Os fumantes parecem estar mais protegidos contra o coronavírus. Por quê?
Pesquisas na França e na China apontam que os fumantes de cigarro estão menos sujeitos a desenvolver sintomas da covid-19. A nicotina é a suspeita
Da Redação
Publicado em 1 de maio de 2020 às 12h40.
Última atualização em 1 de maio de 2020 às 19h53.
Entre os inúmeros estudos em curso tentando mapear a penetração do coronavírus em diferentes estratos da população, um em específico tem chamado a atenção — pesquisadores franceses mapearam que um percentual pequeno dos doentes são fumantes. Um quarto dos adultos franceses fumam, mas apenas 8,5% de 11.000 pacientes internados em hospitais parisienses são fumantes.
A estatística corrobora outra pesquisa, feita na China e publicada no fim de março pelo New England Journal of Medicine, que mostra que apenas 12,6% de 1.099 doentes eram fumantes, ante uma média de 28% da população adulta da China. É sinal de que, de alguma forma, o cigarro é uma proteção contra a covid-19?
Para os pesquisadores franceses, a resposta é sim. O motivo tem intrigado médicos por ser inédito nas pesquisas de saúde feitas com doenças respiratórias. Os fumantes, segundo a pesquisa, são tão suscetíveis a contrair o vírus quanto qualquer pessoa. Mas fumantes infectados costumam ter menos sintomas graves a ponto de dar entrada em hospitais. O estudo tem um resultado oposto de uma pesquisa publicada pelo European Respiratory Journal, quemostra que fumantes correm mais risco de vida pelo novo coronavírus.
Reportagem da revista Economist sugere que o mais provável é que a nicotina tenha algum efeito contra o coronavírus. Para evitar uma corrida pela nicotina, o governo francês chegou a suspender a venda online da substância no dia 24, além de limitar as vendas em farmácias. Agora, os autores do estudo, que incluem a prestigiosa universidade Sorbonne e o não menos renomado Instituto Pasteur, vão oferecer nicotina a grupos controlados de doentes.
A nicotina, reconhecidamente danosa, pode proteger os fumantes por envolver membranas celulares e evitar o ataque do vírus invasor. Também pode suavizar inflamações, uma característica já conhecida da substância.
Entre os vários outros tratamentos em andamento o mais promissor é o feito com o remédio Remdesivir , usado para tratar doenças como o ebola. A pesquisa pela vacina mais avançada parece ser a coordenada pela Universidade Oxford, no Reino Unido, com distribuição prevista para meados de 2021, se tudo sair conforme o previsto.
A preocupação do governo francês é que os dados iniciais do estudo levem a uma corrida pelo cigarro, o que seria uma consequência surrealista da pandemia que já fez 3 milhões de vítimas pelo mundo. O novo estudo deve trazer respostas em três semanas.