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O surto do ebola está de volta — mas não deve ganhar o mundo

Mais letal do que o novo coronavírus, o ebola tem menos tempo para se disseminar porque mata o hospedeiro. Porém, já existe vacina

Ebola: vírus causa febre hemorrágica com alta letalidade para humanos (Getty Images/Getty Images)

Lucas Agrela

Publicado em 3 de junho de 2020 às 08h58.

Última atualização em 3 de junho de 2020 às 09h11.

Em meio ao combate da pandemia do novo coronavírus , a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou um novo surto do vírus ebola na República Democrática do Congo. O governo informou ter registrado seis casos da doença, que causaram quatro mortes.

"Isso é um lembrete de que a Covid-19 não é a única ameaça de saúde que as pessoas enfrentam. Apesar de muito da nossa atenção estar na pandemia do novo coronavírus, a OMS continua a monitorar e responder a muitas outras emergências de saúde", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. De 2013 e 2016, a febre hemorrágica ebola matou 11,3 mil pessoas no no oeste africano.

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Especialistas consultados por exame. afirmam que um surto de ebola não ganhou o mundo no passado porque, diferentemente do novo coronavírus, ele é mais letal e tem um período curto de incubação.

Por isso, logo os sintomas aparecem e as pessoas são isoladas para evitar a disseminação do vírus. Além disso, com as restrições a voos internacionais e as medidas de distanciamento social recomendadas para conter o novo coronavírus, o vírus tem menor risco de se propagar -- ainda que mereça a atenção de autoridades de saúde globais.

“Ser letal para o hospedeiro é ruim para qualquer vírus porque ele precisa se reproduzir. O ebola é assim mata mais e tem tempo de incubação curto. Não dá tempo de a pessoa infectar outros hospedeiros e, por isso, o vírus fica contido na África”, afirma o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Ebola: vírus causa febre hemorrágica com alta letalidade para humanos (Getty Images/Getty Images)

De acordo com Luiz Vicente Rizzo, diretor de pesquisa do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, não é intuito de qualquer vírus matar o hospedeiro. “Ele nem sabe que a gente existe. Para o vírus, somos depositários para se replicar. Não há interesse biológico em matar. 7% do nosso genoma é de vírus. Ele um dia foi vírus e agora se embutiu na gente. Não é efetivo para o vírus ser mortal”, disse.

Diferentemente do que acontece com o novo coronavírus, já existe uma vacina contra o vírus ebola. Desenvolvida e oferecida em tempo recorde, em cinco anos (considerando um período de 20 anos de pesquisas), a vacina já foi aplicada a mais de 200 mil pessoas e foi aprovada tanto pelos Estados Unidos quanto pela União Europeia por suas respectivas agências de saúde. “A autorização de comercialização da Comissão Europeia para a Ervebo é o resultado de uma colaboração sem precedentes, da qual o mundo inteiro deve se orgulhar”, afirmou, no fim de 2019, Ken Frazier, presidente da americana Merck (conhecida no Brasil como MSD), em um comunicado.

Uma vacina também é apontada por especialistas como a principal arma contra o novo coronavírus. Com ela, a população global poderá atingir o que se chama de imunidade de rebanho, um conceito de erradicação de doenças infecciosas devido à imunização de grande parte da população com vacinas e de uma pequena parcela que foi infectada e sobreviveu. Para Eduardo Medeiros, professor de infectologia da Unifesp, o novo coronavírus não pode ser comparados a outras doenças do ponto de vista de imunização da população. “A única solução para conter a covid-19 é a vacina, não há outra. Se você esperarmos pela imunidade de rebanho, teremos milhões de mortes. A mortalidade necessária para isso seria um absurdo”, disse Medeiros.

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