Orlando Cintra: Como fica a mobilidade urbana depois da covid-19
A aceleração da transformação digital afeta o desenvolvimento urbano e os conceito de smart cities ganhou potencial
Bússola
Publicado em 4 de fevereiro de 2022 às 14h25.
Por Orlando Cintra*
Ao longo dos últimos quase dois anos, temos observado o impacto da pandemia de covid-19 nos aspectos social, ambiental e econômico. As mudanças no modo de vida das pessoas foram sem precedentes. Quase todos os segmentos do mercado precisaram se adaptar a novas realidades. A resposta mais ou menos ágil, dependendo do setor, foi acelerar a transformação digital e isso afeta também o desenvolvimento urbano.
Com novos hábitos de consumo e o crescimento das tecnologias de automação, nos vimos obrigados a repensar rotinas de trabalho, descanso e lazer. Nesse contexto, soluções inteligentes precisaram ser desenvolvidas ou aperfeiçoadas em um curto espaço de tempo.
O conceito de smart cities, que tinha um ar futurista, ganhou outra conotação, dado o potencial para resolver problemas urbanos complexos. Afinal, com o suporte de tecnologias, como a inteligência artificial e computação em nuvem, surge no horizonte a capacidade de tornar as cidades mais eficientes e responsivas à população.
Mas até que ponto a mobilidade urbana mudou nos últimos anos para atender às necessidades das pessoas? E quais as tendências e desafios que as futuras soluções de mobilidade terão de enfrentar para responder às expectativas do novo consumidor?
Mobilidade urbana: adaptações necessárias
Conforme o distanciamento social, exigido por órgãos públicos, estabelecia-se como norma geral, principalmente em momentos mais críticos da covid-19, quem tinha condições, passou a trabalhar de casa. Quem não podia, deixou de dar caronas ou compartilhar veículos para reduzir o risco de contaminação, mesmo raciocínio que vale para o uso de transportes públicos.
Algumas pessoas que precisavam se deslocar até o trabalho ou realizar atividades rotineiras, como ir à farmácia ou ao mercado, passaram a utilizar a bicicleta como meio de transporte.
Ao longo de 2021, na medida em que avançava o ritmo do plano nacional de imunização, as empresas se sentiram mais seguras para retomar as atividades presenciais, mas ainda de forma híbrida, com soluções como o revezamento de equipes de acordo com o dia da semana.
Muitos colaboradores rapidamente perceberam a vantagem de trabalhar sem deslocamentos todos os dias e a tendência é de que o modelo híbrido se cristalize mesmo depois do fim da pandemia. Isso muda uma série de paradigmas. Os endereços comerciais podem ter menos espaço de escritório, já que as instalações serão de uso mais compartilhado. As pessoas não precisam morar necessariamente na mesma cidade em que trabalham porque, afinal, só têm de comparecer presencialmente alguns dias da semana.
Principais tendências da mobilidade urbana
Assim como a telemedicina foi uma solução viável para os problemas de saúde, com diagnósticos a distância e atendimentos remotos, a mobilidade inteligente é uma resposta para os problemas das cidades, tais como congestionamentos e poluição.
Daqui a menos de cinco anos, segundo as previsões mais otimistas, transportes elétricos e autônomos deixarão de ser uma tendência para se tornarem uma realidade cotidiana.
Para transportes públicos de uso coletivo e compartilhamento de carros, medidas de higiene integradas aos serviços e aferimento de temperatura são uma opção para dar mais segurança às pessoas.
De acordo com previsões da Liga Insights Mobilidade, em 2030 o mercado global de mobilidade crescerá cerca de 75% e atingirá um valor de US$ 26,6 trilhões.
Analistas do estudo revelam que as decisões tomadas hoje serão cruciais para a construção de uma mobilidade urbana mais eficiente, democrática, multimodal e, principalmente, mais inovadora.
Desafios da mobilidade pós-pandemia
A segurança cibernética é outro desafio da mobilidade urbana pós-pandemia. Afinal, garantir que as cidades inteligentes cumpram a proteção de dados e de privacidade é um dos obstáculos que precisaremos enfrentar.
Embora sejam iniciativas promissoras, teremos de aprender a lidar com o risco de danos reais e potenciais. O uso de dados para orientar as respostas a pandemias monitorando com câmeras os deslocamentos das pessoas gera a necessidade de encontrar um equilíbrio adequado entre privacidade pessoal e interesse público.
Além da questão da integridade dos sistemas. Com semáforos interligados, rede de metrôs e outros transportes coletivos, um colapso por invasão por hackers pode causar não apenas uma paralisação da cidade como também causar acidentes.
Outro desafio é a otimização do uso de recursos da cidade, promovendo a eficiência nos deslocamentos e a redução do uso dos automóveis privados, dando prioridade aos espaços urbanos para uso social, ampliando o acesso das pessoas ao sistema de transporte público e diminuindo as emissões de poluentes.
Oportunidades no novo normal
Você consegue imaginar em pleno 2022 um transporte em formato de cápsula que se movimenta por propulsão magnética, locomove pessoas e mercadorias a até 1.200 km por hora e utiliza energia renovável?
Essa solução existe. Chama-se Hyperloop, com potencial enorme de se tornar a próxima geração de transporte sustentável de alta velocidade. No Brasil é desenvolvido e licenciado pela empresa Hyperloop Transportation Technologies.
O Hyperloop apresenta a vantagem de ser o único modal de transportes no mundo que não exige subsídios do governo, já que a tecnologia pode ser comprada e implementada por operadores logísticos, além de instituições privadas com papel relevante no segmento de infraestrutura e construção.
Além de sustentável, do ponto de vista ambiental, essa característica torna o transporte sustentável economicamente.
Os modais atuais têm pouca capacidade ou interesse em desenvolver inovações relevantes contra problemas crônicos como engarrafamento, poluição e experiência do usuário.
Além disso, o aumento da população metropolitana traz a necessidade de modelos de transporte com conexão rápida de regiões marginais aos centros das cidades.
A pessoa mora em Campinas, Valinhos e região e pegaria o Hyperloop duas, três vezes na semana. Hoje uma pessoa que mora em Alphaville, pode levar de uma a duas horas para se deslocar, se não conseguir fugir do horário de rush. Aliás, haverá ainda um horário de rush, num contexto de trabalho flexível?
Estudos de viabilidade estão sendo realizados em locais tão distintos quanto o Meio Oeste dos EUA, Emirados Árabes e Rio Grande do Sul. Distâncias que levariam quase duas horas para serem vencidas, levarão cerca de 15 minutos a meia hora, tornando menos importante a relação de distância entre trabalho e moradia.
Acreditamos que aproveitar os impactos da pandemia para evoluirmos em termos de mobilidade urbana faz todo sentido e é parte de uma revolução que já está em curso nas smart cities ao redor do mundo.
*Orlando Cintra é Membro do Conselho de empresas como SMARTIe (Solvi Ambiental), IOB, Alfa Collab e HyperloopTT, além de Founder & CEO do BR Angels
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