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Pausas em vacinas da Covid-19 mostram desafios de testes clínicos

Analistas que acompanham a indústria farmacêutica disseram que as pausas são uma característica comum dos ensaios clínicos

Tratamento para a covid-19: necessidade de encontrar tratamentos viáveisse torna premente, com novo avanço da doença nos EUA e na Europa (Andrey Rudakov/Reuters)
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Thiago Lavado

Publicado em 14 de outubro de 2020 às 12h43.

A corrida para encontrar medicamentos que combatam a covid-19 desacelerou nesta semana, quando duas gigantes farmacêuticas que trabalham no desenvolvimento de tratamentos e vacinas sofreram reveses em ensaios clínicos.

Na terça-feira, a Eli Lilly disse que o recrutamento em um ensaio clínico patrocinado pelo governo de sua terapia de anticorpos foi interrompido por questões de segurança. O anúncio ocorreu menos de 24 horas depois de a Johnson & Johnson comunicar a interrupção da pesquisa sobre sua vacina experimental porque um voluntário adoeceu.

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Os anúncios devem aumentar a preocupação sobre o ritmo muito rápido da busca por medicamentos para prevenir e tratar casos de coronavírus. Reguladores e farmacêuticas têm sido questionados se a pressão política estaria se sobrepondo ao rigor científico antes da eleição presidencial nos Estados Unidos, em 3 de novembro. Na semana passada, o presidente Donald Trump, que está em baixa nas pesquisas, classificou os tratamentos com anticorpos como a cura para o coronavírus, e seu governo tem pressionado muito pela rápida aprovação de tratamentos e de uma vacina.

No entanto, complicações nos ensaios acontecem em um ambiente de intenso escrutínio, disseram executivos e observadores do setor, e a natureza altamente pública da corrida por vacinas e tratamentos dá maior dimensão a eventos que em outros estudos seriam considerados rotineiros.

“Não estou nem um pouco surpreso com essas pausas. Eu ficaria surpreso se não estivessem acontecendo”, disse Greg Poland, diretor do Vaccine Research Group, da Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota.

Os EUA investiram quase US$ 18 bilhões na Operação Warp Speed, um programa criado para acelerar o desenvolvimento de medicamentos e vacinas contra o coronavírus. As empresas trabalham em ritmo sem precedentes para desenvolver produtos complexos e inovadores contra o coronavírus, que matou mais de 215 mil pessoas nos EUA.

A necessidade de encontrar tratamentos viáveis e maneiras de conter a propagação do vírus se torna mais premente. Os casos avançam novamente nos EUA e na Europa, antes do que, segundo autoridades de saúde pública, pode ser um inverno perigoso, com a Covid-19 sem controle além da gripe sazonal. Surtos mais virulentos podem levar a medidas de controle da pandemia mais prejudiciais do ponto de vista econômico.

Alto risco

A vacina da J&J era considerada uma das pioneiras na corrida. Juntamente com vacinas rivais da Pfizer e da parceira BioNTech, da Moderna, e da parceria AstraZeneca-Universidade de Oxford, sua segurança e eficácia estão sendo estudadas em um grande ensaio. A expectativa de eficácia da vacina é alta, já que se espera que seja administrada em dose única. Algumas vacinas rivais exigirão uma segunda injeção.

O diretor financeiro da J&J, Joseph Wolk, disse em entrevista que a empresa não sabe se a pessoa que adoeceu recebeu a vacina ou um placebo. Ele disse que a J&J mantém seu cronograma de desenvolvimento e planeja ser capaz de produzir 1 bilhão de doses por ano.

“Todos estão ansiosos para obter uma vacina contra a pandemia, pelos motivos certos”, disse Wolk, “mas ninguém está buscando atalhos ou sugerindo que haja uma pressão indevida para que isso aconteça”.

Analistas de Wall Street que acompanham a indústria farmacêutica disseram que as pausas são uma característica comum dos ensaios clínicos e que os dados anteriores sobre a vacina da J&J e o tratamento com anticorpos da Lilly eram animadores.

“Paradas nos ensaios são bastante comuns e, embora não saibamos o motivo exato dessa parada, a maioria dos incidentes de segurança geralmente não está relacionada à vacina”, escreveu o analista da Shore Capital, Adam Barker, em relatório sobre a pausa temporária da J&J.

Com a colaboração de Cristin Flanagan.

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