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#MeToo mudou algo? Chefes dizem que sim, funcionários discordam

Quase 70% dos líderes “concordam plenamente” que suas empresas “não toleram" assédio. Menos da metade dos funcionários diz o mesmo

Mulher em protesto contra assédio: pesquisa ouviu 1.000 trabalhadores adultos nos EUA (Lucy Nicholson/Reuters)

Marília Almeida

Publicado em 28 de outubro de 2018 às 14h57.

Última atualização em 30 de outubro de 2018 às 12h35.

Pergunte aos empregadores como anda a questão do assédio sexual no ambiente de trabalho e a maioria dirá que muito bem. Os funcionários pensam diferente.

Quase 70 por cento dos líderes corporativos “concordam plenamente” que o ambiente de trabalho de suas empresas “não tolera assédio”. Menos da metade dos funcionários sem cargos de liderança diz o mesmo, de acordo com uma pesquisa com 1.000 trabalhadores adultos nos EUA. Um em cada quatro afirmou ter visto ou ouvido falar de algum incidente no último ano.

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“Existe uma desconexão”, disse Shahed Larson, sócia da Brunswick Group, a empresa de relações públicas que realizou a pesquisa.

A campanha #MeToo gerou uma conscientização sem precedentes a respeito da propagação do assédio sexual nos ambientes de trabalho. Centenas de homens (e algumas mulheres) de diversos setores foram alvos de acusações de assédio no ano passado. Empresas destacadas enfrentaram crises de imagem e muitos perpetradores perderam o emprego.

As organizações que até agora evitaram escândalos públicos podem achar que escaparam. Mas a maioria das mulheres entrevistadas recentemente pelo FairyGodBoss, um website de avaliação de empregos voltado às mulheres, disse não acreditar que o movimento #MeToo tenha mudado seu ambiente de trabalho. Sessenta por cento afirmam que suas empresas não aplicaram nenhuma política nova ou atualizada desde o #MeToo.

“Entre os que não passaram por nenhuma crise, a ausência de barulho gera a sensação de que sua organização é diferente”, disse Larson. “A pessoa pode achar que está imune.”

Mas os dados sugerem o contrário. Mais da metade dos entrevistados pela Brunswick Group acredita que há assédio e agressões sexuais nas empresas dos EUA. Um terço acredita que “acontece o tempo todo”. A Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego anunciou um aumento de 12 por cento nas denúncias de assédio em relação ao ano anterior.

Ainda assim, três dos quatro executivos consultados pela Sociedade para Gestão de Recursos Humanos (SHRM, na sigla em inglês) disseram estar “satisfeitos” ou “muito satisfeitos” com os esforços de suas organizações para manter o ambiente de trabalho livre de assédio sexual.

Existem razões para essa desconexão, diz Larson. Por um lado, o assédio sexual muitas vezes não é denunciado. O FairyGodBoss concluiu que 63 por cento das mulheres consultadas não denunciaram o assédio a um gerente, ao setor de recursos humanos ou à polícia. As vítimas temem sofrer represálias ou que não acreditem em seus relatos; elas não confiam no RH. A pesquisa da Brunswick Group apontou que mais de 60 por cento das pessoas que sofreram assédio acreditam que o RH, em última análise, representa a empresa, e não os melhores interesses dos funcionários.

“As vítimas se sentem pressionadas a se apresentar”, disse Georgene Huang, fundadora e CEO do FairyGodBoss. “Ainda é incrivelmente difícil.”

As empresas podem tomar medidas simples para aperfeiçoar a comunicação das políticas e melhorar o ambiente. Quase 90 por cento dos funcionários afirmam que querem ouvir seus CEOs falarem sobre “respeito no ambiente de trabalho”, segundo a pesquisa da Brunswick Group, mas menos de um terço disse ter ouvido o CEO falar sobre o assunto.

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