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USP leva estudantes para municípios carentes

O objetivo da Bandeira Científica é reforçar a formação dos estudantes e ajudar no desenvolvimento da saúde do município

Bandeira Científica: projeto da USP leva há 16 anos não só serviços de saúde a municípios pequenos, mas também planejamento específico para gargalos existentes na região (Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2013 às 11h44.

Pedra Azul (MG) – Mais de 20 horas depois de sair, em quatro ônibus, de São Paulo, um grupo de 180 pessoas, entre profissionais e estudantes, chegou à cidade mineira cheio de entusiasmo para concluir o planejamento para dez dias de atuação na cidade.

Às 3h da madrugada, eles viram que teriam apenas cinco horas de sono, pois às 8h, deveriam estar prontos para atender a população do município.

Este é o ritmo da Bandeira Científica, projeto da Universidade de São Paulo (USP), que leva há 16 anos não só serviços de saúde a municípios pequenos, mas também planejamento específico para os gargalos existentes na região.

O objetivo da Bandeira Científica é reforçar a formação dos estudantes e ajudar no desenvolvimento da saúde do município.

“Na faculdade, eu nunca tinha lidado com pacientes desnutridos, mas, nessas expedições, tenho possibilidade de aprender mais sobre um problema tão grave no Brasil e de ajudar a quem não consegue atendimento no dia a dia”, diz a estudante de nutrição Vanessa Sayuri.

Para Thiago Donda, que está se formando em odontologia, o projeto é uma oportunidade de usar tudo o que aprendeu na faculdade para ajudar aos mais carentes.

“Quando vi a boquinha da primeira paciente da zona rural, me deu vontade de chorar. Precisei fazer quatro extrações”, lembra, emocionado.

Segundo o coordenador do projeto, Luiz Fernando Ferraz, trabalhar ao máximo com as ferramentas disponíveis é a grande lição da Bandeira Científica para ser dada tanto aos profissionais da cidade quanto aos estudantes.


“No Hospital das Clínicas [onde atuam os estudantes de medicina da USP], se eles quiserem avaliar uma dor de cabeça, mandam para a tomografia. Aqui não há nada disso e é preciso ver se vale a pena o paciente esperar meses até conseguir o Tratamento Fora do Domicílio [programa que leva o paciente a outra cidade onde possa fazer o exame de que precisa]. Nem sempre isso é necessário e, muitas vezes, dá para resolver o problema sem o exame”, destaca Ferraz.

No período que passou em Pedra Azul, a equipe fez cerca de 600 atendimentos em todas as áreas de saúde, além de entregar 50 próteses dentárias e mais de 500 óculos aos moradores do município. A Bandeira Científica também visitou em casa doentes acamados, que não tinham como ir aos postos de atendimento.

A dona de casa Sanita Dias, por exemplo, recebeu da equipe orientação para ajudar o filho de 24 anos, que tem paralisia cerebral.

Os profissionais a ensinaram a fazer exercícios com o filho e também como levantá-lo sem forçar a coluna.

Além de profissionais da saúde, o projeto inclui grupos de engenharia, para fazer planejamento na área de saneamento básico, de administração e de economia, para cursos de empreendedorismo.

Eles ainda montam uma oficina para projetos e reforma de instrumentos usados para facilitar a vida de quem tem limitações físicas.

“É desafiador pegar o que aprendemos na faculdade e colocar na prática”, afirma o estudante de engenharia mecânica Antônio Souza.

“Desenvolvemos uma estrutura para que um paciente da fisioterapia que não tem as pernas possa se apoiar na hora do banho com menos dificuldades”, informa João Thuler, também estudante de engenharia mecânica.


Este ano 130 estudantes e 50 profissionais ficaram entre os dias 11 e 21 deste mês em Pedra Azul, município mineiro com pouco mais de 24 mil habitantes, dos quais cerca de 3.500 recebem o Bolsa Família. Um dos critérios para escolha da cidade visitada pela Bandeira Científica é o compromisso dos gestores locais em dar continuidade ao trabalho e executar os projetos deixados pelos bandeirantes.

Os custos do projeto podem chegar a R$ 400 mil por ano, com cerca de 80% dos recursos vindo de patrocínio de empresas da rede privada, que doam remédios, óculos, camisetas, dinheiro.

O grupo farmacêutico Sanofi, por exemplo, além de recursos financeiros, envia anualmente dez empregados, que fazer o trabalho de apoio à expedição.

Durante a estadia dos bandeirantes nos pequenos municípios, eles fazem também pesquisas temáticas, tanto para montar um planejamento local como também para fins acadêmicos. Em Pedra Azul, foram coletaram informações sobre o pré-natal das gestantes, sobre o HPV e a vacina contra a doença.

“Se observarmos que há um problema grave no atendimento às gestantes, trabalhamos em cima disso e orientamos a prefeitura a dar continuidade ao trabalho”, explica Ferraz.

Em 2006, por exemplo, a Bandeira Científica percebeu que, em Machadinho d'Oeste, Rondônia, havia uma grande demanda psiquiátrica, mas como, na época, o município não tinha o número mínimo de habitantes para conseguir a construção de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) pelo Ministério da Saúde , a expedição fez um estudo sobre a situação local.

“Foi a primeira vez que vi os nossos psiquiatras não darem conta. Houve uma quantidade absurda de atendimentos, o dobro da demanda normal”, relembra Ferraz.

