A importância de ser global
Para o argentino Pedro Suarez, presidente da indústria química Dow, as interações com estrangeiros enriquecem a carreira e devem ser buscadas por todos os profissionais
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo - Emsua carreira executiva,o argentino PedroSuarez, de 59 anos, presidentepara a AméricaLatina da indústriaquímica Dow, viveuna Espanha, na Suíça, nos EstadosUnidos e no Brasil. Depois de muitasviagens e 30 anos de profissão, aindaconsidera a experiência internacionalenriquecedora.
“Eu me transformonum profissional mais preparadoa cada palavra que troco com umestrangeiro”, diz. Na entrevista aseguir, Pedro fala sobre sua experiênciainternacional e explica o quelevar em consideração quando surgiruma oportunidade de expatriação.
VOCÊ S/A - Que lições o senhor tirou da experiênciainternacional?
PedroSuarez - Quem se conecta com novas culturasaprende a se expor e a fazer osresultados aparecer para pessoas comas quais não imaginaria trabalhar.
A atuação internacional me fez sermais paciente com meus colegas esubordinados. Comecei a percebercom mais clareza as diferenças deperfil entre as pessoas.
VOCÊ S/A -Quais competências o senhor considerafundamentais para um executivoser bem-sucedido fora de seu país?
PedroSuarez - Curiosidade e propensão para enfrentarnovas situações. Sem essascaracterísticas não é possível fazeruma boa carreira internacional. Sóconsegue sucesso no exterior quemtem vontade de aprender o máximopossível da cultura alheia e constróirelações confi áveis e duradouras comos estrangeiros.
Ter intimidade coma língua local é importantíssimo. É aconversa que aproxima as pessoas efaz com que o estrangeiro mergulhede fato numa cultura nova. Quandoestá fora de seu país, você tem queagir como uma esponja.
VOCÊ S/A -São cada vez mais comuns reportsinternacionais, times multiculturaisou centros de serviços compartilhados.Essa mentalidade global é umacompetência necessária a todos osprofissionais, mesmo aqueles queainda vivem em seu país de origem?
PedroSuarez - Nesse mundo completamente globalizadonão é só quem dá volta pelomundo que deve estabelecer ligaçõesinternacionais. Hoje é assim que osnegócios funcionam. A tendência éque as empresas se expandam parafora rapidamente. Então, é preciso estarpreparado para desenvolver umamentalidade mais ampla e entenderos benefícios de estar conectado comoutros países.
Quando você está noseu país e conversa pelo telefone outroca e-mails com um japonês, porexemplo, já sai modifi cado pela troca,com a sensação de que aprendeualgo novo. É uma deliciosa sensaçãode plenitude.
VOCÊ S/A -Há uma valorização dos executivosbrasileiros e sul-americanos no mercadohoje? Por quê?
PedroSuarez - Isso vai acontecer cada vez mais. Omundo dos negócios está enxergandoa América do Sul como um localcheio de oportunidades.
Os executivosdaqui têm qualidades valorizadaspelas empresas internacionais:são mais flexíveis, versáteis e, comojá enfrentaram crises econômicas epolíticas, possuem frieza e raciocíniopara encarar situações adversas. Nasminhas viagens, vejo muitos profi ssionaislatino-americanos fazendouma carreira bem-sucedida.
VOCÊ S/A - A cultura paternalista dos latinoamericanospode ser um problemapara profissionais da região?
PedroSuarez - Há uma diferença entre o líder paternalista,que é aquele que não avaliaracionalmente seus subordinados etem tendência a cometer erros, e olíder humano — valorizado em todosos países. É nesse tipo de gestor queos profissionais devem se espelharpara ter sucesso em qualquer lugar.
O líder humano entende o ambienteno qual está alocado e se comunicaao máximo para se integrar.
VOCÊ S/A - O que o senhor faz para se integrar auma equipe estrangeira?
PedroSuarez - Quando chego a uma cidade desconhecida,procuro conversar bastantecom meus pares e subordinados.
Ouvir é muito importante para apreenderos sonhos, as aspirações e ashabilidades de cada um. O maiordesafio é engajar equipes. Na Europa,tive que trabalhar com pessoasde diferentes nacionalidades nummesmo grupo. Consegui motivá-lasmostrando que estávamos juntospara cumprir um objetivo comum.
VOCÊ S/A - O que um profissional deve levar emconta na hora de aceitar uma experiênciano exterior?
PedroSuarez - O desafio é fantástico. Receber umaproposta de expatriação é sempreuma boa notícia. Quem conseguiressa oportunidade precisa ter umaconversa franca com seus familiares.
A esposa, ou o marido, e os fIlhosdevem ter, assim como o profissional,a mesma curiosidade de conhecer umnovo país. O que tenho notado é amaturidade com que os jovens casaisenfrentam essa situação. Presencioexpatriações de jovens executivos efico admirado ao ver como o cônjugetambém está interessado por ir morarnuma nação desconhecida.
VOCÊ S/A - Como o profissional deve agir se acharque ainda não está preparado paraser expatriado?
PedroSuarez - Tem que haver um diálogo sinceroentre líder e funcionário. A expatriaçãoé um passo importante e podeser muito positiva ou negativa para acarreira. Deve-se analisar friamentea vida pessoal para ver se é um bommomento para essa decisão. Já passeipor isso. Um subordinado muitotalentoso estava num momento complicadocom sua família e não podiadeixar seu país.
Eu queria expatriá-lo,mas, depois da conversa, percebemosque ele não renderia lá fora por causade problemas pessoais. Alguns anosmais tarde ele finalmente foi expatriadoe teve uma atuação brilhante.Quem tem talento pode esperar omomento certo.
VOCÊ S/A - Quais são os maiores desafios de umprofissional global?
PedroSuarez - A velocidade de adaptação e a criaçãode relações duradouras. Muitas vezeso profissional não sabe lidar com apressão, acha que precisa mostrartodo o seu potencial em uma semanae acaba cometendo erros. Temque ter calma para, antes de agirarrojadamente, conhecer as pessoase formar um time. E, por mais diferenteque o país seja, você sempreencontra pessoas com as quais podeter pensamentos em comum. A trocaé assustadora, no bom sentido. É umasomatória de conhecimentos quevocê leva para toda a vida.