Casual

Premiado em Veneza, "Miss Violence” aborda o tabu do incesto

Drama grego do diretor Alexandros Avranas conquistou, em 2013, dois merecidos troféus no Festival de Veneza

Alexandros Avranas com o Leão de Prata de melhor direção pelo filme "Miss Violence", durante o Festival de Veneza de 2013 (Andreas Rentz/Getty Images)

Alexandros Avranas com o Leão de Prata de melhor direção pelo filme "Miss Violence", durante o Festival de Veneza de 2013 (Andreas Rentz/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2014 às 16h20.

São Paulo - Há muito tempo, a Grécia ocupa o imaginário como berço do teatro, da filosofia e da própria civilização ocidental. Nos últimos anos, o país europeu tem tido sua imagem abalada, descrita como território de uma crise econômica sem fim.

As duas Grécias, de várias maneiras, se cruzam em Miss Violence, drama do jovem diretor Alexandros Avranas que conquistou, em 2013, dois merecidos troféus no Festival de Veneza: o Leão de Prata de melhor direção e a Copa Volpi de melhor ator para o impressionante Themis Panou, um ator originário do teatro que interpreta o patriarca de uma família disfuncional.

O filme estreia em São Paulo, Recife e Fortaleza.

Há um clima nelson-rodriguiano nesta história de um clã dominado pela figura de um patriarca (Themis Panou), que vive com a mulher (Reni Pittaki), a filha Eleni (Eleni Roussinou) e quatro crianças, que poderiam ser seus netos.

O homem, de meia-idade, sai todos os dias para trabalhar. As crianças vão à escola e as duas mulheres cuidam da casa.

A máscara de normalidade da família começa a ruir quando ocorre o suicídio de uma das meninas, Angeliki (Chloe Bolota), no dia de seu 11º aniversário, e o serviço social investiga o fato.

//www.youtube.com/embed/4txNVRIpcok

A tensão permanente é construída com muita eficácia pelo diretor, a partir de uma fotografia de cores dessaturadas, em tons marrons e, mais ainda, por uma direção de atores que trabalha no sentido de desdramatizar a expressão dos sentimentos. 

Na verdade, no entanto, transmite com precisão a incrível repressão e o pacto de silêncio diante das relações anormais que vigoram dentro da família.

Afinal, as gestações de Eleni se sucedem sem que haja nenhuma outra figura masculina no clã, exceto o pai. E as meninas veem com medo sua aproximação da puberdade.

Não pode deixar de ser incômoda a crueza com que os personagens infantis são submetidos a situações de humilhação ou de violência.

Na coletiva de apresentação do filme, em Veneza, o diretor inclusive comentou este assunto, esclarecendo que a temática de sua história havia sido exaustivamente debatida tanto com seus jovens atores, quanto com seus pais, para garantir que nenhum limite indesejável fosse ultrapassado.

E que sua intenção, ao fazer o filme, era no sentido de uma denúncia e tomada de consciência em relação à violência doméstica escondida entre as quatro paredes dos lares. Ao pôr o dedo na ferida, o diretor expõe um mal que é discutido hoje nos quatro cantos do mundo. 

E, por mais surreal que o filme possa parecer, casos verídicos recentes, na Europa e nos EUA, fornecem a este drama forte, rigoroso, estética e dramaticamente muito bem-construído, uma trágica atualidade.

Acompanhe tudo sobre:ArteCinemaDramasEntretenimentoFilmesServiços

Mais de Casual

Olimpíadas de Paris: atletas brasileiros são verdadeiros heróis e precisam de mais investimento

Castelões, a pizzaria mais antiga de São Paulo, completa 100 anos

Os melhores hotéis do Rio de Janeiro segundo ranking EXAME 2024

Nova temporada de Emily in Paris: 7 restaurantes em SP que vão te transportar para a França

Mais na Exame