O lado bom da inteligência emocional
Se você presta atenção nesta fonte de informação, tende a ter uma vantagem sobre as pessoas que a ignoram
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2014 às 11h19.
São Paulo - O psicólogo americano Peter Salovey, 56 anos, é conhecido entre seus pares acadêmicos por ter cunhado a expressão inteligência emocional , tema que estuda há mais de trinta anos. Há um ano, Salovey se tornou o presidente da prestigiosa universidade de Yale, cujo campus fica em New Heaven, Connecticut, nos Estados Unidos.
Em seu discurso inaugural, Salovey estabeleceu quatro metas para a sua presidência: abraçar uma revolução no ensino e aprendizagem, melhorar o acesso dos jovens a Yale, continuar a construir parcerias com organizações americanas e estrangeiras e criar uma universidade mais global e unificada.
Recentemente, ele esteve no Brasil, para fazer acordos para novas parcerias, e conversou com a VOCÊ S/A sobre um de seus assuntos preferidos: inteligência emocional.
VOCÊ S/A - Por que é importante estar atento às emoções noambiente de trabalho?
Peter Salovey - O conceito de inteligência emocional começa com a ideia de que as emoções também são uma fonte de informação para as pessoas sobre o que está acontecendo a nossa volta e a nossa relação com esses acontecimentos. Só que a maioria das pessoas tende a ignorar esse canal de informação. Se você presta atenção nesta fonte de informação, tende a ter uma vantagem sobre as pessoas que a ignoram.
VOCÊ S/A - Que tipo de vantagem?
Peter Salovey - Você melhora sua habilidade de criar empatia com as pessoas que trabalham ao seu lado. Só isto já o pouparia de muitos atritos com a equipe .
VOCÊ S/A - Como acessar esse tipo de informação?
Peter Salovey - Há quatro habilidades chave que permitem acessar as informações contidas nas emoções. Essas quatro habilidades são:
- Percepção: É preciso estar atento ao “mood” das pessoas com quem se relaciona.
- Compreensão: Tente entender por que o seu colega que é geralmente calmo e equilibrado está gritando com os colegas de trabalho.
- Mantenha o controle: Aprenda a manter o equilíbrio quando as emoções fogem do controle.
- Use as emoções a seu favor: Se você é capaz de captar o estado emocional dos colegas, entende o que se passa com os que estão a sua volta e não se deixa abalar por isso, sem ficar indiferente, tem grandes chances de se tornar um mediador ou interlocutor do grupo.
VOCÊ S/A - Tal como você descreve faz crer que os líderes têm inteligência emocional?
Peter Salovey - Sim, essas competências são importantes no desenvolvimento de líderes. Um de meus estudos mais interessantes foi realizado com estudantes de MBA, ao longo de um semestre. Inicialmente, medi o nível de QE, o coeficiente de inteligência emocional, dos alunos de MBA, por meio de um teste chamado de MSCEIT (Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test).
Este teste mede o nível de proficiência da pessoa nas quatro competências emocionais que acabei de mencionar. Os estudantes foram então separados em grupos de trabalho. Cada grupo recebeu um mesmo projeto. Ao fim do semestre, avaliamos os projetos e a contribuição individual de cada componente do grupo.
Os estudantes com maior coeficiente de inteligência emocional foram os que mais contribuíram com ideias visionárias e inovadoras. Eles também são vistos pelos colegas de trabalho como agregadores, bons gestores de conflito e os mais hábeis na comunicação. Essas são competências muito importantes para um lider.
VOCÊ S/A - Os CEOs tem QE alto?
Peter Salovey - Não. Eles geralmente têm QE médio. Uma explicação para isso é que se o presidente é muito sensível às emoções ele pode ter dificuldades em tomar decisões mais difíceis, quando envolvem pessoas. Líderes como Steve Jobs e Jeff Bezos são retratados em suas biografias de forma caricaturesca, pois são apresentados como gênios explosivos.
Ainda assim, é provável que eles sejam muito bons em equilibrar suas emoções e pouco empáticos em relação às emoções dos outros. Talvez, por isso, sejam tão focados em gerenciar seus negócios.