Dicas para ser um chefe global sem choque de culturas
Profissionais do país deixam de apenas participar para assumir o papel de líder em projetos mundiais. Saiba o que se espera de um gestor de equipes multiculturais
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2013 às 20h05.
São Paulo - Em setembro, quando as primeiras unidades da nova versão do jipe Ford EcoSport chegarem às ruas, os funcionários brasileiros da montadora terão muito a comemorar: trata-se do primeiro modelo mundial da empresa, a ser vendido em mais de 100 países, cujo projeto foi chefiado pela subsidiária do brasil.
O desenvolvimento do EcoSport é um exemplo bem-acabado de trabalho globalizado. Participaram da criação do carro mais de 500 engenheiros e designers de 21 nacionalidades de todos os continentes, entre eles egípcios, indianos, surinameses e filipinos. Parte desses profissionais esteve na fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, quartel-general do projeto.
"Foi um enorme esforço de comunicação", diz Rogélio Goldfarb, vice-presidente da Ford. O caso do EcoSport mostra que a participação de profissionais do país em projetos globais e times multiculturais mudou de patamar: os brasileiros estão deixando de ser meros integrantes para liderar os processos.
"Estou certo de que isso vai ocorrer com mais frequência", afirma Rogélio. E, para assumir o papel de protagonista, há competências que o profissional brasileiro precisa desenvolver. "À medida que as empresas brasileiras se expandem mundialmente, a pessoa com características globais tem mais chances e oportunidades de ascensão e crescimento na carreira", afirma Sherban Leonardo Cretoiu, professor e coordenador do núcleo de negócios internacionais da Fundação Dom Cabral, em Nova Lima, Minas Gerais.
Diferentes estilos
Há cinco anos, Ricardo Faria, de 38 anos, gerente de pesquisa e desenvolvimento para a América Latina da gigante de bens de consumo Unilever, aceitou uma proposta para trabalhar no centro de tecnologia e desenvolvimento da matriz, na Holanda. Na bagagem, levou a experiência obtida em projetos realizados com países latino-americanos, além de conversas com colegas que já haviam passado pelo processo de expatriação. Era a primeira oportunidade que ele tinha de atuar, de forma integrada, com equipes de vários países.
"Fui inserido em um time composto por 50% de holandeses e a outra metade com pessoas de diferentes nacionalidades", diz Ricardo. Para encarar o desafio, ele precisou desenvolver flexibilidade na hora de se relacionar com os profissionais de outras culturas. "Quando cheguei lá, tive de aprender qual era o estilo de cada um, o que cada profissional tinha para me ensinar", afirma Ricardo.
O movimento que Ricardo fez é cada vez mais comum em organizações que têm projetos de âmbito global. Expatriações e oportunidades de liderar trabalhos que envolvam times de diferentes países representam ganho não só para os negócios como também para os profissionais que estão à frente desses desafios.
No caso da Unilever, que tem centros de pesquisa e desenvolviemnto na Europa em países como Inglaterra e Holanda , na Ásia e em alguns países da América Latina, a pessoa com mentalidade global, que está aberta a novas culturas e quer ampliar sua visão de negócios tem boas chances de crescer dentro da companhia. "Ter flexibilidade e disponibilidade para passar por essas experiências é o que vai impulsionar a carreira", diz Lucyane Rezende, diretora de recursos humanos para a América Latina da Unilever.
Idioma é o mínimo
Já foi o tempo em que o profissional que sabia falar inglês tinha vantagem em relação aos que não dominavam o idioma. Hoje, não basta conhecer, compreender e falar fluentemente a língua inglesa. Isso é competência básica para quem está à frente de projetos globais e lida com equipes de diferentes países. "É fundamental conseguir trabalhar e negociar usando bem os idiomas. Por exemplo, em reuniões com russos e chineses, que costumam falar um inglês peculiar, fora do comum", diz Sherban Cretoiu, da Fundação Dom Cabral.
