Passageira caminha com mala: Antes de aceitar a proposta, avalie o custo benefício da transição (David Silverman/Getty Images)
Talita Abrantes
Publicado em 28 de abril de 2014 às 08h00.
São Paulo – Cultiva-se a ideia de que toda experiência internacional pode contar pontos para a carreira. O problema é que, apesar das vantagens deste tipo de oportunidade profissional, o custo benefício nem sempre é positivo.
Plano de remuneração incoerente, cultura de difícil acesso, problemas familiares e uma estratégia inconsistente podem dar contornos de pesadelo ao sonho de se tornar expatriado.
Por isso, a proposta até pode ser encantadora, mas é preciso analisá-la com cuidado antes de qualquer movimentação.
“Espera-se muito do expatriado. Por isso, tem que ir com os objetivos traçados e ter claro como suas metas se encaixam dentro da estratégia da empresa”, afirma Fernando Bagnoli, professor do ISE, que tem três experiências e oito anos como expatriado na bagagem – uma delas na China.
Segundo ele, a “expatriação não é garantia de carreira. Ela tem que ser vista como algo além da carreira e do salário”. Com essa ideia em mente, veja o que colocar na balança na hora de negociar esta transição profissional:
1 Quais os benefícios?
O salário oferecido para expatriados, geralmente, tende a ser equivalente ao pago para executivos do país de destino – se o local for desenvolvido. Em países mais pobres ou em situação de conflito, o pacote tende a ser mais atraente.
“Se você vai para um país desenvolvido, não há muito o que negociar. O valor é definido pelas condições de mercado”, afirma o professor. Em alguns casos, além do salário fixo, o executivo tem direito a aluguel, motorista, plano de saúde e educação para filhos.
Neste ponto, cuidado para não se iludir com os valores. É preciso compará-los com o custo e condições de vida do local de destino.
Quanto maior o desafio, melhores devem ser as condições oferecidas pela empresa. Afinal, “morar na China não é o mesmo que morar em Paris ou Nova York”, afirma o professor.
2 Qual é o tipo de contrato?
Verifique se a proposta tem um prazo definido para terminar – e por quanto tempo pode ser prorrogada – ou se a data de retorno ao país de origem está em aberto. “O ideal é ir tendo uma ideia de quanto tempo vai ficar fora do país”, diz.
3 Quais as estratégias da empresa?
Coloque na balança os riscos e as garantias da operação. Quais são os planos de longo prazo da companhia naquele local? Ela tem saúde financeira para isso? O projeto já é estruturado ou você terá que começá-lo do zero?
Quanto maiores os riscos, maiores os ganhos. Mas é preciso ter em mente o quanto você quer colocar em jogo. Sem se esquecer de deixar claras as garantias que você terá caso o projeto não funcione.
4 Você está pronto para a cultura?
Não subestime a cultura, aconselha o especialista. Antes da decisão e da partida, procure conhecer os aspectos de mercado, políticos, sociais, religiosos e de costumes do local.
Na China, por exemplo, os chefes devem ser cautelosos ao criticar um funcionário. “Ele não pode se sentir acuado ou constrangido”, conta Bagnoli. “Ao chamar a atenção de um funcionário, não pode ser direto”.
5 E sua família?
“A situação familiar tem que estar em ordem. Tem que ter zero de problemas familiares”, afirma o especialista.
Mas não só. As relações até podem ser saudáveis dentro de casa, mas um ou outro membro da família pode não estar pronto para este tipo de transição.
Por isso, antes de aceitar a proposta, é preciso sentar com a família e checar se todos estão dispostos a encarar uma nova cultura, passar tanto tempo longe do país de origem e por aí vai.
Pense também em opções para a sua família – principalmente, para os cônjuges. Durante o período que passaram nos Estados Unidos, a esposa de Bagnoli, por exemplo, fez um MBA.
6 É a hora certa?
Como se vê, ter um plano de carreira claro e conhecer bem a si mesmo é essencial para este tipo de transição . “Se a minha primeira expatriação tivesse sido a China, talvez, eu não tivesse aproveitado tanto”, afirma o professor. “Mesmo com toda experiência que eu tinha, penei um pouco no começo”.
7 Você será, realmente, um expatriado?
Fique atento para a diferença entre ir trabalhar em outro país como expatriado ou, simplesmente, conseguir uma oportunidade internacional. Na segunda opção, é você que se convida para trabalhar no exterior.
Neste caso, o pacote de remuneração tende a ser menor e “os riscos são todos com o funcionário”, afirma o especialista.