Exame Logo

Qualidade da água do rio Tietê melhora, mas mancha de poluição quase dobra em dois anos

Com 1.136 km de extensão, o Tietê nasce na cidade de Salesópolis e corta todo o interior do estado de São Paulo, passando por 62 municípios, até encontrar a sua foz no rio Paraná

Tietê: a principal fonte de poluição do rio é o esgoto doméstico lançado na Grande São Paulo (DAEE/Divulgação)
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 19 de setembro de 2023 às 17h00.

Última atualização em 19 de setembro de 2023 às 17h40.

A qualidade da água do rio Tiete melhorou, mas a mancha de poluição quase dobrou nos últimos dois anos, segundo o relatório divulgado nesta terça-feira, 19, pela Fundação SOS Mata Atlântica, instituiçãoque milita pela limpeza do rio desde 1992.

Com 1.136 km de extensão, o Tietê nasce na cidade de Salesópolis e corta todo o interior do estado de São Paulo, passando por 62 municípios, até encontrar a sua foz no rio Paraná. Hoje, a principal fonte de poluição do rio é o esgoto doméstico lançado pela Grande São Paulo.

Veja também

Segundo os dados, a água de qualidade imprópria para uso atinge 160 quilômetros do rio, o que representa um aumento de 31% em relação a 2022, quando a mancha chegou a 122 quilômetros. Na comparação com 2021, quando a macha somou 85quilômetros, a alta foi de 88%.

Por outro lado, a proporção de água de boa qualidade subiu de 60 para 119quilômetrosna atual medição. O número quase igualou o registrado em 2021, quando 124quilômetrosdo rio Tietê apresentaram qualidade boa da água. Cerca de 293quilômetros tiveramcondição regular, sinalizando uma situação geral estável no rio.O balanço anual é divulgado em setembro em comemoração do dia do Tietê, celebrado no próximo dia 22.

Gustavo Veronesi, coordenador do SOS Mata Atlântica, explica que o aumento da mancha de poluição é um sinal de alerta. Ele destaca a melhoria na água do Tietê desde 2016, mas aponta que a variação da qualidade ao longo do rio indica que a água ainda é afetada por condições locais, como esgoto ou gestão de reservatórios.

“Isso reforça a necessidade de planos integrados para toda a bacia do rio Tietê, considerando os aspectos climáticos, do saneamento ambiental nas cidades e do uso da terra nas áreas rurais, visando a conservação da quantidade e da qualidade da água e seus múltiplos usos ao longo de toda a sua extensão. É preciso mais empenho e investimentos para que, de fato, a universalização do tratamento de esgoto seja atingida em 2033, como prevê a lei, ou em 2029, como se comprometeu o atual governo do estado de São Paulo”, afirma o coordenador, em nota.

Como o participação de 41 grupos de voluntários em 28 municípios, incluindo 18 pontos na capital paulista, a avaliação abrange 16 indicadores, seguindo o Índice de Qualidade da Água (IQA).O monitoramento foi realizado ao longo de 576 quilômetros do Tietê, em 59 pontos de coleta distribuídos por 34 rios das bacias hidrográficas do Alto Tietê (AT), Sorocaba/Médio Tietê (SMT) e Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abrangem 102 municípios das regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba. Isso representa 50% da bacia de drenagem do rio Tietê.O estudo é patrocinado pela Ypê e faz parte do projeto Observando os Rios, instrumento de educação ambiental, ciência cidadã, fomento à cidadania e governança em prol de água limpa para todos.

Nos quilômetros analisados, a água é de boa qualidade em 61 quilômetros, da nascente em Salesópolis até Mogi das Cruzes, e em outros 58 quilômetros perto do reservatório de Barra Bonita. Os 293 quilômetros de água regular estão divididos em quatro trechos nas bacias do Alto e Médio Tietê, enquanto os 160 quilômetros com água imprópria devido à poluição -- sendo 127 km com qualidade ruim e 33 km, péssima -- vão da nascente até Barra Bonita, na hidrovia Tietê-Paraná.Não foi observada água de qualidade ótima, algo que se repete desde 2010.

Veronesi ressalta que os resultados positivos comprovam que é possível recuperar a qualidade da água com programas de saneamento ambiental executados por meio de projetos de Estado e com envolvimento da população. “Despoluir rios precisa ser uma prioridade dos atuais e futuros governantes por meio de políticas públicas que perpassem administrações. Assim como bebemos água todos os dias, é necessário buscarmos diariamente a despoluição e recuperação dos rios”, completa. O relatório completo do Observando o Tietê 2023 pode ser acessado no site da Fundação SOS Mata Atlântica.

Quais são os projetos do governo para despoluir o rio Tietê?

Por anos, o principal programa do governo de São Paulo para limpar o rio foi o Projeto Tietê, coordenado pela Sabesp. Com obras para levar coletae tratamento de esgoto para a população paulista, a administração estadual conseguiu gradativamente deixar de despejar esgoto sem tratamento no rio. Segundo dados da Sabesp de 2018, US$ 3,4 bilhões já foram investidos no projeto.

Em 2023, sob a gestão Tarcísio, o programa ganhou uma nova roupagem e passou a ser chamado deIntegraTietê. A ideia é ter uma maior integração entre governo, iniciativa privada e sociedade civil para medidas de curto, médio e longo prazo em prol da melhora da qualidade do rio. A previsão é que, até 2026, sejam investidos R$ 5,6 bilhões na ampliação da rede de saneamento básico, desassoreamento, gestão de pôlderes, melhorias no monitoramento da qualidade da água, recuperação de fauna e flora, entre outras medidas.O governadorTarcísio de Freitas (Republicanos) já afirmou quea privatização da Sabesp poderia favorecer a despoluição do rio.

Acompanhe tudo sobre:SabespSaneamentoPoluição

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Brasil

Mais na Exame