Pandemia emocional. Quais são as sequelas deixadas pela covid no Brasil?
Seis em cada dez brasileiros que atualmente fazem terapia começaram a se consultar durante a pandemia, revela pesquisa exclusiva do Instituto FSB
Bússola
Publicado em 8 de novembro de 2021 às 14h49.
Última atualização em 8 de novembro de 2021 às 14h58.
Por Marcelo Tokarski*
A pandemia de covid-19 vai a cada semana perdendo força no Brasil, com o avanço da vacinação e a forte queda no número de novos casos e de mortes provocadas pelo coronavírus. Estamos hoje com uma média móvel de mortes na casa dos 232 óbitos por dia, o menor patamar desde 25 de abril do ano passado.
O avanço, claro, pode e deve ser celebrado. Aos poucos, a rotina começa a voltar a alguma normalidade, sem que, pelo menos por enquanto, essa flexibilização das regras (como liberação de estabelecimentos comerciais e dispensa de uso de máscara em espaços públicos abertos) provoque um repique no contágio.
Ao longo desse pouco mais de um ano e meio, muito se falou das consequências sanitárias e econômicas da pandemia de covid-19. De um lado, foram mais de 609 mil vidas perdidas e milhões de infectados. Uma tragédia sem precedentes. De outro, as necessárias medidas restritivas adotadas afetaram o andamento da economia, o que acabou por gerar desemprego e perda de renda para milhões de brasileiros. Sem falar na inflação, que corroeu o poder de compra das famílias.
Mas uma pandemia silenciosa também tem feito muitos estragos no bem-estar da população brasileira, de todos nós: a pandemia emocional. Dados de uma pesquisa exclusiva feita pelo Instituto FSB para a SulAmérica mostram que seis em cada dez brasileiros que atualmente fazem terapia começaram a se consultar durante a pandemia.
De acordo com o estudo, 10% da população acima de 16 anos se consultam com psicólogos atualmente. Antes da pandemia, eram apenas 4%, ou seja, o total de pessoas que buscam ajuda psicológica mais do que dobrou desde que o coronavírus chegou ao país. O diagnóstico não deixa de ter um lado positivo, pois pode significar que as pessoas decidiram buscar ajuda (embora ainda seja uma minoria quem procura auxílio profissional), mas provavelmente reflete também os estragos que toda essa crise sanitária fez no emocional dos brasileiros.
Emocional abalado
Para se ter uma ideia, ainda de acordo com a pesquisa, 53% da população acham que sua saúde emocional piorou desde o início da crise sanitária — as mulheres, mais sobrecarregadas em uma sociedade ainda marcada pela desigual divisão de tarefas no lar, dizem ter ficado mais abaladas (62%) do que os homens (43%). Percentual idêntico (53%) afirmou ter sofrido de ansiedade neste período. E uma parcela expressiva declarou ter manifestado alterações de humor (42%) ou sofrido de insônia (41%). Não é pouco.
Dados de outra pesquisa do Instituto FSB feita em julho para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostravam que, à época, oito em cada dez brasileiros conheciam alguém que tinha morrido de covid-19, seja um familiar, parente, amigo ou colega de trabalho. O trauma da morte de conhecidos certamente teve forte impacto nesse estado emocional tão abalado. Sem falar em quem enfrentou a internação de parentes, a perda do emprego, o excesso de trabalho, a evasão escolar.
O diagnóstico da pesquisa do Instituto FSB/SulAmérica mostra que as sequelas deixadas pela pandemia de covid-19 são e serão bem maiores do que imaginamos. Mas, infelizmente, pouco se vê no país uma discussão séria sobre como enfrentar essa questão, que por muitos anos certamente terá impacto em nossa sociedade. O Brasil que vai aos poucos saindo da pandemia de covid-19 é um país mais cansado, mais ansioso, mais angustiado. Precisamos falar mais dessa outra pandemia.
*Marcelo Tokarskié sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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