Entender a realidade e a cultura dos países com que está trabalhando é outra característica que é preciso ter ou desenvolver. De acordo com Sherban, os brasileiros geralmente são mais flexíveis com horários e, no exterior, isso é mais rígido. "Os europeus têm um perfil de ser mais diretos do que os latinoamericanos. Em reuniões de projetos de que participei e em algumas que me contaram, dava para perceber esse aspecto cultural", diz Ricardo, da Unilever.
Mais do que mergulhar nos meandros da cultura dos países, quem lidera ou atua fortemente em um projeto de âmbito mundial precisa ter ampla visão global. "É uma competência que vai sendo adquirida aos poucos e permite acompanhar as mudanças no mercado, na economia e até na política", diz Sherban.
Essa noção de contexto, do que está acontecendo na economia e nos negócios internacionais, é algo a ser desenvolvido a partir da curiosidade e da vontade de aprender, outras características fundamentais. Liderar projetos globais exige muita dedicação por parte do profissional, segundo o professor Sherban. Ganha pontos aquele que tem apetite por desafios, gosta do novo e de se aventurar "no bom sentido", ele faz questão de ressaltar.
"A pessoa que tem uma característica mais conservadora, um pouco avessa a mudanças, dificilmente vai conseguir enfrentar desafios como esses", diz o professor. "Quem chega a outros países achando que não tem nada a aprender já caminha para o fracasso." Após dois anos convivendo com uma cultura profissional diferente da brasileira, Ricardo, da Unilever, conta que o aprendizado foi bem rico e proveitoso.
"Trouxe para o Brasil uma visão diferente de liderança." Sua experiência em terra holandesa fez com que ele enxergasse as particularidades do país, o que atualmente o ajuda na hora de pensar e desenvolver um novo produto. "Desde o meu retorno, tive oportunidade de participar de projetos que começaram na Europa e foram montados em conjunto com a América Latina, que estava sob minha liderança. Posso dizer que a cultura global serve também para compartilhar as boas práticas entre os países."
O trabalho em equipe, com a participação de times no exterior, oferece ao profissional a possibilidade de ampliar sua rede de contatos e relacionamentos, além da visão de negócios, aspecto que Tatiana da Ponte, sócia da Ernst & Young Terco, de São Paulo, considera fundamental para a geração de novas ideias.
A experiência internacional, seja por meio de expatriação, seja pela liderança em projetos globais, contribui também para o crescimento pessoal. "Quem está conectado, é multifuncional e multicultural tem mais chances de se desenvolver", diz o professor Sherban.
As competências de um gestor global
O que é preciso para liderar equipes multiculturais
Dominar idiomas
Competência básica para quem deseja atuar em projetos globais. Não adianta, por exemplo, falar inglês e enrolar no portunhol.
Aceitar desafios
Funcionários que gostam de encarar desafios e novas oportunidades recebem mais atenção das empresas, principalmente em trabalhos integrados com outros países. "Se você não gosta de sair da zona de conforto, nem tente liderar projetos globais", diz Tatiana da Ponte, sócia da Ernst & Young Terco.
Ser curioso
Ser curioso faz diferença na hora de atuar em projetos globais. Buscar informações é 3ssencial. "Algumas companhias oferecem treinamentos para atuar lá fora, mas é preciso que o profissional faça perguntas", diz Tatiana.
Ter vontade de aprender
Pessoas mais contrárias a mudanças têm dificuldade para lidar com projetos que envolvam outras culturas. "Quem chega a outros países achando que não tem nada a aprender já caminha para o fracasso", diz Sherban Leonardo Cretoiu, professor e coordenador do núcleo de negócios internacionais da Fundação Dom Cabral.
Manter-se atualizado
Um profissional que está atento ao que acontece em todos os lugares se diferencia dos demais. "Quem atua no Brasil ou junto com equipes de outros países, o chamado gestor global, precisa entender o contexto pelo qual o mundo está passando", destaca o professor Sherban.
