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Modelo de carreira em Y é uma boa opção na crise?

Em meio à crise econômica, modelo de ascensão profissional feito para quem não quer ser chefe ganha adeptos entre empresas e funcionários. Entenda

Executivo com binóculos: modelo alternativo de ascensão profissional pode ser oportunidade na crise econômica (Thinkstock/Yuri Arcurs)

Claudia Gasparini

Publicado em 7 de março de 2016 às 15h04.

São Paulo - Após anos de trabalho árduo numa empresa, qualquer profissional sonha em finalmente ocupar a cadeira do chefe e liderar uma equipe, certo?

A resposta seria mais simples se todas as pessoas tivessem perfil para cargos de gestão . Não é o caso: há profissionais que simplesmente não foram feitos para ocupar esse espaço.

É o caso de excelentes técnicos - que merecem crescer em status e remuneração dentro da empresa - mas não sabem ou não querem liderar.

Eles não são poucos. Um recente levantamento do site Career Builder com cerca de 3,6 mil profissionais norte-americanos de todas as idades revelou que somente 34% deles almejam posições de chefia.

Para recompensar e reter profissionais desse tipo, algumas empresas oferecem um modelo de ascensão profissional alternativo, conhecido como carreira em Y.

O funcionário pode escolher duas trajetórias de crescimento: ou ele segue o caminho tradicional e se torna gestor, ou opta por se tornar um especialista técnico - um cargo tão sênior quanto os outros e com salário por vezes até maior do que o dos líderes.

De acordo com Ernesto Haberkorn, fundador da TOTVS e diretor da TI Educacional, a segunda opção é ideal para pessoas com perfil introspectivo, detalhista e estudioso, que preferem a dimensão "mão na massa" das suas profissões.

Profissionais com essa característica podem se sentir tão desmotivados e infelizes num cargo gerencial que muitas vezes acabam abandonando seus empregos, explica Haberkorn. Daí o interesse das empresas em oferecer essa possibilidade: é o segredo para não deixar os bons técnicos irem embora.

E na crise?
Em desenvolvimento no Brasil desde a década de 1970, o modelo de carreira em Y pode ser especialmente interessante para profissionais e empresas em meio à crise econômica que abate o país.

De acordo com Haberkorn, o péssimo momento da economia exige investimento alto em inovação - uma área em que os especialistas técnicos valem ouro. Retê-los e valorizá-los é, portanto, um investimento estratégico para ganhar eficiência.

O mesmo argumento é mencionado por Claudia Ajbeszyc, gerente de recursos humanos da Locaweb, empresa que adota o modelo de carreira em Y desde 2012.

“Neste momento, mais do que nunca, precisamos contar com profissionais altamente especializados para cortar custos, otimizar processos e aumentar a nossa produtividade”, explica ela.

Para Nicole Lunardi, gerente de RH da agência Cadastra, que também adota esse modelo de ascensão profissional, a crise econômica tem ainda outro impacto: as empresas demitem antes quem ocupa cargos de gestão.

“Os primeiros a serem desligados são os que têm altos salários e desempenham funções generalistas, como a de liderança”, diz Nicole. "Além disso, as empresas têm aberto mais vagas para especialistas, cujo trabalho é mais mensurável, com foco na entrega e alinhado à dimensão prática do negócio”.

Um pouco de tudo
Ainda assim, o profissional que opta pela vertente técnica da carreira em Y pode acumular funções para dar conta da complexidade das exigências trazidas pelo momento.

Thiago Rodrigues, que escolheu se tornar um especialista na All In, empresa ligada à Locaweb, diz que em sua rotina não cuida exclusivamente das tarefas técnicas.

“É preciso ser multidisciplinar, o que não permite se concentrar em apenas um dos dois lados da carreira”, explica ele. “Mesmo decidindo seguir como técnico, por exemplo, é preciso estar preparado para assumir um papel de gestor num momento crítico”.

Para Cristiane Farias, estrategista na área de atendimento da agência Cadastra, quem opta por crescer em Y escolhe apenas uma ênfase, e não a tônica completa do seu trabalho na empresa. “Apesar de ser especialista, ainda me deparo com demandas e funções ligadas a um perfil mais generalista”, diz ela.

Uma versão híbrida de carreira tem até nome: modelo em W. A proposta é que o profissional seja técnico e gestor ao mesmo tempo, atuando como especialista, mas assumindo o papel de líder de algumas equipes em projetos específicos. A modalidade tem sido adotada por empresas tão distintas quanto a Embraco e o Hospital Sírio-Libanês.

Segundo Haberkorn, tanto o modelo em Y quanto em W são especialmente interessantes em meio à crise. Afinal, diz ele, este é o momento em que a busca por eficiência exige o aproveitamento máximo dos diversos tipos de talento.

