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Cientista chinês revela segunda gravidez com genes alterados

O trabalho de He agora enfrenta acusações de fraude, três investigações na China e pedidos de renomados pesquisadores chineses para que ele seja punido

(Bloomberg/Reprodução)

Lucas Agrela

Publicado em 29 de novembro de 2018 às 11h27.

O pesquisador chinês que afirma ter alterado os genes de gêmeas defendeu seu trabalho nesta quarta-feira e revelou uma segunda gravidez em meio à crescente condenação do polêmico projeto.

He Jiankui, o cientista de Shenzhen que chocou o mundo nesta semana com sua revelação, falou pela primeira vez em uma conferência sobre genética em Hong Kong e disse que seu estudo está atualmente em pausa para monitorar o desenvolvimento das gêmeas. Ele afirmou que elas nasceram normais e saudáveis com genes editados, em uma tentativa de torná-las resistentes ao vírus HIV. Seu teste preparou embriões de sete casais para implantação, o que resultou em uma segunda gravidez, que está em estágio inicial.

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Em sua primeira aparição pública desde que revelou seu experimento na segunda-feira, seus colegas fizeram muitas perguntas aprofundadas. He recebeu críticas das comunidades científicas chinesa e global por um trabalho que é proibido nos EUA e em muitos outros países. Suas revelações provocaram um forte debate sobre os limites éticos da edição de genes e foram feitos apelos para uma regulamentação mais estrita da tecnologia de edição de genes, que está se desenvolvendo rapidamente.

Na quarta-feira, He defendeu seu trabalho e disse que os casais envolvidos no estudo foram informados dos riscos da remoção do gene CCR5, que ele eliminou nas gêmeas usando a poderosa ferramenta de edição de genes Crispr, na tentativa de torná-las resistentes ao vírus HIV.

“Sinto-me orgulhoso”, disse ele sobre o nascimento das gêmeas e acrescentou que o uso da tecnologia para ajudar pessoas com doenças genéticas significa “compaixão”.

Acusações

O trabalho de He agora enfrenta acusações de fraude, três investigações na China e pedidos de renomados pesquisadores chineses para que ele seja punido. Um alto funcionário do governo chinês disse que o trabalho de He é ilegal.

A Harmonicare Medical Holdings, dona do hospital em que, segundo o pesquisador, ele obteve aprovação para seu trabalho, afirmou em declaração na terça-feira que acredita que assinaturas em uma solicitação ao comitê de ética médica do hospital foram falsificadas e que o comitê nunca se reuniu para avaliar a proposta de He. O hospital de Shenzhen nunca participou da operação clínica relacionada aos bebês com genes editados e as gêmeas não nasceram nas instalações, afirmou a empresa.

Na terça-feira, no mais claro sinal de que o governo chinês considerava o projeto de He ilegal, o vice-ministro da Ciência e Tecnologia, Xu Nanping, afirmou em sessão informativa à imprensa em Pequim que a China proibiu o uso de edição genética para fins de fertilidade em 2003.

Mas a lei chinesa não menciona o uso da Crispr, a revolucionária técnica de edição de genes que He usou para alterar o código genético das gêmeas. Em contrapartida, os EUA e muitos outros países restringiram estritamente o uso da Crispr. O mais recente pronunciamento do governo chinês, um documento de 2017 do Ministério da Ciência e Tecnologia, dizia apenas que a pesquisa de edição de genes envolve grandes riscos e exige supervisão rigorosa.

Em seu briefing da terça-feira, o vice-ministro Xu fez alusão aos debates internos no governo chinês sobre como áreas de pesquisa em expansão, como a biotecnologia e a inteligência artificial, deveriam ser regulamentadas. A China almeja ser líder nas tecnologias que definem o século 21, mas uma regulamentação ambígua corre o risco de gerar casos como o de He.

“Somos conscientes de que é uma faca de dois gumes. Às vezes nos sentimos bastante ansiosos”, disse Xu. “Para ser honesto ainda não temos uma visão completamente clara sobre essa questão. Nós sabemos que haverá alguns inconvenientes, mas nós também não ousamos -- porque haverá inconvenientes -- evitar tecnologias ou avanços.”

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