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Por que seu próximo emprego pode ser numa startup

Ao oferecer autonomia, propósito e agora carreira com salários atraentes, as startups se tornaram a primeira opção de trabalho dos profissionais de talento

Alexandre_Pellaes_99jobs (Camila Fontana)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2015 às 10h17.

Já faz tempo que startups são locais cobiçados para trabalhar. Essas empresas jovens atraem pela informalidade, pelo ambiente descolado, pela sensação de fazer o que se ama e pela possibilidade de acelerar a carreira (a velha história do estagiá­rio que se torna diretor em dois anos não é um mito).

E sempre existe a perspectiva de que, se o negócio der certo, quem estiver lá dentro poderá enriquecer a reboque. Esse mercado, formado por empresas brasileiras com até três anos e por empreendimentos estrangeiros que desembarcam aqui só um pouco mais maduros — e que apostam na tecnologia como motor da inovação —, deixou de ser incipiente no Brasil. Estima-se que hoje existam cerca de 3 000 startups no país.

Em 2013, a indústria de private equity e venture capital investiu 100 bilhões de reais em empresas desse tipo, um aumento de 21% em relação a 2012, de acordo com uma pesquisa da consultoria KPMG. “Os investidores estão mais seletivos para aplicar dinheiro, o que faz com que surjam startups mais sólidas”, diz Pedro Melzer, diretor da e.Bricks Digital, fundo de investimento do Grupo RBS, de comunicação.

Para se firmarem como opção de trabalho convincente, existe uma novidade: as startups estão oferecendo salários compatíveis com os de grandes corporações, uma rea­lidade que deve ficar ainda mais nítida em 2015. É o que aponta o guia salarial da Robert Half, empresa de recrutamento de São Paulo que mapeia a remuneração de mais de 200 cargos no Brasil.

Os bons salários estão nas startups consolidadas, que já saíram da garagem de seus fundadores, adquiriram alguma maturi­dade de gestão e precisam de profissionais experientes, que saibam fazer um negócio acontecer.

Essa mão de obra está nas grandes empresas. “O mercado se desenvolveu e oferece pacotes de remuneração e benefícios mais atraentes para todos”, diz Tiago­ Yonamine, da trampos.co, startup especializada em recrutamento.

O fato de serem negócios novos faz com que as startups façam ofertas salariais muito variadas. Mas, segundo a Robert Half, na média a remuneração é entre 20% e 40% mais alta do que a praticada por empresas tradicionais. Sem contar a possibilidade, bem comum, de se tornar sócio ou acionista.

Programas de aceleração públicos, como o Start-Up Brasil, a chegada de novos investidores privados e a tendência de companhias como Itaú e Natura a criar programas de incentivo a negócios inovadores mostram o aquecimento da área — carente de profissionais experientes. “Startups precisam de gente com vivência corporativa para consolidar práticas que vão surgir”, diz Wilson Caldeira, especialista em inovação da Caldeira Marketing, consultoria de Minas Gerais.

Além da grana, a satisfação de quem trabalha em startups é maior. Esse fator também tem contribuído para que profissionais talentosos com anos de carreira, e não apenas recém-formados, vejam essas empresas como bons lugares para trabalhar. Essa é a conclusão de um levantamento da Love Mondays, site que incentiva os profissionais a dar notas às empresas em que trabalham.

O site compilou 12 590 avaliações de funcionários de 13 setores e descobriu que os empregados de startups têm um índice de felicidade geral de 3,6, número levemente superior à média de mercado (3,3). “As startups têm um ambiente único, por isso a alta satisfação”, diz Luciana Caletti, cofundadora da Love Mondays, que deixou empresas como Capgemini Consulting e Johnson & Johnson para fundar a própria startup.

Outra vantagem decisiva é que o desaquecimento econômico, que influenciou nas decisões quanto aos salários e às contratações das grandes empresas, não afetou tanto os em­preendimentos jovens, que não podem se dar ao luxo de esperar a economia melhorar para crescer. E as novas vagas não se restringem à tecnologia: as áreas de seguros, mercado financeiro e direito participam dessa tendência.

