PT está dividido sobre pedir mandato de Marta na justiça
O PT está dividido sobre a possibilidade de requerer na Justiça o mandato da senadora, que formalizou sua desfiliação hoje
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2015 às 17h28.
São Paulo - O PT está dividido sobre a possibilidade de requerer na Justiça o mandato da senadora Marta Suplicy , que formalizou nesta terça-feira, 28, sua desfiliação depois de 33 anos de militância petista.
Formalmente a decisão caberá ao diretório estadual, presidido pelo ex-prefeito de Osasco Emidio de Souza, pois o mandato de senador é um cargo majoritário estadual. Emidio já se posicionou diversas vezes a favor de o PT tentar retomar o mandato de Marta.
Ele argumenta que a senadora se recusou a dialogar com o partido sobre os motivos de sua insatisfação e, portanto, não tem argumentos para alegar perseguição ou diferenças ideológicas. Marta deu os primeiros sinais de afastamento na entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na qual dizia que ou "o PT muda ou acaba". O presidente estadual foi encarregado de procurá-la para uma conversa, mas Marta nem sequer teria respondido os pedidos para um jantar.
A posição de Emidio é reforçada pela pressão da militância manifestada ao longo do dia por meio das redes sociais e por alguns integrantes da direção nacional do PT.
Alberto Cantalice, vice-presidente do PT e responsável pelas redes sociais do partido, diz que há muita pressão nas redes sociais para que o partido peça o mandato na justiça. "É direito do partido pedir o mandato e a militância quer isso. O sentimento é este. Marta saiu por livre e espontânea vontade", afirma o dirigente.
Por outro lado, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, considera que a tentativa de requerer o mandato de Marta na Justiça seria um erro político. Para Falcão, não existe segurança de que a ação teria respaldo da Justiça, pois ao contrário dos deputados, o cargo de senador é majoritário, pessoal. Entre os advogados próximos ao PT existem muitas dúvidas a respeito da eficácia da ação.
Com base neste argumento, o presidente nacional do PT alega que uma representação contra Marta na Justiça Eleitoral poderia trazer desgaste ao partido sem a certeza de um resultado favorável.
A senadora poderia usar o longo processo judicial como palanque para fazer novos e reiterados ataques ao PT e ainda posar como vítima do partido diante da opinião pública. Além disso, Falcão argumenta que a decisão deve sair apenas em meados do ano que vem, quando tanto Marta quanto o prefeito Fernando Haddad estarão em plena campanha pela prefeitura de São Paulo.
Na próxima terça-feira, 5 de maio, a executiva municipal do PT da Capital, ao qual Marta era filiada, vai se reunir para avaliar o caso. A decisão será tomada em conjunto pelas instâncias partidárias mas a palavra final caberá ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, segundo interlocutores está mais próximo da posição de Falcão.
Segundo fontes petistas, o partido não deve tomar a decisão antes de Marta se filiar ao PSB, o que só deve acontecer no final do mês.
Até lá o PT está mais preocupado em dar uma resposta política à senadora. Os presidentes nacional, e municipal, Paulo Fiorilo, divulgarão uma nota ainda nesta terça para rebater os ataques feitos por Marta na carta de desfiliação. A maior preocupação do PT em relação à saída de Marta é quanto ao impacto na candidatura de Haddad à reeleição. Existe no partido o temor real de que ela atraia o PMDB, partido ao qual seu marido, Marcio Toledo é filiado, e reduza consideravelmente o tempo do petista na TV.
Dois anos depois da eleição que levou Dilma ao Planalto, a já senadora tentou disputar a prefeitura de São Paulo. O partido, no entanto, preferiu Haddad.
A posse no Ministério da Cultura no mesmo ano veio com uma espécie de prêmio de consolação – no entanto, a vitória de Haddad nas urnas paulistanas enterrou as chances de Marta tentar voltar à prefeitura de São Paulo em 2016 como candidata do PT.
No ano passado, veio a gota d´água. Marta se empenhou na campanha para a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para as eleições presidenciais. Na prática, ela não foi a única dentro da sigla a endossar a ideia. O problema é que, naquele momento, ela fazia parte da equipe ministerial de Dilma e o apoio ao “Volta, Lula” não caiu bem.
O movimento encabeçado pela senadora acabou não surtindo efeito e Dilma entrou na disputa pela reeleição. Marta, por sua vez, não se empenhou pela vitória da presidente – ao contrário da maior parte dos ministros. Com a apertada vitória de Dilma nas urnas, sua presença no governo se tornou insustentável. Cortejada por diversas siglas desde que começou a sinalizar uma insatisfação com o PT, Marta deve migrar para o PSB. A expectativa é que ela seja candidata à prefeitura de São Paulo em 2016 – quando Fernando Haddad, seu agora antigo colega de partido, deve tentar a reeleição. Em nota, o presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que a atitude de Marta é motivada por ambição política e que a senadora estaria reagindo com falta de ética, de maneira oportunista, ao fato de "não ter sido indicada candidata à Prefeitura de São Paulo em 2012".