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Com pandemia, cai o número de diagnósticos precoces de câncer

Somente em câncer de próstata, houve redução de 50% nas autorizações de radioterapia e diminuição de 21% nos pacientes atendidos

Demanda reprimida pode gerar filas para tratamento (Jasmin Merdan/Getty Images)

Demanda reprimida pode gerar filas para tratamento (Jasmin Merdan/Getty Images)

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Publicado em 30 de maio de 2022 às 15h45.

A pandemia de covid-19 reduziu as visitas ao médico de pessoas com suspeitas de câncer, diminuindo o número de diagnósticos precoces — essenciais para o combate da doença. Esse é o resultado de um realizado em abril de 2022 pelo Observatório de Oncologia em parceria com a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e o movimento social Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC). Prta entender os resultados, a Bússola conversou com o oncologista Paulo Lázaro de Moraes, especialista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Bússola: O número de novos casos de câncer cresce a cada ano em todo o mundo. E, no Brasil houve queda do número de diagnósticos precoces?

Paulo Lázaro de Moraes: Exatamente. A pandemia de covid-19 gerou uma queda estatística no número de diagnósticos precoces e, consequentemente, de pacientes atendidos e tratados pelos sistemas de saúde. A principal causa é a menor incidência das visitas aos centros clínicos. Os dados mais expressivos revelam queda de 39% em procedimentos de radioterapia e redução de 12% no número de pacientes atendidos, quando comparados os números entre 2019 e 2021.

A pesquisa considera os números contabilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em especial os quantitativos oriundos do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS) e das Autorizações de Procedimentos de Alta Complexidade de Radioterapia (APAC). Com base nos números observados, foi organizada uma distribuição proporcional entre pessoas do mesmo sexo, em relação aos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2020, com exceção de pele não melanoma.

Bússola: Quais os principais resultados do estudo?

Paulo Lázaro de Moraes: Entre os homens, o maior número diz respeito ao câncer de próstata, em que foi observada redução de 50% nas autorizações de radioterapia e diminuição de 21% no número de pacientes atendidos. Para se ter uma noção mais detalhada sobre o que representa esse impacto na diminuição dos atendimentos, em 2019, cerca de 22 mil homens foram atendidos, sendo que 31% deles estavam em estágio avançado da doença. Em 2021, esse quantitativo caiu para 17 mil atendimentos, enquanto aumentou para 34% o número de pacientes em estágio avançado.

Em relação às mulheres, a maior prevalência se deve ao câncer de mama, que apresentou queda de 39% das autorizações de radioterapia e redução de 11% na quantidade de pacientes atendidas. Da mesma forma, podem ser destacados a redução nos atendimentos nesse período, que foi de mais 31 mil mulheres em 2019, para pouco mais de 27 mil pacientes atendidas em 2021. Além disso, também se observou aumento no número de pessoas em estágio avançado de câncer de mama, pulando de 41% para 43% do total de pacientes atendidas.

Bússola: Qual é o potencial de mortalidade desses dois tipos de câncer?

Paulo Lázaro de Moraes: De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de próstata mata mais de 15 mil homens por ano, enquanto o de mama feminina é fatal para aproximadamente 18 mil mulheres por ano. Um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) revela que, durante a pandemia do novo coronavírus, 60% dos serviços de radioterapia do país tiveram queda nos atendimentos. Entre as principais causas apontadas pelo estudo, estão o não encaminhamento dos pacientes pelos seus médicos para a radioterapia; o medo do paciente ou dos familiares em relação ao tratamento por radioterapia e a redução no diagnóstico de novos casos de câncer.

Bússola: Com a reabertura, como o senhor avalia o cenário futuro de diagnósticos?

Paulo Lázaro de Moraes: A avaliação é de que a demanda reprimida pode gerar filas para tratamento e aumento dos casos mais avançados de câncer. Desta forma, é preciso criar uma interação muito grande entre a sociedade civil organizada — como foi no Fórum Big Data e como faz o Observatório de Oncologia — para que, em conjunto com o Governo Federal, esses índices possam ser melhorados. A pesquisa revela a necessidade de integrar o sistema de saúde e encontrar onde estão as deficiências para conseguir ampliar o número de atendimentos à população e, então, realizar a detecção precoce do câncer e o tratamento adequado da enfermidade.

 

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