Mas fazer carreira em startups tem particularidades que precisam ser levadas em conta. Ao longo desta reportagem, você vai ver histórias de quem trocou grandes companhias por startups e descobrirá quais são as habilidades pessoais imprescindíveis para ter sucesso nesses lugares.

Propósitos alinhados

Embora a remuneração esteja mais atraente, o principal motivo que leva profissionais a sonhar com o trabalho em uma startup não é o dinheiro, mas a possibilidade de fazer o que se ama — de verdade. “As pessoas entram pelo propósito e não se importam em trabalhar muito, desde que façam o que sempre quiseram fazer”, diz Diego Remus, fundador do Startupi, site especializado em empreendedorismo digital. Acreditar nos objetivos da startup é o mais importante quando se cogita trabalhar em uma empresa assim.

Afinal, o dia a dia de trabalho não é dos mais simples: a carga horária é pesadíssima (só com muito esforço a startup cresce e se estabelece) e as equipes costumam ser reduzidas (o que significa que é preciso ter disposição para fazer de tudo pela causa da empresa). Mas, quando o objetivo da startup e a paixão do profissional combinam, a união tem tudo para dar certo.

Foi isso que aconteceu com Alexandre Pellaes, de 39 anos, líder de operações da 99jobs, empresa que tem 21 funcionários e ajuda jovens a encontrar o emprego ideal por meio de aconselhamento profissional e recrutamento. A carreira de Alexandre foi bastante tradicional.

Formado em contabilidade, trabalhou na Bayer, na Unilever e na W.L. Gore, onde fez sua última passagem pelo mundo corporativo. Ao todo, foram 14 anos em grandes organizações. Nesse período, ele se desenvolveu profissionalmente, casou, teve trigêmeos e até tentou rearranjar a rotina para trabalhar menos e ter mais tempo para a vida pessoal.

Mas, no fim de 2012, Alexandre já entendia que seus objetivos de carreira não estavam mais dentro de uma grande empresa. “Estava cansado de ter de usar máscaras para trabalhar e não poder ser eu mesmo”, diz. “Muitos colegas me procuravam para conversar sobre carreira e gestão, então saí da área financeira e me especializei em pessoas.”

Assim nasceu a consultoria que o levou até a 99jobs. Ele chegou à sede da empresa, que divide uma casa em São Paulo com mais duas startups, em janeiro deste ano como um consultor com contrato por tempo determinado. A ideia era que Alexandre ajudasse a startup a organizar as operações e criar um modelo de gestão. “De cara eu me apaixonei pela 99jobs, que tem o mesmo propósito que eu: melhorar a vida das pessoas no trabalho”, afirma.

Depois de quatro meses, ele foi convidado para ser funcionário da startup, com direito a salário, pacote de benefícios e opção de sociedade. Quando recebeu a proposta, conversou com sua esposa e seus filhos para pensar se voltar a ter um trabalho fixo valeria a pena.

A demanda por tempo e esforço seria alta, mas Alexandre aceitou porque estava atrás de algo intangível: a oportunidade de fazer a diferença na vida de jovens profissionais, público-alvo da 99jobs. “Nunca imaginei que minha carreira tomaria esse rumo”, diz Alexandre. “Sou mais feliz e mais autêntico trabalhando em algo que combina com meus valores pessoais.”

Espírito empreendedor

Uma característica fundamental para trabalhar em startups é ter espírito empreendedor, mesmo que não seja o fundador da empresa. Essa habilidade tem muita importância porque, em empresas em começo de operação ou que crescem exponencialmente em pouco tempo, todos precisam se sentir donos do negócio. Essa é a medida esperada de comprometimento. “Quem contrata em startup aposta em pessoas que busquem desafios e que tenham iniciativa e vontade de fazer”, diz André Ghignatti, diretor executivo da Wow, aceleradora de startups de Porto Alegre.