Percebendo tamanha demanda, a expedição fez mais uma pesquisa e entregou um relatório com o selo da USP para que a prefeitura pudesse solicitar novamente ao Ministério da Saúde a construção de um Caps. E, dessa vez, conseguiu.

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Pedra Azul (MG) – Mais de 20 horas depois de sair, em quatro ônibus, de São Paulo, um grupo de 180 pessoas, entre profissionais e estudantes, chegou à cidade mineira cheio de entusiasmo para concluir o planejamento para dez dias de atuação na cidade.

Às 3h da madrugada, eles viram que teriam apenas cinco horas de sono, pois às 8h, deveriam estar prontos para atender a população do município.

Este é o ritmo da Bandeira Científica, projeto da Universidade de São Paulo (USP), que leva há 16 anos não só serviços de saúde a municípios pequenos, mas também planejamento específico para os gargalos existentes na região.

O objetivo da Bandeira Científica é reforçar a formação dos estudantes e ajudar no desenvolvimento da saúde do município.

“Na faculdade, eu nunca tinha lidado com pacientes desnutridos, mas, nessas expedições, tenho possibilidade de aprender mais sobre um problema tão grave no Brasil e de ajudar a quem não consegue atendimento no dia a dia”, diz a estudante de nutrição Vanessa Sayuri.

Para Thiago Donda, que está se formando em odontologia, o projeto é uma oportunidade de usar tudo o que aprendeu na faculdade para ajudar aos mais carentes.

“Quando vi a boquinha da primeira paciente da zona rural, me deu vontade de chorar. Precisei fazer quatro extrações”, lembra, emocionado.

Segundo o coordenador do projeto, Luiz Fernando Ferraz, trabalhar ao máximo com as ferramentas disponíveis é a grande lição da Bandeira Científica para ser dada tanto aos profissionais da cidade quanto aos estudantes.


“No Hospital das Clínicas [onde atuam os estudantes de medicina da USP], se eles quiserem avaliar uma dor de cabeça, mandam para a tomografia. Aqui não há nada disso e é preciso ver se vale a pena o paciente esperar meses até conseguir o Tratamento Fora do Domicílio [programa que leva o paciente a outra cidade onde possa fazer o exame de que precisa]. Nem sempre isso é necessário e, muitas vezes, dá para resolver o problema sem o exame”, destaca Ferraz.

No período que passou em Pedra Azul, a equipe fez cerca de 600 atendimentos em todas as áreas de saúde, além de entregar 50 próteses dentárias e mais de 500 óculos aos moradores do município. A Bandeira Científica também visitou em casa doentes acamados, que não tinham como ir aos postos de atendimento.

A dona de casa Sanita Dias, por exemplo, recebeu da equipe orientação para ajudar o filho de 24 anos, que tem paralisia cerebral.

Os profissionais a ensinaram a fazer exercícios com o filho e também como levantá-lo sem forçar a coluna.

Além de profissionais da saúde, o projeto inclui grupos de engenharia, para fazer planejamento na área de saneamento básico, de administração e de economia, para cursos de empreendedorismo.

Eles ainda montam uma oficina para projetos e reforma de instrumentos usados para facilitar a vida de quem tem limitações físicas.

“É desafiador pegar o que aprendemos na faculdade e colocar na prática”, afirma o estudante de engenharia mecânica Antônio Souza.

“Desenvolvemos uma estrutura para que um paciente da fisioterapia que não tem as pernas possa se apoiar na hora do banho com menos dificuldades”, informa João Thuler, também estudante de engenharia mecânica.


Este ano 130 estudantes e 50 profissionais ficaram entre os dias 11 e 21 deste mês em Pedra Azul, município mineiro com pouco mais de 24 mil habitantes, dos quais cerca de 3.500 recebem o Bolsa Família. Um dos critérios para escolha da cidade visitada pela Bandeira Científica é o compromisso dos gestores locais em dar continuidade ao trabalho e executar os projetos deixados pelos bandeirantes.

Os custos do projeto podem chegar a R$ 400 mil por ano, com cerca de 80% dos recursos vindo de patrocínio de empresas da rede privada, que doam remédios, óculos, camisetas, dinheiro.

O grupo farmacêutico Sanofi, por exemplo, além de recursos financeiros, envia anualmente dez empregados, que fazer o trabalho de apoio à expedição.

Durante a estadia dos bandeirantes nos pequenos municípios, eles fazem também pesquisas temáticas, tanto para montar um planejamento local como também para fins acadêmicos. Em Pedra Azul, foram coletaram informações sobre o pré-natal das gestantes, sobre o HPV e a vacina contra a doença.

“Se observarmos que há um problema grave no atendimento às gestantes, trabalhamos em cima disso e orientamos a prefeitura a dar continuidade ao trabalho”, explica Ferraz.

Em 2006, por exemplo, a Bandeira Científica percebeu que, em Machadinho d'Oeste, Rondônia, havia uma grande demanda psiquiátrica, mas como, na época, o município não tinha o número mínimo de habitantes para conseguir a construção de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) pelo Ministério da Saúde , a expedição fez um estudo sobre a situação local.

“Foi a primeira vez que vi os nossos psiquiatras não darem conta. Houve uma quantidade absurda de atendimentos, o dobro da demanda normal”, relembra Ferraz.

Percebendo tamanha demanda, a expedição fez mais uma pesquisa e entregou um relatório com o selo da USP para que a prefeitura pudesse solicitar novamente ao Ministério da Saúde a construção de um Caps. E, dessa vez, conseguiu.

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