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Os mitos que atrapalham quem está perto do topo da carreira

Dos limites da autonomia até qual é o "alvo" do poder: especialista desmascara as ideias erradas sobre o alto escalão corporativo

Uma vez no topo sempre no topo? Especialista mostra que a história não é bem assim  (Getty Images)

Talita Abrantes

Publicado em 23 de maio de 2014 às 16h00.

São Paulo – Virar executivo não é a meta de todo profissional. Mas para quem chega neste ponto da carreira , por vezes, é difícil definir com clareza os contornos da nova função.

É a dificuldade de lidar com o poder, por um lado. Ou a necessidade de aprender novas competências, por outro. Não equalizar bem questões como estas pode levar ao fracasso no novo desafio.

José Augusto Figueiredo, presidente da LHH|DBM, já viu diversos casos desse tipo e concorda que alguns se devem a uma visão equivocada do que é ser um executivo de fato. Veja quais são os 5 mitos mais comuns neste sentido:

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Mito 1Suas habilidades atuais sempre trarão sucesso

Até agora, provavelmente, você cresceu na carreira devido a uma gama específica de habilidades que o destacaram no meio da multidão de profissionais no mercado. No entanto, daqui para frente, não há garantias de que o que funcionou no passado trará os mesmos resultados.

Em outros termos: as habilidades que trouxeram a promoção não necessariamente o manterão no cargo.

“As pessoas viram executivas porque mostraram um diferencial”, diz José Augusto Figueiredo. “Mas chega um determinado ponto da carreira que o mundo passa a requerer novas competências”.

Por exemplo, para quem assume um cargo de liderança, as habilidades técnicas continuam importantes, claro. Mas o que pesa é a capacidade de extrair o melhor dos outros para alcançar resultados.

Mito 2Você terá toda autonomia do universo

Outra utopia que alimenta os sonhos pueris dos recém-chegados a um cargo executivo é a ideia de que a partir deste momento da carreira, será possível ter liberdade para fazer o que bem entende.

A história comprova que a vida não é assim. “Não há esta liberdade nem quando você é o dono da empresa”, diz Figueiredo. Evidentemente, o mesmo vale para quem é presidente, diretor e, claro, gerente.

Mais do que em qualquer outra fase da hierarquia, o topo exige uma capacidade “cavalar” de tecer boas negociações. Na prática, isso significa que, além de bons argumentos, o novo executivo precisará de uma dose de “desapego”.

Afinal, negociar também implica em abdicar, ceder, abrir mão em prol do bem comum. (Veja como fazer isso ).

Mito 3Neste ponto, não é permitido errar

Responsabilidade traz evidência. O que, na prática, significa uma porção de holofotes vidrados em cada milimétrica ação que você faz. Junte-se isso aos efeitos hiperbólicos que um deslize pode ter no topo e terás a explicação sobre porque, em um contexto assim, poucos querem errar.

A justificativa é compreensível, porém, ilusória. Se quanto maiores os riscos, melhores os ganhos, podemos afirmar que arriscar-se é essencial neste momento da carreira.

O ponto é que em um cenário incerto, o erro sempre será uma das probabilidades possíveis. Temer encará-lo torna-se, portanto, uma atitude paradoxal. Como manter-se no posto e dar espaço ao novo, se a sua tendência pessoal é paralisar diante do risco de errar?

Além disso, as avó já se cansaram de repetir que “é errando que se aprende”. Por isso, é fato que o erro (quando bem gerido) torna o profissional mais preparado para as próximas etapas. Ou seja, quem acumula uma trajetória consistente de tropeços e consequentes passos firmes pode ganhar, sim, pontos no mercado.

O presidente da LLH|DBM conta que até já pediram a ele a indicação de um executivo que tivesse levado uma empresa à falência. Motivo? Pelo menos assim, o tal presidente saberia o que não fazer sob hipótese alguma.

Mito 4Ser executivo é sinônimo de ter o “rei na barriga”

A arrogância é outra armadilha que pode pôr tudo a perder para o novo executivo. “Ela afugenta as pessoas em volta, diminui o risco dele ser questionado e encostado contra a parede”, descreve Figueiredo.

Como se vê, a arrogância constrói um muro ao redor de quem dá vazão a ela. Se, por um lado, isso traz uma torta forma de proteção, por outro, o impede de ver o que está para além de si. Sem uma visão sistêmica e global, como liderar? Como apostar nos melhores percursos? Como inspirar os outros?

Mito 5“Ter poder” é sinônimo de “ter prazer”

Um cargo no topo pode trazer status e (um certo grau de) poder. Um dos principais erros é acreditar que esta combinação é feita apenas para desaguar em você mesmo.

Quem opta por este conceito acaba focando demasiadamente em si e nutrindo um comportamento egocêntrico. “Não percebe que quando tem poder, o papel dele é proporcionar prazer aos outros”, diz Figueiredo.

Uma das bases da teoria de James Hunter, autor do best-seller “O monge e o executivo”, é a ideia de que o papel de um líder é servir aos outros - a começar por quem está abaixo dele no escalão, segundo ele disse a EXAME.com no ano passado.

Ao focar em si mesmo e usar o poder para isso, o líder perde a dimensão do outro, como diz Figueiredo. E esquece-se de um fato: o reconhecimento é produto natural do ato de servir e se importar com quem está ao seu redor. A satisfação profissional vem exatamente deste ciclo.

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