Quem se irrita com falta de processos ou gosta mais de executar tarefas prees­tabelecidas do que criar inovações não vai se dar bem. Mas as startups podem ser a solução para quem quer empreender sem abrir o próprio negócio, como aconteceu com Mauro Romano, de 40 anos, chefe de operações da Geekie, empresa que usa tecnologia para criar programas personalizados de educação e que tem, hoje, mais de 3 milhões de usuários no Brasil.

Mauro está na Geekie há quatro meses e, para isso, deixou um cargo cobiçado no mercado: diretor de operações da BRF, posição que ocupou durante oito meses, em sua segunda passagem pela gigante da produção de alimentos — ele já tinha trabalhado lá de 2005 a 2008. “Quando comuniquei a decisão à chefia, ninguém entendeu”, diz Mauro. “Mas o diretor de RH me disse que a decisão fazia sentido porque eu demonstrava ânsia por empreender.” Mauro tentou ser dono do próprio negócio algumas vezes, abriu uma consultoria de gestão ao lado de um ex-chefe e duas empresas de alimentação saudável.

Mas não deu muito certo. Nesse meio tempo, frequentou eventos de aceleração e conheceu Claudio Sassaki, cofundador da ­Geekie, que procurava um profissional com experiência em estruturação de processos para ajudar no crescimento da startup. “Queremos os melhores para cada nova posição, por isso estamos recrutando no mercado”, afirma Claudio.

A vida de Mauro mudou completamente. Se antes ele podia contar com um salário polpudo, agora seus ganhos se dividem entre remuneração fixa e variável. Caso tudo dê certo, sua remuneração será parecida com a que tinha na BRF. No mundo corporativo, Mauro tinha uma mesa grande e salas de reuniões à disposição. Agora divide o espaço de um galpão na zona oeste de São Paulo com outros 81 profissionais e improvisa espaços para se reunir.

O hábito de vestir camisa, calça social e sapato para trabalhar mudou. Agora o engenheiro passa o dia de jeans, camiseta e tênis. Se antes Mauro se sentia estagnado, agora está realizado. “É a primeira vez que escolho o caminho a seguir”, diz Mauro.

Sem medo de trabalho

Existe o mito de que startups são locais informais em que todo mundo passa as horas só jogando videogame. Não é bem assim. A informalidade existe, mas quem sonha em ir para uma startup deve saber que o volume de trabalho a ser realizado é enorme. “As equipes são reduzidas, e as pessoas ficam muito tempo na empresa para dar conta”, diz Rosi Rodrigues, diretora da Associação Brasileira de Startups.

Isso significa que os profissionais podem ter de abrir mão da qualidade de vida, pelo menos por um período, para que a empresa cresça. Se o trabalho não tiver significado e o profissional não gostar de assumir novas funções, será impossível sobreviver. Para se dar bem, é preciso colocar a mão na massa, ajudar as áreas correlatas e gostar da adrenalina de não saber exatamente quais serão as tarefas a ser exercidas num dia.

É isso que desperta a paixão de Geórgia Dreyer, de 32 anos, gerente de vendas da PmWeb, empresa de Porto Alegre especializada em marketing em nuvem que, no ano passado, virou sócia da Oracle. Geórgia sempre gostou de iniciar operações — seja em startups, seja em grandes empresas.

Com passagens pela Gol, quando foi responsável por reestruturar o programa de fidelidade, e pelo Groupon, que na época estava no auge da consolidação das operações, Geórgia gosta de fazer acontecer. “Trabalho mais do que em uma empresa normal e por isso adoro startups”, diz Geórgia. “Nada me deixa mais satisfeita do que ver que meu esforço é reconhecido pelos outros.”

Vontade de arriscar

Startups são empresas de risco. Nunca se sabe se vão se consolidar e render milhões ou durar pouco tempo. Um estudo da Fundação Dom Cabral, escola de negócios de Minas Gerais, mostrou que 25% das startups brasileiras fecham em menos de um ano. “Trabalhar em startup é um esporte extremo”, diz Diego, do Startupi.

