Quanto de informação sobre você mesmo se deve divulgar?
Como ter conversas abertas e ser você mesmo no trabalho sem prejudicar sua imagem
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 19h22.
São Paulo - Trabalho e vida pessoal não se misturam. Durante décadas, os chefes repetiram essa frase como se fosse uma ordem inquestionável da presidência. No mundo do trabalho do passado, o profissional vestia uma fantasia de funcionário insípido e sem sentimentos para se adequar ao padrão frio e impessoal da firma.
Hoje se sabe que essa ordem é impossível de ser cumprida porque as pessoas são mais complexas do que a imagem idealizada pelos velhos patrões. Nos últimos anos, as empresas perceberam que é preciso respeitar a individualidade do profissional, pois as pessoas querem ser elas mesmas no trabalho.
A ideia em voga hoje é que um ambiente saudável permite conversas francas e respeito à opinião do outro. Pesquisas em comportamento indicam que revelar características pessoais, crenças e emoções ajuda a estabelecer vínculos de confiança .
"Profissionais que demonstram autenticidade inspiram confiança e contribuem para o trabalho em equipe", diz lisa Rosh, professora assistente de gestão na escola Sy Syms de administração, da Universidade Yeshiva, em Nova York, que vem estudando a autenticidade no ambiente corporativo.
Apesar da maior abertura, o ambiente de trabalho ainda tem resquícios do passado de ser um lugar avesso a exibições de pessoalidade. Cria-se assim uma confusão: a pessoa quer falar o que pensa e é estimulada a ser autêntica, mas a mesma empresa que incentiva formalmente também reprime tacitamente demonstrações básicas de humanidade.
Qual será a medida certa? Segundo a professora lisa e sua colega Lynn R. Offermann, professora de ciências organizacionais e comunicação da Universidade de Washington, falar demais a respeito de si mesmo pode prejudicar o profissional. A constatação veio de mais de cinco anos de estudo sobre liderança , formação de equipes e habilidades de comunicação.
O prejuízo ocorre quando o profissional revela demais questões íntimas e demonstra sentimentos extremos, como a ira. Segundo Lisa, os profissionais perdem a noção de sinceridade por duas razões.
"Eles não conhecem seus pontos fortes e fracos e não sabem expor ideias adequadamente", diz Lisa. A incapacidade de encontrar essa medida pode trazer consequências para o profissional, que passa a ser visto como uma pessoa impulsiva e pouco confiável. "Ela será a última pessoa que alguém vai procurar para contar algo pelo medo de ter sua história divulgada nos corredores da empresa no dia seguinte", diz Lisa.
Medida exata
"Hoje, a autenticidade é minha aliada", diz Juliana Lorenzetti, de 33 anos, gerente comercial da Clear Sale, empresa de tecnologia de São Paulo. Mas nem sempre foi assim. Juliana precisou dosar a sinceridade. "Geralmente, a pessoa que quer ser autêntica age sem pensar, o que pode atrapalhar o trabalho e magoar as pessoas", diz Juliana, que no começo da carreira foi mal interpretada por ser franca demais.
Encontrar a medida certa só foi possível depois de analisar algumas situações em que a atitude lhe trouxe maus resultados. Hoje, Juliana sempre avalia o que deve ou não dizer e, claro, a maneira de falar. "A comunicação precisa acontecer para resolver algo, e não para causar um sentimento negativo", diz.
O limite para contar histórias pessoais está relacionado ao cargo que a pessoa ocupa na empresa. Segundo a coach Fattima Motta, sócio-diretora da F&m, de São Paulo, o profissional deve ficar atento para identificar os limites entre trabalho e vida pessoal e distinguir colegas de amigos.
"É preciso ter consciência desses dois papéis", diz. Paulo Schiavon, de 31 anos, diretor de mídia e business intelligence da Iprospect, empresa de marketing digital de São Paulo, costuma abordar questões particulares como forma de aproximar os funcionários. "Falo de minha família, de como comecei a trabalhar e das dificuldades que já passei", diz Paulo. "Isso ajuda a motivar meus funcionários e mostrar que sou parecido com eles", afirma.
