, qualquer pessoa preocupada com o enfraquecimento da proteção da vacina poderia fazer o teste de anticorpos para Covid. Mas, coforme estão aprendendo os pacientes com câncer e outros com sistema imunológico debilitado, não é tão simples assim.

“A boa notícia é que temos um teste de anticorpos que pode testar se você criou ou não anticorpos em resposta à vacina”, disse Craig Bunnell, diretor médico do Dana-Farber Cancer Institute. “A má notícia é que ainda não sabemos como interpretar os resultados.”

A lacuna no conhecimento e nos testes aumenta a ansiedade para aqueles que receberam a vacina e se perguntarão nos próximos meses se ainda estão protegidos — ansiedade que poderia reduzir a vontade de se aventurar em público. Isso, por sua vez, pode colocar um novo obstáculo à recuperação econômica global.

Novos dados estão sendo divulgados quase semanalmente, o que aproxima os pesquisadores de compreender quais assinaturas imunológicas refletem proteção, disse o epidemiologista Michael Mina, da Harvard Chan School of Public Health. Mas provavelmente levará meses antes que isso se torne claro, segundo ele.

Também não se sabe quanto tempo as vacinas duram em geral. Evidências crescentes sugerem que a proteção do anticorpo dura pelo menos seis meses, porém mais do que isso ainda é incerto.

É o tipo de limbo pós-vacina que aqueles com sistema imunológico debilitado já conhecem bem.

Pessoas “imunocomprometidas” constituem cerca de 3% da população dos EUA, o que inclui pacientes com câncer no sangue, bem como aqueles com doenças autoimunes, HIV e órgãos transplantados que requerem medicamentos para evitar rejeição.

Michele Nadeem-Baker personifica esse dilema. Ela está totalmente vacinada e ansiosa para voltar ao mundo depois de passar mais de um ano como uma “mulher bolha”, que sai de casa no bairro montanhoso de Charlestown, em Boston, apenas para caminhar.

Embora a nova orientação dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos permita que outros moradores de Boston tirem as máscaras ao ar livre e retomem uma vida quase normal, poucas foram as mudanças para ela, que sofre de leucemia. Seu fraco sistema imunológico faz com que ser vacinada não garanta proteção, e ela não vê um fim para seu isolamento social. Um teste de anticorpos feito no mês passado só rendeu frustração, pois os médicos disseram que não podiam interpretar com segurança a pontuação dela.

As primeiras descobertas em pacientes com câncer ilustram como as respostas dos anticorpos para Covid variam drasticamente por indivíduo e por condição, disse Lee Greenberger, diretor científico da Leukemia & Lymphoma Society, uma organização sem fins lucrativos. Em um tipo de câncer no sangue, “40% ou 50% dos pacientes não produzem anticorpos”, afirmou. “Em outro, todos produzem anticorpos.”

Entre os voluntários saudáveis, quase todos obtêm resultados robustos de testes de anticorpos, segundo ele, mas como outros braços do sistema imunológico podem oferecer proteção, ainda não está claro nem mesmo o que um resultado com zero anticorpo significa, exceto que “é um sinal de alerta”.

Também não se sabe como o público reagirá se a imunidade parecer diminuir e os testes permanecerem inconclusivos, especialmente se - ou melhor, quando, segundo os epidemiologistas - surgirem novos surtos da doença.

O impacto econômico provavelmente será limitado em países com alta absorção de vacinas porque qualquer novo surto provavelmente será localizado, disse John Ricco, do Penn Wharton Budget Model, que tem analisado o efeito das vacinas nas economias. Mas a perspectiva ressalta que “os dólares gastos em qualquer tipo de pesquisa de vacina neste momento têm um retorno sobre o investimento muito alto”, afirmou.

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