Lollapalooza: Vivo faz ação de equidade racial (Mauricio Santana/Getty Images)
Mariana Fonseca
Publicado em 6 de abril de 2019 às 13h26.
O festival de música Lollapalooza Brasil 2019 encerrou ontem (5) sua primeira noite de atrações. Alguns dos shows mais comentados foram os do grupo Tribalistas, de Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Marisa Monte; o do cantor pop Sam Smith; o da banda Arctic Monkeys; e o do DJ Tiësto.
O evento vai até o próximo domingo (7), no Autódromo de Interlagos (São Paulo), ocupando 600 mil metros quadrados com quatro palcos. Hoje, há atrações como Carne Doce; Liniker e os Caramelows; Snow Patrol; Bring Me The Horizon; Lenny Kravitz; Post Malone; Kings of Leon; e Steve Aoki.
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O primeiro dia de #LollaBR foi assim. Dê uma olhada e se prepare: hoje tem muito mais!
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Abaixo, confira as resenhas sobre os principais shows da noite passada:
A banda começou o show com fortes mensagens políticas e a presença de brasileiros indígenas no palco. "Demarcação já!", pediram os ativistas. Em determinado momento, público vaiou o presidente Jair Bolsonaro.
É difícil julgar como a saída de um integrante afeta uma banda consolidada como o Foals, mas parece que a ausência do baixista e fundador do grupo Walter Gervers fez bem para o conjunto conhecido pela rigidez de seu rock alternativo (um dos termos usados para descrevê-los é math rock). Quem fez as novas linhas de baixo, com um groove pouco visto nos discos anteriores, foi o próprio vocalista e compositor principal, Yannis Philippakis.
Everything Not Saved Will Be Lost Part 1 compõe o núcleo do show e, com as mensagens apocalípticas das letras, funde a rigidez de arranjos que marcou a carreira desde o primeiro álbum, Antidotes (2008) até What Went Down (2015), mas acrescenta as linhas de baixo mais soltas com camadas potentes de sintetizador. É visível a reinvenção de uma banda já consolidada do indie rock.
Os Tribalistas chegaram como uma incógnita a um festival de identidade indie tão bem definida. Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Marisa Monte, a princípio, estariam distante da proposta eletro-rock que traz a maioria das atrações desde o início da tarde. Por isso, o que aconteceria no palco e na plateia criava expectativa.
O trio lançou um primeiro disco há mais de 15 anos e jamais havia saído em turnê. Seus integrantes fizeram charme, se esconderam de entrevistas e deram a entender que o projeto era um ato isolado. Depois de um segundo álbum elogiado e com o qual lotaram estádios em 2018, lá estavam eles, tocando para dois públicos. Os fãs de 2002 e os filhos desses fãs.
Interlagos anoiteceu no momento em que eles subiram ao palco Bud. E, como se tivessem de se apresentar a uma nova audiência, abriram com Tribalistas, a música, um certo tocar de trombetas para si mesmos.
O som falhava, algo parecia estar sendo ajustado, algumas dessas falhas digitais que picotam tudo. A plateia já estava envolvida na segunda canção, Carnavália. Quando a terceira começou, o som desandou. Sumiu totalmente e depois voltou irregular, alto demais, com alguns gritos de plateia que pareciam gravados em um estádio, já que não existiam antes de o som sumir.
A canção "É Você" é doce, suave e faz pensar na relutância dos três em manter frequente o projeto. Arnaldo, Marisa e Carlinhos não parecem querer atender a uma demanda por Tribalistas que viria inevitavelmente. Juntos, unem três tribos (a música brasileira delicada de Marisa, a Bahia festiva de Brown e o pensamento roqueiro paulistano de Arnaldo) que fizeram surgir uma outra coisa sem nome. Não será a razão de suas vidas porque eles não querem que isso aconteça.