São Paulo - Em setembro, quando as primeiras unidades da nova versão do jipe Ford EcoSport chegarem às ruas, os funcionários brasileiros da montadora terão muito a comemorar: trata-se do primeiro modelo mundial da empresa, a ser vendido em mais de 100 países, cujo projeto foi chefiado pela subsidiária do brasil.
O desenvolvimento do EcoSport é um exemplo bem-acabado de trabalho globalizado. Participaram da criação do carro mais de 500 engenheiros e designers de 21 nacionalidades de todos os continentes, entre eles egípcios, indianos, surinameses e filipinos. Parte desses profissionais esteve na fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, quartel-general do projeto.
"Foi um enorme esforço de comunicação", diz Rogélio Goldfarb, vice-presidente da Ford. O caso do EcoSport mostra que a participação de profissionais do país em projetos globais e times multiculturais mudou de patamar: os brasileiros estão deixando de ser meros integrantes para liderar os processos.
"Estou certo de que isso vai ocorrer com mais frequência", afirma Rogélio. E, para assumir o papel de protagonista, há competências que o profissional brasileiro precisa desenvolver. "À medida que as empresas brasileiras se expandem mundialmente, a pessoa com características globais tem mais chances e oportunidades de ascensão e crescimento na carreira", afirma Sherban Leonardo Cretoiu, professor e coordenador do núcleo de negócios internacionais da Fundação Dom Cabral, em Nova Lima, Minas Gerais.
Diferentes estilos
Há cinco anos, Ricardo Faria, de 38 anos, gerente de pesquisa e desenvolvimento para a América Latina da gigante de bens de consumo Unilever, aceitou uma proposta para trabalhar no centro de tecnologia e desenvolvimento da matriz, na Holanda. Na bagagem, levou a experiência obtida em projetos realizados com países latino-americanos, além de conversas com colegas que já haviam passado pelo processo de expatriação. Era a primeira oportunidade que ele tinha de atuar, de forma integrada, com equipes de vários países.
"Fui inserido em um time composto por 50% de holandeses e a outra metade com pessoas de diferentes nacionalidades", diz Ricardo. Para encarar o desafio, ele precisou desenvolver flexibilidade na hora de se relacionar com os profissionais de outras culturas. "Quando cheguei lá, tive de aprender qual era o estilo de cada um, o que cada profissional tinha para me ensinar", afirma Ricardo.
O movimento que Ricardo fez é cada vez mais comum em organizações que têm projetos de âmbito global. Expatriações e oportunidades de liderar trabalhos que envolvam times de diferentes países representam ganho não só para os negócios como também para os profissionais que estão à frente desses desafios.
No caso da Unilever, que tem centros de pesquisa e desenvolviemnto na Europa em países como Inglaterra e Holanda , na Ásia e em alguns países da América Latina, a pessoa com mentalidade global, que está aberta a novas culturas e quer ampliar sua visão de negócios tem boas chances de crescer dentro da companhia. "Ter flexibilidade e disponibilidade para passar por essas experiências é o que vai impulsionar a carreira", diz Lucyane Rezende, diretora de recursos humanos para a América Latina da Unilever.
Idioma é o mínimo
Já foi o tempo em que o profissional que sabia falar inglês tinha vantagem em relação aos que não dominavam o idioma. Hoje, não basta conhecer, compreender e falar fluentemente a língua inglesa. Isso é competência básica para quem está à frente de projetos globais e lida com equipes de diferentes países. "É fundamental conseguir trabalhar e negociar usando bem os idiomas. Por exemplo, em reuniões com russos e chineses, que costumam falar um inglês peculiar, fora do comum", diz Sherban Cretoiu, da Fundação Dom Cabral.