Claro que dá para se proteger avaliando qual é o plano de negócios da nova empresa, quem são os sócios e se há um bom investidor por trás, mas isso só minimiza os riscos, não os extermina. “A única certeza em uma startup é a incerteza”, diz Pedro, da e.Bricks. “É preciso ter consciência de que, se as coisas não saírem bem, poderá haver corte de salários, redução de equipe e aumento da carga de trabalho.” Se a vontade de se aventurar é grande e o profissional acredita na causa da empresa, esses empecilhos ficam em segundo plano.

Foi o caso de Fabrício Almeida, de 33 anos, diretor de logística da Dafiti. Há quatro anos, quando foi chamado para conhecer o plano de negócios da empresa, a Dafiti não era a gigante do varejo online no Brasil — era apenas uma ideia no papel. Uma ideia que ainda nem tinha nome. Na época, Fabrício era gerente de logística da Atlas, companhia tradicional do ramo. “Os sócios da Dafiti estavam com um plano logístico ousado — entregar um volume alto de produtos de pequeno porte em todo o Brasil — e queriam uma consultoria sobre como desenhar a operação”, diz Fabrício.

Ele se interessou tanto pelo desafio que, quando foi convidado a se tornar diretor logístico da startup, aceitou na hora. “Sou o funcionário número 8”, conta Fabrício. Em 2011, quando recebeu um investimento inicial de 50 milhões de reais da incubadora europeia Rocket, especializada em investir em startups, a Dafiti deslanchou. Mas o começo foi difícil.

Fabrício participava de todas as etapas da operação logística: da embalagem à entrega. O diminuto escritório da empresa, em São Paulo, ficava lotado de produtos. “Usávamos até o banheiro como depósito”, diz Fabrício. “Se eu não tivesse arriscado, não estaria hoje à frente de um centro de distribuição de38.000 metros quadradose liderando 800 pessoas.”

Mais autonomia

Com menos níveis hierárquicos e equipes pequenas, as startups precisam de funcionários que gostem de trabalhar com autonomia — só assim terão rapidez para inovar, para solucionar os novos problemas que surgem a cada dia, para ir em busca de informações relevantes em outros setores e até com pessoas de fora da empresa.

Autonomia é um aspecto altamente valorizado pelos profissionais hoje, e não tê-la costuma gerar insatisfação. Só que isso não é para qualquer um. “É necessário ter bastante confiança no próprio trabalho e não ter medo de tomar decisões sozinho — e de bancá-las depois”, diz Wilson, da Caldeira Marketing.

Quem tem essas características e busca um crescimento profissional veloz encontra nas startups uma das melhores opções de carreira. “O funcionário precisa se envolver, imprescindivelmente, com todas as áreas, e isso gera conhecimento, pois a aprendizagem é rápida”, diz Rosi, da Associação Brasileira de Startups.

A possibilidade de ter autonomia para decidir foi o que mais atraiu Luciana da Mata, de 39 anos, para trabalhar como diretora comercial na Bidu, startup de seguros online fundada em 2012. Antes de chegar à empresa, há três meses, Luciana era gerente de qualidade no Itaú Unibanco, onde ficou por seis anos.

A proposta para trocar uma instituição consolidada por uma startup tentou Lu­ciana pela possibilidade de deixar uma marca pessoal. “Apesar de o ritmo ser intenso, como nas grandes empresas, a diferença é que uma startup está aberta ao novo”, diz Luciana. “Tenho flexibilidade para fazer o que acho que deve ser feito e rapidez para implementar mudanças.”

Essa liberdade só precisa estar alinhada com uma meta: fazer com que a Bidu se torne a maior empresa de seguros online no Brasil. “Eu me senti dona do negócio assim que entrei aqui, um sentimento que não é tão comum e leva mais tempo para aparecer em empresas tradicionais”, diz Luciana.

Essa velocidade com que as pessoas se identificam com o trabalho talvez seja uma vantagem decisiva a favor das startups. Sem ignorar os riscos e o trabalho intenso, a satisfação profissional é capaz de compensar pacotes de benefícios mais convencionais. Por isso, as startups merecem ser olhadas como o próximo passo da carreira.

