Mais um? Novo tipo de coronavírus pode infectar células humanas
Chamado de SADS-CoV, este novo coronavírus causa problemas gastrointestinais em porcos. Ainda não foram reportados casos em humanos
Rodrigo Loureiro
Publicado em 17 de outubro de 2020 às 07h00.
O pesadelo do coronavírus parece não ter fim. Nesta semana, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, descobriram que uma cepa de um novo tipo de coronavírus que afeta porcos e pode infectar humanos.
Chamado de SADS-CoV (não confunda com SARS-CoV-2), coronavírus suíno pode ser replicado de forma eficiente em células do fígado e do intestino de humanos, além de células presentes nas vias aéreas. Os efeitos da doença nas pessoas ainda são desconhecidos pela falta de casos reportados.
O que se sabe até agora é que se trata de um alfacoronavírus da mesma família que o SARS-CoV-2, que causa problemas respiratórios. Em suínos, o SADS-CoV é responsável por complicações gastrointestinais, que geram sintomas de diarreia e vômito. Isso pode ser mortal para a saúde de leitões.
Este é um vírus diferente do que já matou milhões de animais na China e que começou a se espalhar pelo restante do mundo. Na ocasião, se tratava de um vírus, da família Asfarviridae, que infecta apenas porcos e javalis, não é parente do coronavírus e não atinge os humanos. Parece também ser diferente de outro que também encontrado em porcos e derivado do H1N1.
"Enquanto muitos investigadores se concentram no potencial emergente dos betacoronavírus como SARS e MERS, os alfacoronavírus podem ser igualmente preocupantes para a saúde humana”, afirmou Ralph Baric, professor de epidemiologia da Escola de Saúde Pública Global da Universidade da Carolina do Norte.
A preocupação é de que, mesmo sem casos registrados até o momento, exista a possibilidade do surgimento de uma nova pandemia, conforme aponta o estudo de Caitlin Edwards, especialista em pesquisa e mestrando em saúde pública na Universidade da Carolina do Norte.
A pesquisa testou vários tipos de células e as infectou com uma forma sintética do SADS-CoV para entender como elas se comportariam. Os resultados apontam que uma grande quantidade de células de mamíferos, incluindo humanos, são suscetíveis à infecção. São células principalmente encontradas no pulmão e no intestino.
"É impossível prever se este vírus poderia emergir e infectar populações humanas. No entanto, a ampla gama de hospedeiros do SADS-CoV, juntamente com a capacidade de se replicar no pulmão humano primário e em células entéricas, demonstra risco potencial para eventos futuros de emergência em populações humanas e animais”, afirma Edwards.
Tem cura?
A pesquisadora explica que a imunidade de rebanho, que geralmente impede que humanos contraiam novas doenças encontradas em animais, pode não ser uma técnica efetiva para evitar a propagação do SADS-CoV, já que ainda não há uma imunidade contra o vírus. Em decorrência disso, Edwards e outros cientistas estão estudando formas de tratar a possível infecção.
Uma das saídas seria com o uso do antiviral remdesivir, utilizado para combater todos os coronavírus conhecidos e que foi usado até mesmo pelo presidente Donald Trump em um caso de covid-19. O uso do medicamento apresentou bons resultados contra o SADS-CoV, mas ainda faltam mais testes. O problema é que o remédio não é nem um pouco barato.
"Dados promissores com remdesivir fornecem uma opção potencial de tratamento no caso de um evento de transbordamento humano", disse a pesquisadora. "Recomendamos que tanto os trabalhadores suínos quanto a população suína sejam monitorados continuamente para indicações de infecções SADS-CoV para prevenir surtos e perdas econômicas massivas."