Entender a realidade e a cultura dos países com que está trabalhando é outra característica que é preciso ter ou desenvolver. De acordo com Sherban, os brasileiros geralmente são mais flexíveis com horários e, no exterior, isso é mais rígido. "Os europeus têm um perfil de ser mais diretos do que os latinoamericanos. Em reuniões de projetos de que participei e em algumas que me contaram, dava para perceber esse aspecto cultural", diz Ricardo, da Unilever.
Mais do que mergulhar nos meandros da cultura dos países, quem lidera ou atua fortemente em um projeto de âmbito mundial precisa ter ampla visão global. "É uma competência que vai sendo adquirida aos poucos e permite acompanhar as mudanças no mercado, na economia e até na política", diz Sherban.
Essa noção de contexto, do que está acontecendo na economia e nos negócios internacionais, é algo a ser desenvolvido a partir da curiosidade e da vontade de aprender, outras características fundamentais. Liderar projetos globais exige muita dedicação por parte do profissional, segundo o professor Sherban. Ganha pontos aquele que tem apetite por desafios, gosta do novo e de se aventurar "no bom sentido", ele faz questão de ressaltar.
"A pessoa que tem uma característica mais conservadora, um pouco avessa a mudanças, dificilmente vai conseguir enfrentar desafios como esses", diz o professor. "Quem chega a outros países achando que não tem nada a aprender já caminha para o fracasso." Após dois anos convivendo com uma cultura profissional diferente da brasileira, Ricardo, da Unilever, conta que o aprendizado foi bem rico e proveitoso.
"Trouxe para o Brasil uma visão diferente de liderança." Sua experiência em terra holandesa fez com que ele enxergasse as particularidades do país, o que atualmente o ajuda na hora de pensar e desenvolver um novo produto. "Desde o meu retorno, tive oportunidade de participar de projetos que começaram na Europa e foram montados em conjunto com a América Latina, que estava sob minha liderança. Posso dizer que a cultura global serve também para compartilhar as boas práticas entre os países."
O trabalho em equipe, com a participação de times no exterior, oferece ao profissional a possibilidade de ampliar sua rede de contatos e relacionamentos, além da visão de negócios, aspecto que Tatiana da Ponte, sócia da Ernst & Young Terco, de São Paulo, considera fundamental para a geração de novas ideias.
A experiência internacional, seja por meio de expatriação, seja pela liderança em projetos globais, contribui também para o crescimento pessoal. "Quem está conectado, é multifuncional e multicultural tem mais chances de se desenvolver", diz o professor Sherban.
As competências de um gestor global
O que é preciso para liderar equipes multiculturais
Dominar idiomas
Competência básica para quem deseja atuar em projetos globais. Não adianta, por exemplo, falar inglês e enrolar no portunhol.
Aceitar desafios
Funcionários que gostam de encarar desafios e novas oportunidades recebem mais atenção das empresas, principalmente em trabalhos integrados com outros países. "Se você não gosta de sair da zona de conforto, nem tente liderar projetos globais", diz Tatiana da Ponte, sócia da Ernst & Young Terco.
Ser curioso
Ser curioso faz diferença na hora de atuar em projetos globais. Buscar informações é 3ssencial. "Algumas companhias oferecem treinamentos para atuar lá fora, mas é preciso que o profissional faça perguntas", diz Tatiana.
Ter vontade de aprender
Pessoas mais contrárias a mudanças têm dificuldade para lidar com projetos que envolvam outras culturas. "Quem chega a outros países achando que não tem nada a aprender já caminha para o fracasso", diz Sherban Leonardo Cretoiu, professor e coordenador do núcleo de negócios internacionais da Fundação Dom Cabral.
Manter-se atualizado
Um profissional que está atento ao que acontece em todos os lugares se diferencia dos demais. "Quem atua no Brasil ou junto com equipes de outros países, o chamado gestor global, precisa entender o contexto pelo qual o mundo está passando", destaca o professor Sherban.