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A contradição entre as ruas e as pesquisas

Bolsonaro vem mostrando bem mais capacidade de mobilização popular direta que os adversários, mas nas pesquisas aparece atrás de seu principal concorrente

Sempre haverá quem diga que não se deve confiar nas pesquisas. Ou, do outro lado, que fatores extracampo influíram para a adesão aos atos antibolsonaristas (Eduardo Frazão/Exame)

Sempre haverá quem diga que não se deve confiar nas pesquisas. Ou, do outro lado, que fatores extracampo influíram para a adesão aos atos antibolsonaristas (Eduardo Frazão/Exame)

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Publicado em 3 de outubro de 2021 às 15h58.

Última atualização em 3 de outubro de 2021 às 16h09.

Por Alon Feuerwerker*

Parece haver uma contradição entre dois medidores de sinais na conjuntura. O presidente da República vem mostrando bem mais capacidade de mobilização popular direta que os adversários, mas nas pesquisas de intenção de voto Jair Bolsonaro aparece atrás de seu principal concorrente. Em algumas, aparece em desvantagem contra praticamente todos os até agora postulantes a um lugar no grid.

Sempre haverá quem diga, então, que não se deve confiar nas pesquisas. Ou, do outro lado, que fatores extracampo influíram para a apenas relativa adesão aos atos antibolsonaristas. Cada um cultiva a tese que mais lhe convém. Mas vale a pena buscar olhar os fatos como são e tentar acender uma vela em vez de maldizer a escuridão. E se as duas coisas, apesar de contraditórias, espelharem aspectos da mesma realidade?

É perfeitamente possível o presidente da República estar ilhado em seus cerca de 30% de aprovação, mas ela estar apoiada em um contingente muito mobilizável. Aliás, um parêntese: aprovação só pode ser aferida quando se pergunta “aprova ou desaprova” o governo ou o presidente. Misturar “ótimo+bom” com “aprovação” é um erro metodológico. Se não for por outra razão, pelo simples fato de parte do “regular” certamente aprovar.

Também é perfeitamente possível que a rejeição a Bolsonaro se materialize, no momento, na adesão automática a algum adversário, mas sem haver por enquanto entusiasmo suficiente na massa não militante para qualquer coisa além de responder a pesquisas. O que não chega a resolver o problema do incumbente. Pois, se não é pesquisa que decide eleição, tampouco o vencedor é definido pelo tanto de gente que põe na rua.

Mas a capacidade de mobilização direta não deve ser subestimada. Além de injetar ânimo nos apoiadores, acaba despertando e estimulando dúvidas nos mais propensos a definir seu lado a partir das possibilidades de sucesso. Acaba funcionando, a exemplo das pesquisas, como força centrípeta, como elemento que impede, ou pelo menos dificulta, a dissolução da expectativa de poder. E isso é ainda mais vital para quem está no governo e quer continuar.

Aguardam-se os próximos capítulos. E os fatos novos. A Comissão Parlamentar de Inquérito na Covid-19 no Senado concluirá seus trabalhos com um relatório que, se não houver surpresa, buscará incriminar pesadamente o presidente e o entorno dele. Só o futuro dirá qual será a consequência jurídica. Mas no plano político o desgaste para o ocupante do Planalto e candidato à reeleição parece previamente precificado.

Na economia, o emprego dá sinais de alguma reação, no Caged e no IBGE, mas a inflação mostra-se resiliente. De todo modo, é improvável que o governo vá assistir passivamente à perenização das dificuldades econômicas. O laissez faire, laissez passer não costuma ser muito popular em ano de eleição, especialmente quando o governante está em desvantagem. É pule de dez que Bolsonaro adotará medidas para enfrentar os gargalos econômicos.

*Alon Feuerwerker é Analista Político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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