Sérgio Moro, o juiz que faz tremer a política brasileira
Com sua decisão de colocar Lula no banco dos réus, o magistrado soma mais um capítulo a um processo iniciado há mais de três anos com a Lava Jato
AFP
Publicado em 10 de maio de 2017 às 14h51.
Última atualização em 10 de maio de 2017 às 15h33.
Um paladino que quer resgatar o Brasil da corrupção endêmica ou um puritano que criminalizou a política: o juiz Sérgio Moro chega nesta quarta-feira à última fronteira de sua investigação sobre os bastidores do poder - o ex-presidente Lula .
Com sua decisão de fazer sentar o líder histórico da esquerda brasileira no banco dos réus por corrupção, o temido e admirado magistrado soma mais um capítulo a um incrível processo iniciado há mais de três anos com a abertura da Operação Lava Jato, a maior investigação sobre corrupção na história.
Desde então, sua fama cresceu ao ritmo das revelações das escandalosas práticas de corrupção conhecidas como Petrolão.
Em suas redes caíram de ex-diretores da companhia até os poderoso donos das principais construtoras do país, passando por políticos de grande e pequeno calibre, em movimentos que pouco a pouco estreitaram o cerco contra uma das figuras até então intocáveis da política latino-americano.
Foi Moro que, em 4 de março de 2016, ordenou a condução coercitiva de Luta para um interrogatório e no mesmo mês divulgou a gravação de uma conversa entre ele e sua sucessora, Dilma Rousseff (2011-2016), que sugeria que ela tentava torná-lo ministro para que o fórum privilegiado o protegesse da justiça comum.
Lula prestou juramento em seu novo cargo, mas nunca conseguiu assumi-lo, impedido pelo STF. A legalidade do vazamento do áudio foi duramente questionada.
"Eu, sinceramente, estou assustado com a República de Curitiba", afirmou o ex-presidente na gravação divulgada com autorização do próprio magistrado.
Ironicamente, essa frase transformou Curitiba, onde juiz e réu estarão frente a frente, em sinônimo de justiça para quem apoia a causa e antagoniza Lula.
"Mãos Limpas"
Moro nasceu há 44 anos na cidade paranaense de Maringá, e ali se formou em Direito, tornando-se juiz em 1996. Doutor e professor universitário, completou sua formação na respeitada Universidade de Harvard.
É admirado por muitos de seus pares, que o definem como um juiz preparado, rápido e decidido.
Seus detratores, em compensação, o consideram abusivo no uso das prisões preventivas e suficientemente politizado para pretender anular Lula como candidato presidencial para 2018, disputa que lidera com folga segundo as pesquisas.
"Moro instituiu a prisão preventiva como regra, quando, em qualquer país civilizado, é a exceção", criticou o advogado Antonio Carlos de Almeida, defensor de vários envolvidos no Petrolão.
Nas últimas semanas, a Operação Lava Jato sofreu um de seus maiores reveses com a libertação de dirigentes condenados por Moro, como o ex-chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, por parte do STF.
Mas o magistrado estudioso da histórica Operação "Mani Pulite" ("Mãos Limpas"), que desarticulou a complexa rede de corrupção que dominava a Itália nos anos 1990 e na qual se inspirou, optou por não comentar essas decisões e se limitou a pedir que quem apoia a Operação Lava Jato se abstivesse de viajar a Curitiba para não alimentar a intenção de Lula e seus partidários de "transformar um ato normal do processo penal (...) em um evento político-partidário".