Homens mais velhos: Essa parcela da população economicamente ativa aumentou em 4% sua participação no mercado de trabalho de 2001 a 2009 (Serghei Starus / Dreamstime)
José Eduardo Costa
Publicado em 6 de julho de 2012 às 15h45.
São Paulo - Os senhores com cabelos já grisalhos fazem parte de uma equipe conhecida como jurassic team na Novelis, multinacional fabricante de lâminas de alumínio. O apelido bem-humorado é uma referência à idade avançada do grupo de 20 técnicos e executivos, cuja média etária é de 63 anos. Todos eles foram contratados, nos últimos 15 meses para liderar os planos de expansão da empresa para os próximos dois anos, cujo orçamento é de 500 milhões de reais.
O caso da Novelis é emblemático e ilustra um movimento que vem se intensificando nos últimos oito anos: o retorno ao emprego dos profissionais com mais de 50 anos. Essa parcela da população economicamente ativa aumentou em 4% sua participação no mercado de trabalho de 2001 a 2009. Para efeito de comparação, a faixa anterior, formada por profissionais com idade entre 25 e 49 anos, teve um aumento de 1% no mesmo período.
Os dados são de um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa econômica aplicada. A explicação para o fenômeno, segundo os empregadores, é a dificuldade de encontrar gente qualificada, que tenha experiência prática em grandes projetos, como aumentar a capacidade de produção de uma fábrica de alumínio — caso da Novelis em Pindamonhangaba, no interior paulista. Recrutadores de setores como óleo e gás, mineração e siderurgia e infraestrutura estão recorrendo a esse expediente.
"As organizações estão sem saída, pois não existem jovens capacitados para suprir a demanda", diz salvador José de Paiva, gerente de suprimentos da Novelis, de 65 anos. No dia a dia, os mais velhos também atuam como mentores dos mais novos.
Mais diversificado
De acordo com Wilson Amorim, coordenador de pesquisas do Programa de Estudos em Gestão de Pessoas da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo, a principal causa da mudança é a valorização da educação e da experiência num ambiente cada vez mais competitivo. "Hoje, o Brasil tem menos jovens e um grande contingente de pessoas que chegam aos 65, 70 anos em condições de continuar no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, as empresas buscam gente capacitada com experiência", diz Wilson.
Jovens e mulheres
Assim como os profissionais mais velhos, as mulheres vêm aumentando sua participação no mundo corporativo. Considerando a evolução da taxa de ocupação, elas ganharam quatro vezes mais postos de trabalho do que os homens durante os últimos oito anos, mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como têm maior grau de escolaridade, elas tendem a se beneficiar da maior oferta de empregos qualificados.
Além disso, o setor de serviços está entre os que mais têm gerado vagas na última década, de acordo com o IBGE. Nesse segmento os recrutadores tendem a preferir as mulheres, consideradas mais habilidosas para lidar com o cliente. Por último, as companhias têm criado programas para fazer com que elas tenham mais oportunidades de crescer profissionalmente.
Como efeito, a presença feminina no alto escalão vem aumentando gradualmente, embora o topo das empresas ainda seja majoritariamente masculino. Atualmente, 7% dos postos de presidente são ocupados por mulheres. Se considerarmos os cargos de diretor e gerente, esse percentual sobe para 13% e 24%, respectivamente. Há cinco anos, os mesmos índices eram bem menores.
Os dados são do Guia Você S/A-Exame - As melhores Empresas para Você Trabalhar, edição de 2010. A estabilidade econômica e o aumento da renda dos brasileiros foram responsáveis por manter os mais jovens, abaixo dos 17 anos, longe do mercado de trabalho. Dados do IBGE mostram que o índice de jovens de 15 a 17 anos que trabalham caiu 27% nos últimos oito anos. Realizado em seis regiões metropolitanas (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre), o estudo de 2010 constatou que, hoje, os jovens são 18,9% da população economicamente ativa, ante 26%, registrado em 2003.
Esse número, de acordo com os especialistas, deve cair mais nos próximos anos. "Observamos que muitas famílias, que antes precisavam contar com o auxílio dos filhos para complementar a renda, agora estão preferindo manter os jovens na escola", diz Wilson Amorim, da FIA. A estudante Raquel Bossan, de 19 anos, é aluna do segundo ano de Direito na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, e preferiu adiar a busca de um estágio. "Quero me dedicar integralmente à faculdade. As empresas estão cada vez mais exigentes", diz.