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Já faz tempo que startups são locais cobiçados para trabalhar. Essas empresas jovens atraem pela informalidade, pelo ambiente descolado, pela sensação de fazer o que se ama e pela possibilidade de acelerar a carreira (a velha história do estagiá­rio que se torna diretor em dois anos não é um mito).

E sempre existe a perspectiva de que, se o negócio der certo, quem estiver lá dentro poderá enriquecer a reboque. Esse mercado, formado por empresas brasileiras com até três anos e por empreendimentos estrangeiros que desembarcam aqui só um pouco mais maduros — e que apostam na tecnologia como motor da inovação —, deixou de ser incipiente no Brasil. Estima-se que hoje existam cerca de 3 000 startups no país.

Em 2013, a indústria de private equity e venture capital investiu 100 bilhões de reais em empresas desse tipo, um aumento de 21% em relação a 2012, de acordo com uma pesquisa da consultoria KPMG. “Os investidores estão mais seletivos para aplicar dinheiro, o que faz com que surjam startups mais sólidas”, diz Pedro Melzer, diretor da e.Bricks Digital, fundo de investimento do Grupo RBS, de comunicação.

Para se firmarem como opção de trabalho convincente, existe uma novidade: as startups estão oferecendo salários compatíveis com os de grandes corporações, uma rea­lidade que deve ficar ainda mais nítida em 2015. É o que aponta o guia salarial da Robert Half, empresa de recrutamento de São Paulo que mapeia a remuneração de mais de 200 cargos no Brasil.

Os bons salários estão nas startups consolidadas, que já saíram da garagem de seus fundadores, adquiriram alguma maturi­dade de gestão e precisam de profissionais experientes, que saibam fazer um negócio acontecer.

Essa mão de obra está nas grandes empresas. “O mercado se desenvolveu e oferece pacotes de remuneração e benefícios mais atraentes para todos”, diz Tiago­ Yonamine, da trampos.co, startup especializada em recrutamento.

O fato de serem negócios novos faz com que as startups façam ofertas salariais muito variadas. Mas, segundo a Robert Half, na média a remuneração é entre 20% e 40% mais alta do que a praticada por empresas tradicionais. Sem contar a possibilidade, bem comum, de se tornar sócio ou acionista.

Programas de aceleração públicos, como o Start-Up Brasil, a chegada de novos investidores privados e a tendência de companhias como Itaú e Natura a criar programas de incentivo a negócios inovadores mostram o aquecimento da área — carente de profissionais experientes. “Startups precisam de gente com vivência corporativa para consolidar práticas que vão surgir”, diz Wilson Caldeira, especialista em inovação da Caldeira Marketing, consultoria de Minas Gerais.

Além da grana, a satisfação de quem trabalha em startups é maior. Esse fator também tem contribuído para que profissionais talentosos com anos de carreira, e não apenas recém-formados, vejam essas empresas como bons lugares para trabalhar. Essa é a conclusão de um levantamento da Love Mondays, site que incentiva os profissionais a dar notas às empresas em que trabalham.

O site compilou 12 590 avaliações de funcionários de 13 setores e descobriu que os empregados de startups têm um índice de felicidade geral de 3,6, número levemente superior à média de mercado (3,3). “As startups têm um ambiente único, por isso a alta satisfação”, diz Luciana Caletti, cofundadora da Love Mondays, que deixou empresas como Capgemini Consulting e Johnson & Johnson para fundar a própria startup.

Outra vantagem decisiva é que o desaquecimento econômico, que influenciou nas decisões quanto aos salários e às contratações das grandes empresas, não afetou tanto os em­preendimentos jovens, que não podem se dar ao luxo de esperar a economia melhorar para crescer. E as novas vagas não se restringem à tecnologia: as áreas de seguros, mercado financeiro e direito participam dessa tendência.

