Filme Gravidade desmonta euforia científica com drama e horror no vácuo espacial
Longa de Alfonso Cuarón tem Sandra Bullock e George Clooney no elenco
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2013 às 08h53.
"Minha primeira vista um panorama do oceano brilhante e profundamente azul, com tons de verde, cinza e branco foi de atóis e nuvens. Havia um fino halo azul e, além dele, espaço negro. Prendi minha respiração, mas faltava algo Eu me senti estranhamente vazio. Lá estava aquele tremendo espetáculo visual, mas observado em silêncio. Não havia nenhum grande acompanhamento musical; nenhuma sonata triunfal."
Charles Walker, engenheiro e astronauta americano
A uma distância de mais de 300 quilômetros acima de nossas cabeças, além da Mesosfera, um ambiente hostil, fora do controle da ciência humana, repousa em perfeito silêncio. Ali, um pedaço de metal exposto à luz do Sol pode atingir 260 graus Celsius, obrigando astronautas a manusear ferramentas com grossas luvas e isolantes térmicos. Na sombra, a temperatura cai a -100 graus Celsius. Este é o cenário de Gravidade.
Dirigido por Alfonso Cuarón, o filme estreia no Brasil dia 11 de outubro, e conta a história dramática de um grupo de astronautas numa missão de reparo do telescópio Hubble. A expedição rapidamente se transforma numa corrida pela sobrevivência, quando uma chuva de detritos atinge a nave e seus tripulantes.
O drama envolve os protagonistas Ryan Stone, engenheira biomédica em sua primeira caminhada espacial, vivida por Sandra Bullock, e Matt Kowalski, comandante falastrão, interpretado por George Clooney, na última jornada fora da Terra antes da aposentadoria.
É estranho caracterizar Gravidade como um filme de ficção científica. O nível de precisão e profundidade na reprodução de detalhes o coloca numa outra categoria, que talvez possa ser chamada de cosmodrama, realismo espacial, ou terror psicológico científico. O espectador enxerga de perto cada pedacinho das naves em sua complexidade absurda; as texturas de seus painéis solares, dobraduras e amassados nos manuais de instrução, o vermelho vivo dos botões de emergência.
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O mesmo vale para os astronautas, expostos em sua intimidade na tela, enquanto flutuam pelo vazio. As náuseas que atacam a doutora Stone enquanto ela tenta, sem sucesso, reparar um dos painéis do Hubble é perfeitamente compreensível. O terror dos astronautas na luta contra o vácuo rapidamente atinge o espectador, colado ao assento da poltrona do cinema pela mesma força que tanto falta aos protagonistas do filme.
Talvez nem fosse necessário tanto, mas, para garantir o efeito, o diretor coloca a câmera dentro do capacete dos personagens em algumas cenas, aguçando a sensação de desespero enquanto o contador de oxigênio se aproxima do zero.
A época de lançamento do filme também é certeira. Com inúmeras notícias de lançamentos bem sucedidos da SpaceX, empresa de foguetes do bilionário Elon Musk, e a aproximação das primeiras viagens turísticas suborbitais, a trama de Cuarón nos lembra que o espaço também é um lugar aterrorizante para se estar. Apesar de estonteante, o panorama da Terra, coroada pelas luzes esverdeadas da aurora boreal, aterroriza em seu contraste com a mancha negra do espaço.
As camadas de significados do filme são muitas, e certamente cada espectador se identificará com alguma delas. Graças às atuações de Clooney e Bullock, o filme supera o simples horror científico e provoca reflexões sobre a condição humana, seus limites e o desapego ao plano material. Há também os dramas terrenos da personagem de Bullock, que a acompanham em sua jornada pelo vácuo e pelas claustrofóbicas câmaras de módulos espaciais.
Por fim, Gravidade rende uma bela homenagem ao Planeta Terra. Em seu retrato realista e assustador do cenário além da atmosfera respirável, o longa de Cuarón desperta um enorme alívio naqueles que têm os pés no chão, proporcional à força de atração exercida por este belo e amigável planeta.