Carreira

MPT e ONU chamam jovens negros para evento gratuito de inclusão no mercado

Os três dias do Afropresença, evento gratuito e online, terão palestras, oficinas e acesso a vagas de emprego em grandes empresas

Negras e negros no mercado de trabalho: evento também dará acesso a vagas de emprego (We Are/Getty Images)

Negras e negros no mercado de trabalho: evento também dará acesso a vagas de emprego (We Are/Getty Images)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 23 de setembro de 2020 às 07h30.

Última atualização em 23 de setembro de 2020 às 15h24.

Como avançar no debate sobre diversidade e promover a inclusão de jovens negras e negros no mercado? O Ministério Público do Trabalho quer acelerar essa transformação com o evento online Afropresença, que ocorre entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro.

Realizado junto com o Pacto Global da ONU, o evento será gratuito e focado no público de jovens negras e negros matriculados em universidades. Para o encontro de três dias, eles trarão grandes empresas, universidades, movimentos sociais e especialistas para debater temas de empregabilidade, diversidade, inclusão e carreira.

Serão oficinas, painéis e palestras focadas na inserção do público universitário no mercado formal de trabalho. Quem se inscrever pelo site do evento também terá acesso a vagas de emprego e poderá compartilhar seu currículo.

A pandemia foi um obstáculo para o evento já planejado para ser presencial em São Paulo. Ao ser adaptado para o virtual, o desafio virou uma oportunidade para conversar com um público mais amplo.

Entre as empresas apoiando o evento, estão Itaú, Bradesco, Ambev, JP Morgan, Anima, YDUQS, Belgo, Santander, Febraban, Bayer, John Deere, Totvs, EF, Natura, Unilever, White Martins, Vivo e TIM.

Nas palestras, presidentes e executivos das companhias vão dividir o "palco" com especialistas, sempre com a preocupação de equilibrar o gênero e raça dos representantes.

O evento terá três vertentes com programações consecutivas: de sociedade, mercado e carreira. As mesas ocorrem em salas virtuais diferentes, mas a abertura e encerramentos de cada dia são unificados.

Esse movimento nasceu de uma inquietação e anos de trabalho sobre o tema no MPT. A procuradora do trabalho Valdirene Assis notou uma realidade alarmante: o ingresso de pretos e pardos em cursos de ensino superior crescia, mas isso não se traduzia em mais contratações ou ascensão dos formados nas empresas.

Enquanto os negros representam 55,9% de toda a população brasileira, uma pesquisa do Instituto Ethos divulgada em 2016 mostrou que somente 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas brasileiras são ocupados por eles. E mulheres negras estão em apenas 0,4% desses cargos.

Também coordenadora da Coordigualdade do MPTSP e o Projeto Nacional de Inclusão de Jovens Negras e Negros do MPT, a procuradora trabalha há 20 anos com direitos humanos e o enfretamento do racismo estrutural.

Após ouvir diversas vozes do mercado, universidades e movimentos sociais, o plano para avançar na equidade racial no trabalho passa por três frentes.

“O primeiro é a advocacia. Quando falamos com as empresas sobre programas de diversidade, elas vão necessariamente precisar de assessoria jurídica. Se grandes escritórios não entenderem do tema, temos um problema. E menos de 1% dos profissionais nos maiores escritórios são pessoas negras. Então, o setor é estratégico para discutir a política étnico racial”, comenta ela.

Depois, entra a área de publicidade. Também com baixa representatividade (3%) de profissionais negros, essa área tem grande poder para mudar a estereótipos sobre população negra e promover uma comunicação mais plural.

O terceiro fator para a mudança serão as empresas. “Precisamos falar com todos os setores empresariais, com os grandes empregadores do mercado”, explica a procuradora.

O que as empresas podem fazer contra o racismo?

A força que as empresas podem ter para o debate ficou clara com o anúncio de dois programas de trainee com vagas exclusivas para negros.

As iniciativas de recrutamento do Magazine Luiza e da Bayer criaram uma polêmica nas redes sociais sobre ações afirmativas de recrutamento, e se há discriminação ao limitar uma seleção de vagas a um certo grupo.

E não há. Na verdade, a prática é uma das ações que empresas podem fazer para ajudar na busca por igualdade de oportunidades, segundo recomendação do MPT. O próprio presidente do Magalu, Frederico Trajano, comentou que em 15 anos do programa, a companhia formou cerca de 250 trainees e somente 10 eram negros.

“O processo seletivo é central e precisa ser diverso. Na iniciativa privada, as ações afirmativas precisam ter um olhar dirigido para a busca ativa por esses profissionais. E considerar o histórico de sofrimentos e frustrações que os levam a sentir que não pertencem dentro do ambiente da empresa. Você precisa garantir que ao longo do processo pessoas negras estejam participando e assegurar a neutralidade dele”, comenta a procuradora.

Para guiar a reflexão sobre o papel das empresas no tema, Valdirene Assis resumiu os pontos essenciais para companhias privadas.

Veja os oito passos que ajudam a combater o racismo no mercado de trabalho.

1. Busca ativa dos candidatos negras e negros: Garantir a existência desses candidatos em todas as etapas dos processos seletivos

2. Parcerias com entidades que facilitem as estratégias de equidade racial das empresas.

3. Participação de profissionais negras e negros em todas as etapas dos processos seletivos, desde a operação até tomadas de decisão.

4. Manutenção de instâncias internas dedicadas à estruturação/coordenação/execução da política de equidade étnico-racial da empresa, com a participação de pessoas negras.

5. Investimento na contratação e progressão na carreira de jovens negras e negros universitários.

6. Conscientização de gestores, RH e de seu quadro funcional sobre o valor da diversidade racial.

7. Envolvimento da direção e alta liderança na realização da política de igualdade racial.

8. Realizar contratações de estagiários, trainees e cargos efetivos.

 

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