São Paulo - Mapear e classificar o comportamento humano, em toda a sua imensa diversidade, é uma missão ambiciosa. Mesmo assim, cada vez mais empresas têm usado testes psicológicos para encontrar padrões de personalidade, e assim recrutar e treinar profissionais de acordo com suas características pessoais. A classificação MBTI (Myers-Briggs Type Indicator) é um desses recursos. Criada pelas estudiosas norte-americanas Katherine Briggs e Isabel Myers, a teoria se baseia nos tipos psicológicos descritos pelo psiquiatra suíço Carl Jung. Para Adilson Souza, professor da ESPM e fundador da Estação RH, o indicador tem grande aplicação prática, inclusive no mundo corporativo.  Nesta galeria, apresentamos os 16 tipos de personalidade previstos pelo MBTI, seguidos dos comentários de Adilson sobre as características de cada um no mundo do trabalho, e algumas profissões adequadas para cada tipo. Clique nas fotos para conhecê-los. Como funciona? O indicador se baseia em quatro eixos de preferências psicológicas. O primeiro está ligado ao “mundo favorito” de cada pessoa: se ela se concentra no exterior, sua característica é a extroversão (E); se favorece sua vida interior, é a introversão (I). A segunda divisão é entre sensação (S) e intuição (N). No primeiro caso, o foco está na informação básica que se recebe do mundo. Já os intuitivos acrescentam interpretações e significados subjetivos a suas percepções. Na hora de tomar uma decisão você prefere a lógica e a consistência ou dá atenção ao aspecto humano e pessoal da questão? Dependendo da resposta, o seu tipo psicológico conterá pensamento (T) ou sentimento (F). Por fim, você pode ter traços de julgamento (J),  tendência ligada à tomada categórica de decisões, ou percepção (P), relacionada à abertura a novas informações e opções antes de “bater o martelo”. Todas as combinações possíveis entre essas características resultam num universo de 16 tipos psicológicos, tais como INTF, ESTJ, INTP e assim por diante. Para ver a descrição de cada um, clique nas fotos. Atualização (26/jun/2015) — Conforme informado através de notificação da empresa Fellipelli Instrumentos de Diagnósticos e Desenvolvimento Organizacional Ltda., o texto anteriormente publicado apresentava um link que direcionava para uma página não licenciada do método MTBI criado por Myers-Briggs, cujos direitos autorais no Brasil são licenciados exclusivamente para a mencionada empresa. Por isso, removemos o link.

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São Paulo - Após anos de trabalho árduo numa empresa, qualquer profissional sonha em finalmente ocupar a cadeira do chefe e liderar uma equipe, certo?

A resposta seria mais simples se todas as pessoas tivessem perfil para cargos de gestão . Não é o caso: há profissionais que simplesmente não foram feitos para ocupar esse espaço.

É o caso de excelentes técnicos - que merecem crescer em status e remuneração dentro da empresa - mas não sabem ou não querem liderar.

Eles não são poucos. Um recente levantamento do site Career Builder com cerca de 3,6 mil profissionais norte-americanos de todas as idades revelou que somente 34% deles almejam posições de chefia.

Para recompensar e reter profissionais desse tipo, algumas empresas oferecem um modelo de ascensão profissional alternativo, conhecido como carreira em Y.

O funcionário pode escolher duas trajetórias de crescimento: ou ele segue o caminho tradicional e se torna gestor, ou opta por se tornar um especialista técnico - um cargo tão sênior quanto os outros e com salário por vezes até maior do que o dos líderes.

De acordo com Ernesto Haberkorn, fundador da TOTVS e diretor da TI Educacional, a segunda opção é ideal para pessoas com perfil introspectivo, detalhista e estudioso, que preferem a dimensão "mão na massa" das suas profissões.

Profissionais com essa característica podem se sentir tão desmotivados e infelizes num cargo gerencial que muitas vezes acabam abandonando seus empregos, explica Haberkorn. Daí o interesse das empresas em oferecer essa possibilidade: é o segredo para não deixar os bons técnicos irem embora.

E na crise?
Em desenvolvimento no Brasil desde a década de 1970, o modelo de carreira em Y pode ser especialmente interessante para profissionais e empresas em meio à crise econômica que abate o país.

De acordo com Haberkorn, o péssimo momento da economia exige investimento alto em inovação - uma área em que os especialistas técnicos valem ouro. Retê-los e valorizá-los é, portanto, um investimento estratégico para ganhar eficiência.

O mesmo argumento é mencionado por Claudia Ajbeszyc, gerente de recursos humanos da Locaweb, empresa que adota o modelo de carreira em Y desde 2012.

“Neste momento, mais do que nunca, precisamos contar com profissionais altamente especializados para cortar custos, otimizar processos e aumentar a nossa produtividade”, explica ela.

Para Nicole Lunardi, gerente de RH da agência Cadastra, que também adota esse modelo de ascensão profissional, a crise econômica tem ainda outro impacto: as empresas demitem antes quem ocupa cargos de gestão.

“Os primeiros a serem desligados são os que têm altos salários e desempenham funções generalistas, como a de liderança”, diz Nicole. "Além disso, as empresas têm aberto mais vagas para especialistas, cujo trabalho é mais mensurável, com foco na entrega e alinhado à dimensão prática do negócio”.

Um pouco de tudo
Ainda assim, o profissional que opta pela vertente técnica da carreira em Y pode acumular funções para dar conta da complexidade das exigências trazidas pelo momento.

Thiago Rodrigues, que escolheu se tornar um especialista na All In, empresa ligada à Locaweb, diz que em sua rotina não cuida exclusivamente das tarefas técnicas.

“É preciso ser multidisciplinar, o que não permite se concentrar em apenas um dos dois lados da carreira”, explica ele. “Mesmo decidindo seguir como técnico, por exemplo, é preciso estar preparado para assumir um papel de gestor num momento crítico”.

Para Cristiane Farias, estrategista na área de atendimento da agência Cadastra, quem opta por crescer em Y escolhe apenas uma ênfase, e não a tônica completa do seu trabalho na empresa. “Apesar de ser especialista, ainda me deparo com demandas e funções ligadas a um perfil mais generalista”, diz ela.

Uma versão híbrida de carreira tem até nome: modelo em W. A proposta é que o profissional seja técnico e gestor ao mesmo tempo, atuando como especialista, mas assumindo o papel de líder de algumas equipes em projetos específicos. A modalidade tem sido adotada por empresas tão distintas quanto a Embraco e o Hospital Sírio-Libanês.

Segundo Haberkorn, tanto o modelo em Y quanto em W são especialmente interessantes em meio à crise. Afinal, diz ele, este é o momento em que a busca por eficiência exige o aproveitamento máximo dos diversos tipos de talento.

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