Segundo paulo, a questão é não confundir autenticidade com ingenuidade. "Ser verdadeiro não signifca falar tudo o que pensa e para qualquer pessoa. Tem de ter filtro", diz. Antes de compartilhar questões pessoais, pergunte se a informação ajudará as pessoas a entender melhor seu pensamento e sua maneira de agir.
Contar histórias pessoais em demasia também faz a pessoa parecer desajeitada, carente ou mesmo instável. "Falar de assuntos pessoais tem hora e lugar certos", diz Adriana Néglia, consultora de carreira da produtive, de São Paulo.
Hora e lugar
Outro ponto importante é o lugar. Há empresas abertas e há aquelas em que será preciso observar a intimidade que os funcionários costumam revelar para poder se situar. Geralmente, nas companhias maiores, há mais regras e menos espaço para conversas abertas e pessoais. Mas isso não quer dizer que o profissional deva inventar um personagem de si mesmo para conviver no trabalho.
"Não exagere na impessoalidade nem invente história", afirma Lisa. Segundo ela, isso pode parecer óbvio, mas há muitos casos de executivos que inventam situações ou mudam totalmente de jeito para se ajustar à empresa ou a alguma situação. O importante é entender o ambiente e as pessoas que trabalham lá.
Algumas características negativas, como agressividade, nervosismo e ansiedade devem ser minimizadas no trabalho. "Se é uma pessoa explosiva em casa, não pode ser assim no trabalho. Isso pode gerar demissão e atrapalhar o trabalho em equipe", afirma Adriana.
Observar o perfil das pessoas com quem você convive também é essencial. Segundo o psiquiatra Carlos Eduardo Carrion, de São Paulo, se estiver lidando com pessoas muito invejosas ou competitivas, compartilhar pensamentos e experiências no escritório pode ser prejudicial.
"Elas podem usar isso contra você em outra oportunidade", afirma. Seja qual for sua personalidade, o segredo está no equilíbrio. É possível se expressar de forma verdadeira e mais próxima de sua personalidade, mas sem se esquecer de que o ambiente corporativo tem regras.
Quando a experiência pessoal é um exemplo que ajuda a melhorar uma situação, dividi-la vale a pena. Se não for esse o caso, guarde a história para a hora do café ou o almoço com os amigos. Seja você mesmo, mas com cautela.
São Paulo - Trabalho e vida pessoal não se misturam. Durante décadas, os chefes repetiram essa frase como se fosse uma ordem inquestionável da presidência. No mundo do trabalho do passado, o profissional vestia uma fantasia de funcionário insípido e sem sentimentos para se adequar ao padrão frio e impessoal da firma.
Hoje se sabe que essa ordem é impossível de ser cumprida porque as pessoas são mais complexas do que a imagem idealizada pelos velhos patrões. Nos últimos anos, as empresas perceberam que é preciso respeitar a individualidade do profissional, pois as pessoas querem ser elas mesmas no trabalho.
A ideia em voga hoje é que um ambiente saudável permite conversas francas e respeito à opinião do outro. Pesquisas em comportamento indicam que revelar características pessoais, crenças e emoções ajuda a estabelecer vínculos de confiança .
"Profissionais que demonstram autenticidade inspiram confiança e contribuem para o trabalho em equipe", diz lisa Rosh, professora assistente de gestão na escola Sy Syms de administração, da Universidade Yeshiva, em Nova York, que vem estudando a autenticidade no ambiente corporativo.
Apesar da maior abertura, o ambiente de trabalho ainda tem resquícios do passado de ser um lugar avesso a exibições de pessoalidade. Cria-se assim uma confusão: a pessoa quer falar o que pensa e é estimulada a ser autêntica, mas a mesma empresa que incentiva formalmente também reprime tacitamente demonstrações básicas de humanidade.
Qual será a medida certa? Segundo a professora lisa e sua colega Lynn R. Offermann, professora de ciências organizacionais e comunicação da Universidade de Washington, falar demais a respeito de si mesmo pode prejudicar o profissional. A constatação veio de mais de cinco anos de estudo sobre liderança , formação de equipes e habilidades de comunicação.
O prejuízo ocorre quando o profissional revela demais questões íntimas e demonstra sentimentos extremos, como a ira. Segundo Lisa, os profissionais perdem a noção de sinceridade por duas razões.