Mas fazer carreira em startups tem particularidades que precisam ser levadas em conta. Ao longo desta reportagem, você vai ver histórias de quem trocou grandes companhias por startups e descobrirá quais são as habilidades pessoais imprescindíveis para ter sucesso nesses lugares.

Propósitos alinhados

Embora a remuneração esteja mais atraente, o principal motivo que leva profissionais a sonhar com o trabalho em uma startup não é o dinheiro, mas a possibilidade de fazer o que se ama — de verdade. “As pessoas entram pelo propósito e não se importam em trabalhar muito, desde que façam o que sempre quiseram fazer”, diz Diego Remus, fundador do Startupi, site especializado em empreendedorismo digital. Acreditar nos objetivos da startup é o mais importante quando se cogita trabalhar em uma empresa assim.

Afinal, o dia a dia de trabalho não é dos mais simples: a carga horária é pesadíssima (só com muito esforço a startup cresce e se estabelece) e as equipes costumam ser reduzidas (o que significa que é preciso ter disposição para fazer de tudo pela causa da empresa). Mas, quando o objetivo da startup e a paixão do profissional combinam, a união tem tudo para dar certo.

Foi isso que aconteceu com Alexandre Pellaes, de 39 anos, líder de operações da 99jobs, empresa que tem 21 funcionários e ajuda jovens a encontrar o emprego ideal por meio de aconselhamento profissional e recrutamento. A carreira de Alexandre foi bastante tradicional.

Formado em contabilidade, trabalhou na Bayer, na Unilever e na W.L. Gore, onde fez sua última passagem pelo mundo corporativo. Ao todo, foram 14 anos em grandes organizações. Nesse período, ele se desenvolveu profissionalmente, casou, teve trigêmeos e até tentou rearranjar a rotina para trabalhar menos e ter mais tempo para a vida pessoal.

Mas, no fim de 2012, Alexandre já entendia que seus objetivos de carreira não estavam mais dentro de uma grande empresa. “Estava cansado de ter de usar máscaras para trabalhar e não poder ser eu mesmo”, diz. “Muitos colegas me procuravam para conversar sobre carreira e gestão, então saí da área financeira e me especializei em pessoas.”

Assim nasceu a consultoria que o levou até a 99jobs. Ele chegou à sede da empresa, que divide uma casa em São Paulo com mais duas startups, em janeiro deste ano como um consultor com contrato por tempo determinado. A ideia era que Alexandre ajudasse a startup a organizar as operações e criar um modelo de gestão. “De cara eu me apaixonei pela 99jobs, que tem o mesmo propósito que eu: melhorar a vida das pessoas no trabalho”, afirma.

Depois de quatro meses, ele foi convidado para ser funcionário da startup, com direito a salário, pacote de benefícios e opção de sociedade. Quando recebeu a proposta, conversou com sua esposa e seus filhos para pensar se voltar a ter um trabalho fixo valeria a pena.

A demanda por tempo e esforço seria alta, mas Alexandre aceitou porque estava atrás de algo intangível: a oportunidade de fazer a diferença na vida de jovens profissionais, público-alvo da 99jobs. “Nunca imaginei que minha carreira tomaria esse rumo”, diz Alexandre. “Sou mais feliz e mais autêntico trabalhando em algo que combina com meus valores pessoais.”

Espírito empreendedor

Uma característica fundamental para trabalhar em startups é ter espírito empreendedor, mesmo que não seja o fundador da empresa. Essa habilidade tem muita importância porque, em empresas em começo de operação ou que crescem exponencialmente em pouco tempo, todos precisam se sentir donos do negócio. Essa é a medida esperada de comprometimento. “Quem contrata em startup aposta em pessoas que busquem desafios e que tenham iniciativa e vontade de fazer”, diz André Ghignatti, diretor executivo da Wow, aceleradora de startups de Porto Alegre.

