Contra o racismo, grandes empresas treinam líderes com letramento racial
Iniciativa do Movimento pela Equidade Racial (Mover) treina lideranças de empresas como Arcos Dorados, Raia Drogasil, Michelin, Ambev e outras sobre temas como racismo estrutural, histórico da comunidade negra no Brasil e vieses inconscientes
Luciana Lima
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 10h05.
Desde julho, executivos de 47 grandes empresas do Brasil estão realizando uma série de treinamentos sobre letramento racial para avançar na luta antirracista dentro das organizações.
O projeto é realizado pelo Mover (Movimento pela Equidade Racial) em parceria com o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), organização sem fins lucrativos voltada à promoção da igualdade racial.
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Entre as empresas participantes do Mover estão nomes como Ambev, Diageo, Americanas, Bain & Company, Cargill, Atento, Alcoa, Heineken, Danone, Grupo Pão de Açúcar, L'óreal, Magazine Luiza, Gerdau, Kraft & Heinz, Nestlé, Renner, Sodexo, Klabin, Raia Drograsil, Disney, Marfrig, Mondeléz, Mars e PepsiCo.
Criado em 2020, o movimento tem como meta atingir 10 mil posições de lideranças ocupadas por pessoas negras até 2030. Por isso, entre outras coisas, todas empresas que participam do movimento têm o o compromisso de aumentar a participação de profissionais negros em seus quadros.
Além de conectar essas empresas com profissionais negros, o Mover também realiza uma série de capacitações, como programas de mentoria e cursos para a comunidade negra. A ideia do letramento racial, entretanto, é voltada para além das pessoas negras para tornar o ambiente corporativo mais inclusivo.
"Quando falamos de inclusão não basta apenas contratar pessoas negras, esses profissionais precisam se sentir acolhidos e pertencentes e, por isso, é necessário preparar as lideranças", diz Marcele Gianmarino, porta-voz do Mover e gerente de Diversidade e Inclusão Mars.
Engajamento da liderança na luta antirracista
Até agora mais de 200 líderes das empresas signatárias do Mover participaram dos treinamentos que abordam questões como o contexto histórico brasileiro, o que é o racismo, vieses inconscientes, além de práticas para aumentar a diversidade nas organizações. Os treinamentos duram cerca de 2 horas e a ideia é ter mais quatro sessões de letramento até o final do ano.
"Aprendemos não só sobre Equidade Racial, mas também sobre a história do Brasil e como tudo isso está conectado. O time nos convida para um processo de reflexão sobre o nosso papel na sociedade, independente da nossa posição hierárquica dentro das 47 empresas aliadas", diz Mariana Pereira, gerente de diversidade e inclusão na Raia Drogasil e uma das líderes que participaram dos treinamentos do Mover.
Para Leandro Corrêa, gerente de gente, diversidade e inclusão da divisão Brasil da Arcos Dorados, que também participou dos treinamentos do Mover, além de aumentar o entendimento sobre o racismo, a capacitação também cria oportunidades de trocas entre as empresas sobre como, de fato, engajar as companhias na luta antirracista.
"Os treinamentos são grandes oportunidades de somarmos forças e discutirmos, juntos, diversos aspectos da questão racial e desafios enfrentados no mercado de trabalho que podem e devem ser melhorados.
Atualmente no Brasil contamos com cerca de 50 mil funcionários, entre restaurantes próprios e franqueados, e sabemos de nossa responsabilidade em promover um ambiente de trabalho diverso", diz.
A escolha de começar o letramento pela liderança não é à toa, uma vez que os executivos seniores ajudam a engajar as organizações e aceleram o processo de transformação cultural e sensibilização no tema.
"São os líderes que darão o tom, explicarão a importância de avançarmos deixando claro que o propósito maior que é realizar um resgate histórico em direção a uma sociedade mais justa para todos nós", afirma Glauce Ferman, diretora de comunicação e marcas, relações institucionais e sustentabilidade da Michelin, que também realizou a capacitação do Mover.
"56% da população brasileira é negra, mas não vemos esse número refletido dentro das organizações. Acreditamos que o letramento é a chave para mudar essa realidade", finaliza Marcele, porta-voz do Mover.