"Eles não conhecem seus pontos fortes e fracos e não sabem expor ideias adequadamente", diz Lisa. A incapacidade de encontrar essa medida pode trazer consequências para o profissional, que passa a ser visto como uma pessoa impulsiva e pouco confiável. "Ela será a última pessoa que alguém vai procurar para contar algo pelo medo de ter sua história divulgada nos corredores da empresa no dia seguinte", diz Lisa.
Medida exata
"Hoje, a autenticidade é minha aliada", diz Juliana Lorenzetti, de 33 anos, gerente comercial da Clear Sale, empresa de tecnologia de São Paulo. Mas nem sempre foi assim. Juliana precisou dosar a sinceridade. "Geralmente, a pessoa que quer ser autêntica age sem pensar, o que pode atrapalhar o trabalho e magoar as pessoas", diz Juliana, que no começo da carreira foi mal interpretada por ser franca demais.
Encontrar a medida certa só foi possível depois de analisar algumas situações em que a atitude lhe trouxe maus resultados. Hoje, Juliana sempre avalia o que deve ou não dizer e, claro, a maneira de falar. "A comunicação precisa acontecer para resolver algo, e não para causar um sentimento negativo", diz.
O limite para contar histórias pessoais está relacionado ao cargo que a pessoa ocupa na empresa. Segundo a coach Fattima Motta, sócio-diretora da F&m, de São Paulo, o profissional deve ficar atento para identificar os limites entre trabalho e vida pessoal e distinguir colegas de amigos.
"É preciso ter consciência desses dois papéis", diz. Paulo Schiavon, de 31 anos, diretor de mídia e business intelligence da Iprospect, empresa de marketing digital de São Paulo, costuma abordar questões particulares como forma de aproximar os funcionários. "Falo de minha família, de como comecei a trabalhar e das dificuldades que já passei", diz Paulo. "Isso ajuda a motivar meus funcionários e mostrar que sou parecido com eles", afirma.
Segundo paulo, a questão é não confundir autenticidade com ingenuidade. "Ser verdadeiro não signifca falar tudo o que pensa e para qualquer pessoa. Tem de ter filtro", diz. Antes de compartilhar questões pessoais, pergunte se a informação ajudará as pessoas a entender melhor seu pensamento e sua maneira de agir.
Contar histórias pessoais em demasia também faz a pessoa parecer desajeitada, carente ou mesmo instável. "Falar de assuntos pessoais tem hora e lugar certos", diz Adriana Néglia, consultora de carreira da produtive, de São Paulo.
Hora e lugar
Outro ponto importante é o lugar. Há empresas abertas e há aquelas em que será preciso observar a intimidade que os funcionários costumam revelar para poder se situar. Geralmente, nas companhias maiores, há mais regras e menos espaço para conversas abertas e pessoais. Mas isso não quer dizer que o profissional deva inventar um personagem de si mesmo para conviver no trabalho.
"Não exagere na impessoalidade nem invente história", afirma Lisa. Segundo ela, isso pode parecer óbvio, mas há muitos casos de executivos que inventam situações ou mudam totalmente de jeito para se ajustar à empresa ou a alguma situação. O importante é entender o ambiente e as pessoas que trabalham lá.
Algumas características negativas, como agressividade, nervosismo e ansiedade devem ser minimizadas no trabalho. "Se é uma pessoa explosiva em casa, não pode ser assim no trabalho. Isso pode gerar demissão e atrapalhar o trabalho em equipe", afirma Adriana.
Observar o perfil das pessoas com quem você convive também é essencial. Segundo o psiquiatra Carlos Eduardo Carrion, de São Paulo, se estiver lidando com pessoas muito invejosas ou competitivas, compartilhar pensamentos e experiências no escritório pode ser prejudicial.
"Elas podem usar isso contra você em outra oportunidade", afirma. Seja qual for sua personalidade, o segredo está no equilíbrio. É possível se expressar de forma verdadeira e mais próxima de sua personalidade, mas sem se esquecer de que o ambiente corporativo tem regras.
Quando a experiência pessoal é um exemplo que ajuda a melhorar uma situação, dividi-la vale a pena. Se não for esse o caso, guarde a história para a hora do café ou o almoço com os amigos. Seja você mesmo, mas com cautela.