Movimento propõe lockdown de 21 dias para evitar mortes e salvar economia
O #AbrilPelaVida pede por lockdown e auxílio emergencial de parcela única; especialistas acreditam que 22 mil vidas podem ser poupadas, além de uma melhora na economia e diminuição de pacientes nos leitos
Laura Pancini
Publicado em 7 de abril de 2021 às 07h00.
Caso haja um lockdown nas próximas três semanas, será possível salvar 22.000 vidas e evitar a piora da economia no Brasil , de acordo com carta aberta do movimento #AbrilPelaVida , organizado pela ImpulsoGov, organização sem fins lucrativos que coleta e analisa dados dos serviços de saúde.
Enquanto muitos países observam seus casos confirmados de coronavírus descerem com o avanço da campanha de vacinação, o Brasil continua em um período de turbulências com mais de 13 milhões de casos confirmados para 9,46% da população vacinada com ao menos uma dose.
Especialistas vêm alertando desde o início de 2021 sobre um eventual colapso do sistema de saúde e do funerário, levando em consideração variáveis como o avanço da mutação brasileira P.1 e a abertura de escolas e comércios.Hoje, observa-se uma média móvel de aproximadamente 3.000 mortes por dia e a previsão é de que eventualmente iremos atingir a marca de 5.000 mortes diárias, de acordo com pesquisa da Fiocruz. Só nesta terça-feira (06) foram registradas 4.195 óbitos por coronavírus no país.
Apesar dos números alarmantes, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou em entrevista no último sábado (3) que "evitar o lockdown é a ordem", mas que era necessário que a população fizesse "o dever de casa" e aderisse às medidas de distanciamento social. Fatores econômicos, porém, impedem muitas pessoas de ficarem em casa.
Para evitar um colapso ainda maior no sistema de saúde no Brasil, especialistas do movimento #AbrilPelaVida argumentam que o quarto mês do ano será peça chave para virar o jogo e salvar vidas.
O que é o movimento #AbrilPelaVida?
Direcionada ao presidente, governadores e prefeitos, a carta tem assinatura de especialistas de saúde pública, economia e políticas públicas. Nomes como José Gomes Temporão, ex-Ministro da Saúde (2007-2010); Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES; Acacio Sousa Lima, presidente da Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil, e Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, são alguns dos que assinam ela.
Luiza Amorim, Coordenadora do Movimento #AbrilPelaVida, disse que os estudos realizados pela Impulso indicam que “abril seria um mês chave para conseguir virar o jogo no enfrentamento da pandemia” no Brasil e que era necessário tomar medidas imediatas.
Na carta, quem assina realça que o descontrole da pandemia está levando: 1) ao sobrecarregamento do sistema de saúde, incapaz de atender toda a demanda de pacientes com covid-19, além de outras patologias; 2) a “dilapidação” de uma “já fragilizada economia” levando em consideração a desconfiança econômica de consumidores e investidores internacionais e a longa duração da crise.
Os estudos desenvolvidos pela organização também indicam que o avanço da vacinação no país terá impactos positivos a partir do mês de maio. “Em poucas semanas, teremos vacinado os grupos prioritários mais relevantes, em especial os idosos. Isso vai fazer com que a nossa taxa de óbitos tenha uma redução significativa”, explica João Abreu, Diretor-Executivo da ImpulsoGov.
Porém, Abreu ressalta como o lockdown é essencial até em casos como esse: “Se o vírus continuar descontrolado, nem mesmo a vacina conseguirá diminuir o número [de óbitos].” Portanto, a Impulso Gov propõe três semanas de lockdown por todo o país, coordenado pela União, Estados e Municípios brasileiros, para reduzir a circulação de pessoas e, consequentemente, do vírus.
“Medidas mais brandas arrastam a economia de forma indefinida, enquanto medidas curtas e rígidas tornam possível a recuperação da atividade econômica antes”, comenta Abreu. Na carta aberta, há também o pedido por um novo auxílio emergencial de parcela única: para pessoas, o equivalente a uma cesta básica em seu estado; para micro e pequenas empresas, um auxílio no valor de mil reais.
“O auxílio emergencial é fundamental para garantir a eficácia do lockdown, para que as pessoas possam ficar em casa em segurança, fora da situação de risco e vulnerabilidade econômica”, explica Amorim. De acordo com a carta, 67 milhões de indivíduos e 3,3 milhões de estabelecimentos seriam elegíveis para o benefício. “Seriam necessários cerca de 36 bilhões de reais para financiar o auxílio para indivíduos e 3,3 bilhões para as pequenas e micro empresas”, diz o texto.
O #AbrilPelaVida acredita que a adoção de sua estratégia levará a 22 mil vidas salvas, a “neutralização de perdas econômicas” por conta do auxílio emergencial, a diminuição de pacientes nos leitos e a redução da probabilidade de novas variantes surgirem.
O movimento está dialogando com governos específicos ou grupos de governos, para garantir um diálogo e mostrar apoio na incrementação dessas medidas. Por enquanto, apenas a Frente Nacional dos Prefeitos publicou uma nota sobre o #AbrilPelaVida. Nela, eles afirmam: “Prefeitas e prefeitos, estão abertos, como sempre estiveram, a se reunir com os governadores e a presidência da República para trabalhar nesse tema. O Brasil precisa de articulação e coordenação nacional.”
Abreu, Amorim e todos do movimento contam, acima de tudo, com o apoio público. “Se chegarmos a 100.000 apoiadores, já é um número importante para mostrarmos ainda mais para o governo que as pessoas apoiam essas medidas”, diz Amorim. Na tarde de terça-feira (06), 50.014 pessoas já haviam assinado a carta, e o número de assinaturas cresce a cada minuto—entre os dias 5 e 6 de abril, por exemplo, mais de 20.000 de pessoas assinaram em 24 horas.