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Uma sobremesa de tradição milenar para Santa Bárbara na Cisjordânia

Local onde viveu a santa católica, na Cisjordânia, vivem cristãos e muçulmanos que se reúnem em festividades próximas ao Natal

Santas católicas, com Santa Barbara em destaque: filha de um pagão, a menina se converteu em segredo ao cristianismo, quando era criança (PhotoFires/Getty Images)

Santas católicas, com Santa Barbara em destaque: filha de um pagão, a menina se converteu em segredo ao cristianismo, quando era criança (PhotoFires/Getty Images)

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AFP

Publicado em 20 de dezembro de 2019 às 13h08.

Última atualização em 20 de dezembro de 2019 às 13h09.

São Paulo — Sem perder a concentração um minuto sequer, Maryam Salem mexe o conteúdo de uma panela enorme: trigo, especiarias, muito açúcar e amêndoas.

As festas de Natal estão se aproximando, mas é em homenagem a Santa Bárbara que esta cristã do vilarejo palestino de Abud prepara esta sobremesa típica.

Maryam primeiro mistura o trigo em água por 24 horas. Depois aquece em fogo baixo e adiciona anis, erva-doce, canela, amêndoas, uvas e muito açúcar.

"Até que tudo esteja bem misturado", diz ela. Essa sobremesa é preparada por ocasião de 17 de dezembro, data quando se lembra de Santa Bárbara, que se recusou a abdicar de sua fé no século III, de acordo com o calendário cristão ortodoxo.

Filha de um pagão, a menina se converteu em segredo ao cristianismo. Seu pai descobriu sua nova religião e a matou, para depois morrer atingido por um raio divino.

Para o padre Emmanuel Awwad, que oficia na igreja ortodoxa grega de Abud, Cisjordânia ocupada, os detalhes dessa história sugerem que a cena final ocorreu no vilarejo palestino. Outros o localizam em Baalbeck, no atual Líbano.

Procissão e velas

Há 12 anos Maryam Salem prepara a sobremesa associada a esta festividade. As celebrações começam na noite anterior, com uma oração na igreja.

Sacerdotes e habitantes, cristãos e muçulmanos, descem pelas ruas da cidade, entre oliveiras e cactos, enquanto os jovens tocam gaitas de foles e tambor.

A procissão termina no pé da tumba da santa, em uma colina rochosa de onde, quando o céu está limpo, é possível ver o Mar Mediterrâneo.

Os palestinos acendem velas na abóboda escura para honrar a memória de Santa Bárbara. Uma maneira de "reafirmar seus laços com esta terra", diz o padre Awwad.

Nos assentamentos israelenses nos territórios palestinos - que o direito internacional considera ilegais - existem cerca de 400.000 colonos que coexistem com dificuldade com mais de 2,7 milhões de palestinos.

Em 2002, durante a Intifada Palestina, as forças israelenses bombardearam o túmulo de Santa Bárbara, argumentando que "era usado para preparar operações de comando", disse Hanna Jury, chefe do conselho municipal de Abud.

O exército, em seguida, pediu desculpas, dizendo que não tinha tomado em consideração o significado religioso do local.

Para Hamzah al Aqrabawi, pesquisador do patrimônio cultural palestino, a sobremesa de Santa Bárbara não é reservada apenas aos cristãos.

Os muçulmanos também a desfrutam depois de seis dias de jejum ou em outras ocasiões. As festividades de Santa Barbara "são um ritual popular que os agricultores palestinos mantêm" há cerca de 1.800 anos, acrescentou.

Com apenas oito anos de idade, e envolto em um keffiyej — o tradicional lenço — Riad Zaarur espera a sobremesa sr servida. "É o melhor durante essas festas", diz ele, sorrindo.

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