Em 2015, Sam Smith era uma das principais estrelas da música pop global quando tocou no Rock in Rio logo antes de ninguém menos do que Rihanna. Naquele momento, Stay With Me tinha alta rotação nas rádios de todo o mundo e ele, muito jovem, aparecia como um prodígio de voz angelical e baladas sofridas. No palco do Lollapalooza Brasil, ele chegou como um sujeito mais maduro e com as canções mais recentes produzidas com nomes como Disclosure, Calvin Harris e Normandi, que emprestam ao show uma fluidez diferente.
De lá para cá, ele lançou disco, rodou o mundo, se descolou um pouco da imagem construída de sofredor do amor e recentemente se identificou como pessoa não binária (nem homem nem mulher). A questão que se coloca ao assistir ao show de 2019 é se o caráter de novidade que sua voz imprimia há quatro anos era o que fazia Sam Smith fazer um show perto da perfeição. Pode ser também o repertório pouco inspirado de The Thrill Of It All, de 2017, mas a impressão é que o show de 2015 era mais poderoso, mesmo com truques como acrescentar à apresentação alguns covers. Para fazer justiça, o álbum novo aparece em menos da metade do show.
A vibração romântica que brilha nos hits maiores, como I'm Not The Only One e Too Good At Goodbyes, se torna cansativa pelo caráter ordinário dos arranjos da banda, sempre acomodada atrás dos vocais dele e das parceiras de backing vocal.
Há um passeio por um R&B inofensivo em alguns momentos, e um par de investidas no house music que esquentam as coisas um pouco, mas com as baladas na linha de frente o show custa a decolar. Mesmo quando ele pede, emocionado, para a plateia repetir com ele alguns coros, a resposta é fria. Ainda assim, o Palco Onix e sua ladeira que transformam o espaço num imenso auditório natural estavam tomados de gente.
Mas não seria mau para Sam Smith tomar umas aulas com Lulu Santos, por exemplo, e levar para casa algumas dicas de como entregar um show pop romântico mais envolvente.
Uma mudança interessante ocorre quando uma banda como o Arctic Monkeys monta um show com um disco como Tranquility Base Hotel & Casino (2018) na bagagem, como fez para encerrar. Os hits jovens de pista de dança do passado passam a ter de conviver com reflexões existenciais com toques de ficção científica e sonoridades sóbrias.
Era uma mudança que tinha sido apontada com AM, de 2013, e no caminho curioso do Last Shadow Puppets, a outra banda do vocalista e compositor Alex Turner. Se ele é quem assina a maior parte das músicas do último disco, recheado de suas marcas pessoais, no palco ainda é possível notar como o Arctic Monkeys permanece como um conjunto coeso e unido, e que não se esconde atrás do frontman talentoso.
As músicas do novo disco, como a faixa-título e The Ultracheese carregam toques densos emprestados pelo órgão no palco, e conversam bem com os rocks da juventude da banda, como I Bet You Look Good in the Dancefloor e Crying Lightning.
O show fecha a primeira parte com a viagem épica de Four Out Of Five. Star Treatment, Arabella e R U Mine fecham o bis de um show elegante e bem articulado. Boa notícia.
"Festivais de música são o melhor lugar do mundo". A frase é de Macklemore, cantor americano que fechou o primeiro dia de shows no palco Adidas, no Lollapalooza Brasil 2019. Ao terminar seu primeiro show no país, disse mal poder esperar para voltar.
Macklemore, de fato, se divertiu: jogou água no público, foi carregado por ele e ainda convidou dois espectadores para dançar no palco. Não à toa, quem assistia cantava "eu não vou embora". Bem produzido, o show contou com vídeos entre as músicas e no telão ao fundo, superando a simples transmissão do artista. Poderia estar ainda mais lotado - provavelmente, perdeu público para o Arctic Monkeys, que se apresentava no mesmo momento, no palco Budweiser.
As rimas politizadas de Macklemore, no entanto, não se traduziram em gritos de protesto ao presidente Jair Bolsonaro, como aconteceu em outros shows, como o de Troye Sivan. O cantor arrancou aplausos calorosos quando disse que, ali, todos estavam unidos em comunidade, não importando a cor da pele ou orientação sexual. "Vamos celebrar a diversidade!" Ao final, pediu paz.