Quem se irrita com falta de processos ou gosta mais de executar tarefas prees­tabelecidas do que criar inovações não vai se dar bem. Mas as startups podem ser a solução para quem quer empreender sem abrir o próprio negócio, como aconteceu com Mauro Romano, de 40 anos, chefe de operações da Geekie, empresa que usa tecnologia para criar programas personalizados de educação e que tem, hoje, mais de 3 milhões de usuários no Brasil.

Mauro está na Geekie há quatro meses e, para isso, deixou um cargo cobiçado no mercado: diretor de operações da BRF, posição que ocupou durante oito meses, em sua segunda passagem pela gigante da produção de alimentos — ele já tinha trabalhado lá de 2005 a 2008. “Quando comuniquei a decisão à chefia, ninguém entendeu”, diz Mauro. “Mas o diretor de RH me disse que a decisão fazia sentido porque eu demonstrava ânsia por empreender.” Mauro tentou ser dono do próprio negócio algumas vezes, abriu uma consultoria de gestão ao lado de um ex-chefe e duas empresas de alimentação saudável.

Mas não deu muito certo. Nesse meio tempo, frequentou eventos de aceleração e conheceu Claudio Sassaki, cofundador da ­Geekie, que procurava um profissional com experiência em estruturação de processos para ajudar no crescimento da startup. “Queremos os melhores para cada nova posição, por isso estamos recrutando no mercado”, afirma Claudio.

A vida de Mauro mudou completamente. Se antes ele podia contar com um salário polpudo, agora seus ganhos se dividem entre remuneração fixa e variável. Caso tudo dê certo, sua remuneração será parecida com a que tinha na BRF. No mundo corporativo, Mauro tinha uma mesa grande e salas de reuniões à disposição. Agora divide o espaço de um galpão na zona oeste de São Paulo com outros 81 profissionais e improvisa espaços para se reunir.

O hábito de vestir camisa, calça social e sapato para trabalhar mudou. Agora o engenheiro passa o dia de jeans, camiseta e tênis. Se antes Mauro se sentia estagnado, agora está realizado. “É a primeira vez que escolho o caminho a seguir”, diz Mauro.

Sem medo de trabalho

Existe o mito de que startups são locais informais em que todo mundo passa as horas só jogando videogame. Não é bem assim. A informalidade existe, mas quem sonha em ir para uma startup deve saber que o volume de trabalho a ser realizado é enorme. “As equipes são reduzidas, e as pessoas ficam muito tempo na empresa para dar conta”, diz Rosi Rodrigues, diretora da Associação Brasileira de Startups.

Isso significa que os profissionais podem ter de abrir mão da qualidade de vida, pelo menos por um período, para que a empresa cresça. Se o trabalho não tiver significado e o profissional não gostar de assumir novas funções, será impossível sobreviver. Para se dar bem, é preciso colocar a mão na massa, ajudar as áreas correlatas e gostar da adrenalina de não saber exatamente quais serão as tarefas a ser exercidas num dia.

É isso que desperta a paixão de Geórgia Dreyer, de 32 anos, gerente de vendas da PmWeb, empresa de Porto Alegre especializada em marketing em nuvem que, no ano passado, virou sócia da Oracle. Geórgia sempre gostou de iniciar operações — seja em startups, seja em grandes empresas.

Com passagens pela Gol, quando foi responsável por reestruturar o programa de fidelidade, e pelo Groupon, que na época estava no auge da consolidação das operações, Geórgia gosta de fazer acontecer. “Trabalho mais do que em uma empresa normal e por isso adoro startups”, diz Geórgia. “Nada me deixa mais satisfeita do que ver que meu esforço é reconhecido pelos outros.”

Vontade de arriscar

Startups são empresas de risco. Nunca se sabe se vão se consolidar e render milhões ou durar pouco tempo. Um estudo da Fundação Dom Cabral, escola de negócios de Minas Gerais, mostrou que 25% das startups brasileiras fecham em menos de um ano. “Trabalhar em startup é um esporte extremo”, diz Diego, do Startupi.

