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Jennifer Egan lança “A Visita Cruel do Tempo”

Em seu novo livro, a norte-americana Jennifer Egan faz um deslumbrante caleidoscópio da cultura pop dos últimos 40 anos (e dos próximos dez)

A jornalista e escritora Jennifer Egan. Seu romance se constrói em torno de personagens secundários do showbizz (David Shankbone/Creative Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de março de 2012 às 11h32.

São Paulo - Cruel, torcida brasileira: Jennifer Egan é cruel. Escreve tão bem que chega a irritar; seu A Visita Cruel do Tempo dá vontade de esfregar nas fuças da crítica que, vez em quando, decreta preguiçosamente o “fim do romance”.

Miss Egan, 49 anos, jornalista especializada em música, prova ser possível reinventar o gênero, oxigenando-o com temas novos (os personagens secundários da música pop) com altas octanagens de ironia e melancolia – ao mesmo tempo que mostra um tarantinesco senso de construção de cena, personagem e diálogo. Para aspirar à condição de clássico contemporâneo, o livro remete à tradição.

Relê muito peculiarmente Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, e seu tópico principal é mais velho do que a literatura: a passagem do tempo.

“Jovens, envelheçam” – eis um possível mote rodrigueano para o livro, que levou o Pulitzer de 2011, entre outros prêmios. Egan constrói a narrativa entre a São Francisco dos anos 1970 e a Nova York de cerca de 2020, ao redor da ascensão e queda da fictícia banda punk The Conduits. Sempre de uma perspectiva lateral, de olho nos personagens menores à medida que trocam sonhos, loucuras, cabelos longos e guitarras por rugas, carecas, panças, desastres e leitos de hospital.

“Ciclos de contos”

O painel é formado por Sasha, a cleptomaníaca assessora de Bennie, um superprodutor de música pop, responsável por descobrir os Conduits; a turma adolescente de Bennie, músicos e fãs de música que orbitam Lou, um figurão da indústria pop dos anos 1970; os filhos e as namoradas de Lou, seduzidos/massacrados por seu lifestyle hollywoodiano... Enfim: fama e obscuridade, efemeridade e permanência, princípios motores da cultura pop, são as forças que agitam esse caleidoscópio.


O virtuosismo de Egan vai e volta no tempo, mudando a cada um dos 13 capítulos o foco sobre dado personagem (a própria autora já chamou o romance de “ciclo de contos”, no que lembra obras polifônicas, como Três Tristes Tigres, de Guillermo Cabrera Infante, e Os Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño). Narra na primeira pessoa, na terceira, na dificílima segunda (!), quase sempre lançando mão do flaubertiano estilo transitivo indireto livre.

Egan chega a usar um divertido esquema de PowerPoint para devassar a mente de uma menina de 12 anos. Porém, diferentemente do que pode parecer, essa verdadeira máquina de pinball narrativa nunca cansa o leitor – por causa do amor com que Egan magnetiza seus tragicômicos personagens. Ao fim da leitura, como todo clássico pop, A Visita Cruel do Tempo tem o misterioso condão que nos faz pedir e pedir: de novo.

O Livro

A Visita Cruel do Tempo, de Jennifer Egan. Intrínseca, 335 páginas, R$ 29 (e-book: R$ 19,90).

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São Paulo - Cruel, torcida brasileira: Jennifer Egan é cruel. Escreve tão bem que chega a irritar; seu A Visita Cruel do Tempo dá vontade de esfregar nas fuças da crítica que, vez em quando, decreta preguiçosamente o “fim do romance”.

Miss Egan, 49 anos, jornalista especializada em música, prova ser possível reinventar o gênero, oxigenando-o com temas novos (os personagens secundários da música pop) com altas octanagens de ironia e melancolia – ao mesmo tempo que mostra um tarantinesco senso de construção de cena, personagem e diálogo. Para aspirar à condição de clássico contemporâneo, o livro remete à tradição.

Relê muito peculiarmente Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, e seu tópico principal é mais velho do que a literatura: a passagem do tempo.

“Jovens, envelheçam” – eis um possível mote rodrigueano para o livro, que levou o Pulitzer de 2011, entre outros prêmios. Egan constrói a narrativa entre a São Francisco dos anos 1970 e a Nova York de cerca de 2020, ao redor da ascensão e queda da fictícia banda punk The Conduits. Sempre de uma perspectiva lateral, de olho nos personagens menores à medida que trocam sonhos, loucuras, cabelos longos e guitarras por rugas, carecas, panças, desastres e leitos de hospital.

“Ciclos de contos”

O painel é formado por Sasha, a cleptomaníaca assessora de Bennie, um superprodutor de música pop, responsável por descobrir os Conduits; a turma adolescente de Bennie, músicos e fãs de música que orbitam Lou, um figurão da indústria pop dos anos 1970; os filhos e as namoradas de Lou, seduzidos/massacrados por seu lifestyle hollywoodiano... Enfim: fama e obscuridade, efemeridade e permanência, princípios motores da cultura pop, são as forças que agitam esse caleidoscópio.


O virtuosismo de Egan vai e volta no tempo, mudando a cada um dos 13 capítulos o foco sobre dado personagem (a própria autora já chamou o romance de “ciclo de contos”, no que lembra obras polifônicas, como Três Tristes Tigres, de Guillermo Cabrera Infante, e Os Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño). Narra na primeira pessoa, na terceira, na dificílima segunda (!), quase sempre lançando mão do flaubertiano estilo transitivo indireto livre.

Egan chega a usar um divertido esquema de PowerPoint para devassar a mente de uma menina de 12 anos. Porém, diferentemente do que pode parecer, essa verdadeira máquina de pinball narrativa nunca cansa o leitor – por causa do amor com que Egan magnetiza seus tragicômicos personagens. Ao fim da leitura, como todo clássico pop, A Visita Cruel do Tempo tem o misterioso condão que nos faz pedir e pedir: de novo.

O Livro

A Visita Cruel do Tempo, de Jennifer Egan. Intrínseca, 335 páginas, R$ 29 (e-book: R$ 19,90).

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