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Na pandemia, 37% das empresas registraram aumento de doenças psiquiátricas

Pesquisa da consultoria Falconi aponta o crescimento de casos de depressão, burnout e distúrbios emocionais

Combo do estresse: adaptação ao home office, temor pelo desemprego e pandemia pioraram a saúde mental do trabalhador (Video Blocks/Reprodução)
MB

Murilo Bomfim

Publicado em 11 de setembro de 2020 às 17h00.

Última atualização em 11 de setembro de 2020 às 20h34.

Os dados de transtornos de saúde mental no trabalho já eram uma preocupação no início do ano, quando o coronavírus era um problema distante, quase que exclusivo da China. Segundo a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse no Brasil (Isma-BR), 72% da população brasileira tinha alguma sequela de estresse – e, 30% destes, sofriam de burnout.

Em junho, quando o Brasil chegava à marca de 50 mil mortos pela pandemia, uma primeira pesquisa sobre saúde mental na quarentena, liderada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, registrou um aumento de mais de 90% em casos de depressão, e de mais de 70% nas queixas de crise aguda de ansiedade.

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Agora, em uma fase mais avançada da pandemia, empresas brasileiras apontam para um aumento de 37% em doenças psiquiátricas ou distúrbios emocionais. O dado é de uma pesquisa da consultoria Falconi, obtida com exclusividade pela EXAME.

Estado de saúde

De abrangência nacional, o estudo Gente em Perspectiva analisou 517 profissionais de diversas áreas e setores da economia. Entre eles, 66% têm cargos de liderança e 47% trabalham na área de recursos humanos.

“A pandemia trouxe diversos desafios que precisaram ser encarados de maneira rápida e intensa”, diz Roberta Bicalho, conselheira sênior da Falconi. “Competências como resiliência e inteligência emocional foram exercitadas ao máximo, e a situação, inédita e instável, fez com que muitos atingissem picos de estresse.”

Somam-se, ainda, os efeitos do forte impacto na economia, a ameaça do desemprego e o desconhecimento sobre a situação sanitária, com uma taxa de óbitos diários crescente.

A Isma-BR calcula que a má gestão do estresse custa 80 bilhões de dólares às organizações no Brasil. Nos EUA, o número pode chegar a 300 bilhões.

Os acometimentos mentais no ambiente laboral são preocupantes, tanto pelo estado precário de saúde dos funcionários, quanto pelo impacto que o cenário gera nas empresas, inclusive financeiramente. A Isma-BR calcula que a má gestão do estresse custa 80 bilhões de dólares às organizações no Brasil. Nos EUA, o número pode chegar a 300 bilhões de dólares.

Isso porque as doenças mentais trazem uma série de custos médicos, além de baixa produtividade, absentismo, alta rotatividade de funcionários nas empresas, passivos trabalhistas e investimento em treinamento de novos profissionais.

Estratégias de combate

Não à toa, a pesquisa da Falconi também aponta que, durante a pandemia, 72% das empresas consultadas adotaram iniciativas que visam o lado humano dos empregados.

Entre as estratégias estão a divulgação de dicas de saúde e bem-estar, atendimento remoto por especialistas em saúde mental, orientação para atividades físicas e ações de entretenimento.

Segundo Bicalho, da consultoria, as intervenções em saúde e bem-estar de empregados e familiares geram bom retorno direto e indireto. “Em uma rotina de home office de tantos meses, as iniciativas focadas em ergonomia e equipamentos, por exemplo, auxiliam o trabalhador na adaptação física ao trabalho no ambiente residencial”, diz.

Ela comenta que o chamado “home budget”, benefício que empresas dão aos funcionários para a aquisição de equipamentos de infraestrutura e subsídio de custos relacionados ao trabalho remoto, tem sido adotado de forma mais ampla. Seu efeito deve ser analisado com profundidade e, de acordo com a realidade de cada empresa, pode ser previsto no orçamento de 2021.

O potente modelo híbrido

Em um movimento de retomada dos escritórios, há uma tendência clara das empresas optarem por um modelo híbrido de trabalho – como mostramos em reportagem da edição mais recente da EXAME, lançada na quinta-feira, 10.

Trata-se de um esquema que dá mais autonomia ao funcionário, que pode escolher onde trabalhar e, em alguns casos, dias e horários em que pode ir ao escritório ou trabalhar de qualquer outro lugar.

A pesquisa da Falconi confirma a tendência, já que 83% das empresas consultadas definiram o modelo híbrido como a melhor saída para a era pós-pandemia. “É simples explicar esta alta adesão: o esquema trouxe diversos benefícios para a saúde dos colaboradores, e também para a organizações”, diz Bicalho.

“Muitos elementos são facilmente identificados: redução do tempo de deslocamento e do cansaço causado pelo trânsito e a otimização das horas de trabalho. Mas é possível, ainda, identificar outros benefícios, como a possibilidade de incluir atividades, tais como cursos e aulas na rotina, proximidade da família e até mesmo refeições mais balanceadas.”

Ela pondera, no entanto, que é preciso estar atento à manutenção da jornada de trabalho. A ideia é evitar excessos que extrapolem horários de início, término ou ausência de espaços entre reuniões.

Resta ver se o trabalho híbrido vai, de fato, proporcionar um maior equilíbrio mental e físico.

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