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ESG: Pesquisas apontam para um planeta em tilt

Enquanto metade dos brasileiros acredita que precisará mudar para outro lugar devido ao aquecimento global, recessão deve enfraquecer a agenda ESG no mundo

Um em cada dois brasileiros crê que precisará mudar de casa nos próximos 25 anos por causa das mudanças climáticas (Getty Images/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 6 de outubro de 2022 às 12h24.

Por Renato Krausz

Andei lendo ou relendo tantas pesquisas de opinião ligadas a sustentabilidade nos últimos dias que me deu um tilt na cachola. Eis que diante de enorme quantidade de informações, fiquei sem saber sobre qual infortúnio tratar aqui. Então resolvi misturar tudo. Pode não ser muito científico, mas é uma forma de encontrar um fio nesta meada.

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Para começar, um em cada dois de nós brasileiros acredita que precisará mudar de casa nos próximos 25 anos por causa das mudanças climáticas. O índice de 49% registrado aqui é o terceiro maior do mundo, perdendo apenas da Índia, onde 65% creem nisso, e da Turquia, com 64%, de acordo com pesquisa feita em 34 países pela Ipsos, em parceria com o Fórum Econômico Mundial.

Nem mesmo lá na Holanda, país que tem quase 30% do seu território abaixo do nível do mar, a desesperança tem esse tamanho todo, muito pelo contrário, apenas 21% imaginam que precisarão colocar a trouxa no ombro e procurar outro lugar para viver. Talvez pensem assim pelos avanços tecnológicos e pelas melhores condições de vida, que costumam rarear em países menos desenvolvidos.

Este levantamento, que entrevistou 23.507 pessoas, das quais mil no Brasil, também aferiu que 71% dos nossos concidadãos presumem que mudanças severas causadas pelo clima serão realidade na região onde vivem nos próximos dez anos. E 63% afirmam que já sentem os transtornos hoje mesmo, contra uma média de 56% no resto do mundo.

Puxo pela memória (ok, vai, pelo Google) outra pesquisa no Brasil que trata disso, divulgada pelo Ibope há exatamente um ano, sobre a qual já escrevi aqui. Veja só, os pesquisadores chegaram a um resultado praticamente igual: 72% dos entrevistados disseram suspeitar que os problemas do aquecimento global serão prejudiciais a si e às suas famílias. E mais: ao todo 92% têm consciência de que o danado está em curso.

A despeito disso tudo, só 25% afirmaram ter amplo conhecimento sobre as mudanças climáticas, e parcos 17% já tomaram alguma iniciativa para enfrentá-las, o que faz de nós um tipo meio estranho e paradoxal de gente consciente-porém-ignorante-e-inerte. Fui injusto, não tão inerte assim. Uma reação mais assertiva foi averiguada nos hábitos de consumo: 59% dos brasileiros garantiram já ter deixado de comprar ou usar algum produto devido a danos causados ao meio ambiente.

Aí pulo para outra pesquisa, mais recente, realizada em junho último pela A Arte da Marca, que conduziu 1.136 entrevistas online com brasileiros acima de 18 anos das classes ABC. Neste universo, 74% disseram pagar mais por produtos ou serviços sustentáveis.

Por essa mesma época, a consultoria Walk The Talk by La Maison trouxe a público o resultado de uma pesquisa com 4.421 brasileiros de 16 a 64 anos, também das classes ABC, pela qual foi constatado que 94% deles esperam que as empresas façam algo relacionado a ESG, embora apenas 17% acreditem que elas de fato o fazem.

Tivesse eu o mínimo traquejo para desenhar, já estaria retocando as sombras do retrato falado de um conterrâneo típico com cara de assustado, aura de preguiça, postura de cobrança e olhar de descrença. Mas não sei nem traçar uma linha reta, então sigo escrevendo essas tortas mesmo.

Passemos para o mundo das empresas. O que será que esse nosso brasileiro do retrato falado e também gente de outros lugares do mundo podem encontrar? Uma pesquisa da KPMG que saiu anteontem mostra que o gap entre a expectativa das pessoas e aquilo que as companhias têm para oferecer pode ficar ainda maior.

Foram entrevistados 1.325 CEOs globais e, embora boa parte reconheça os benefícios do ESG para o negócio e perceba uma cobrança bem maior por parte de investidores e clientes, a agenda “mágica” da sigla de três letras será revista, em razão de uma recessão que 86% dos mandachuvas acreditam que o planeta enfrentará nos próximos 12 meses. Melhor dizendo, já está sendo revista. Metade dos CEOs admitiu que os esforços ESG serão pausados ou reconsiderados por um período de seis meses, e 34% deles disseram que o botão para começar isso já foi acionado.

As principais dificuldades apontadas por eles para entrega da estratégia ESG são a existência de outros assuntos comerciais/econômicos urgentes que os levam a desviar o foco da agenda, as regulações alteradas com frequência, a falta de orçamento para investir na transformação ESG e a tecnologia necessária para medir efetivamente o sucesso das iniciativas.

Vale lembrar de uma outra pesquisa (a última desse texto, prometo) realizada no ano passado pelo Instituto FSB, a pedido da Beon ESG Strategies, com empresas médias e grandes de todo o Brasil, que constatou que apenas 31% das nossas companhias já transformaram as questões socioambientais em metas. E só 15,5% conectam essas metas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. E míseros 3% atrelam a remuneração dos executivos a tudo isso.

Lendo todas essas pesquisas não é difícil concluir que precisamos acelerar os avanços e acabar com os retrocessos na busca por um mundo mais habitável e menos desigual. Ou, então, nos preparar para juntar os pertences e procurar outro lugar para morar dentro de 25 anos, se é que ainda haverá para onde ir num planeta que, talvez irremediavelmente, a exemplo dessa minha pobre cachola, entrará em tilt.

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