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A pandemia virou o jogo. Mas nossos filhos vão viver na Idade das Trevas?

O impacto da pandemia é absolutamente imprevisível, porém previsivelmente gigantesco e assustador

O que faremos com crianças que passaram os últimos 12 meses encarando uma tela de computador? (Valter Campanato/Agência Brasil)
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Da Redação

Publicado em 26 de maio de 2021 às 17h23.

Última atualização em 26 de maio de 2021 às 17h32.

Por Rodrigo Pinotti*

Se você, assim como eu, já não é mais nenhum xóvenzinho, sabe muito bem que seu olho poderia cair caso ficasse tempo demais em frente à televisão, assistindo à Caverna do Dragão ou jogando aquele videogame de 8 bits, conforme ameaçadoramente informado na época por nossas progenitoras.

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Corta para 2021: não só incentivamos como temos obrigado nossos filhos a passar horas seguidas olhando para a tela de um computador, porque, afinal, a escola agora está ali dentro. Nós mesmos aumentamos imensamente a carga de uso dos eletrônicos no trabalho e mesmo para o lazer. Como diz o meme, parece que o jogo virou, não é mesmo?

A primeira pandemia da Era Digital mudou nossa relação com a tecnologia de maneira irreversível. Segundo a Anatel, o uso de internet cresceu 50% no Brasil durante o período (as reclamações sobre problemas no acesso também aumentaram muito, mas esse é outro tema). Todos os fabricantes de computadores registraram aumento de vendas de notebooks, em todas as faixas de preço. A mesma coisa ocorreu com tablets.

Se o impacto mais imediato é o aumento do consumo da tecnologia, podemos esperar que este período seja o nascedouro de mudanças bem mais profundas que moldarão nosso futuro. A popularização da internet e o advento das redes sociais já haviam potencializado características inerentes de nossa condição como seres sociais, como o poder do boca-a-boca e a capacidade de organização política.

Sabemos quanto nossas relações com marcas, governos e uns com os outros foram afetadas. Imagine agora o impacto de um evento como a pandemia nas condições em que vivemos hoje: ele é absolutamente imprevisível, porém previsivelmente gigantesco.

Pensar nisso dá um pouco de medo, porque essas mudanças não serão necessariamente positivas e a Marcha da História não se importa muito com o que fica pelo caminho. Podemos estar em um momento comparável com a queda de Roma, que marcou o início da Idade das Trevas, séculos seguidos de estagnação social e científica que poderíamos apenas pular se a trajetória humana fosse uma série no streaming. Podemos, também, estar à beira de um novo Renascimento, que impulsionou o desenvolvimento na Europa e moldou o mundo tal qual o conhecemos hoje.

É claro, as oportunidades aparecem pelo caminho. A Idade das Trevas coincidiu (permitiu?) com o florescimento da civilização árabe, um período de enormes avanços nas artes, matemática e astronomia no Oriente Médio. Até hoje você usa os algarismos numéricos que eles inventaram, por exemplo, refinando um conjunto anteriormente criado pelos hindus.

Em outras palavras, hoje, para comprar pão, você aplica uma tecnologia inventada por beduínos que viviam em um deserto, no século 7. Imagine o que vai acontecer com um exército de crianças da geração alpha que passaram os últimos 12 meses enfiados em casa com a cara no computador. Não sabemos se será bom ou ruim, mas com certeza será interessante — e colossal.

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