Claro que dá para se proteger avaliando qual é o plano de negócios da nova empresa, quem são os sócios e se há um bom investidor por trás, mas isso só minimiza os riscos, não os extermina. “A única certeza em uma startup é a incerteza”, diz Pedro, da e.Bricks. “É preciso ter consciência de que, se as coisas não saírem bem, poderá haver corte de salários, redução de equipe e aumento da carga de trabalho.” Se a vontade de se aventurar é grande e o profissional acredita na causa da empresa, esses empecilhos ficam em segundo plano.

Foi o caso de Fabrício Almeida, de 33 anos, diretor de logística da Dafiti. Há quatro anos, quando foi chamado para conhecer o plano de negócios da empresa, a Dafiti não era a gigante do varejo online no Brasil — era apenas uma ideia no papel. Uma ideia que ainda nem tinha nome. Na época, Fabrício era gerente de logística da Atlas, companhia tradicional do ramo. “Os sócios da Dafiti estavam com um plano logístico ousado — entregar um volume alto de produtos de pequeno porte em todo o Brasil — e queriam uma consultoria sobre como desenhar a operação”, diz Fabrício.

Ele se interessou tanto pelo desafio que, quando foi convidado a se tornar diretor logístico da startup, aceitou na hora. “Sou o funcionário número 8”, conta Fabrício. Em 2011, quando recebeu um investimento inicial de 50 milhões de reais da incubadora europeia Rocket, especializada em investir em startups, a Dafiti deslanchou. Mas o começo foi difícil.

Fabrício participava de todas as etapas da operação logística: da embalagem à entrega. O diminuto escritório da empresa, em São Paulo, ficava lotado de produtos. “Usávamos até o banheiro como depósito”, diz Fabrício. “Se eu não tivesse arriscado, não estaria hoje à frente de um centro de distribuição de38.000 metros quadradose liderando 800 pessoas.”

Mais autonomia

Com menos níveis hierárquicos e equipes pequenas, as startups precisam de funcionários que gostem de trabalhar com autonomia — só assim terão rapidez para inovar, para solucionar os novos problemas que surgem a cada dia, para ir em busca de informações relevantes em outros setores e até com pessoas de fora da empresa.

Autonomia é um aspecto altamente valorizado pelos profissionais hoje, e não tê-la costuma gerar insatisfação. Só que isso não é para qualquer um. “É necessário ter bastante confiança no próprio trabalho e não ter medo de tomar decisões sozinho — e de bancá-las depois”, diz Wilson, da Caldeira Marketing.

Quem tem essas características e busca um crescimento profissional veloz encontra nas startups uma das melhores opções de carreira. “O funcionário precisa se envolver, imprescindivelmente, com todas as áreas, e isso gera conhecimento, pois a aprendizagem é rápida”, diz Rosi, da Associação Brasileira de Startups.

A possibilidade de ter autonomia para decidir foi o que mais atraiu Luciana da Mata, de 39 anos, para trabalhar como diretora comercial na Bidu, startup de seguros online fundada em 2012. Antes de chegar à empresa, há três meses, Luciana era gerente de qualidade no Itaú Unibanco, onde ficou por seis anos.

A proposta para trocar uma instituição consolidada por uma startup tentou Lu­ciana pela possibilidade de deixar uma marca pessoal. “Apesar de o ritmo ser intenso, como nas grandes empresas, a diferença é que uma startup está aberta ao novo”, diz Luciana. “Tenho flexibilidade para fazer o que acho que deve ser feito e rapidez para implementar mudanças.”

Essa liberdade só precisa estar alinhada com uma meta: fazer com que a Bidu se torne a maior empresa de seguros online no Brasil. “Eu me senti dona do negócio assim que entrei aqui, um sentimento que não é tão comum e leva mais tempo para aparecer em empresas tradicionais”, diz Luciana.

Essa velocidade com que as pessoas se identificam com o trabalho talvez seja uma vantagem decisiva a favor das startups. Sem ignorar os riscos e o trabalho intenso, a satisfação profissional é capaz de compensar pacotes de benefícios mais convencionais. Por isso, as startups merecem ser olhadas como o próximo passo da carreira.

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