Professor de jiu-jitsu de projeto social é morto por policiais no Alemão
Jean ia em direção à escola quando levou um tiro na cabeça e morreu na hora. Houve protestos de moradores; polícia do RJ matou 5 pessoas por dia neste ano
Agência Brasil
Publicado em 15 de maio de 2019 às 13h45.
Rio de Janeiro — O professor de jiu-jitsu, Jean Rodrigues da Silva Aldrovande, mestre na escola Maneco Team, foi morto na tarde desta terça-feira (14) com um tiro na cabeça durante um intenso tiroteio que surpreendeu moradores na entrada da localidade conhecida como Relicário, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro .
Um rapaz que frequenta a academia e estava perto de Jean ficou ferido na perna e levado para um hospital público.
De acordo com moradores, policiais militares teriam entrado na comunidade atirando e um tiro atingiu o atleta na cabeça. Após a morte de Jean, moradores fecharam a Estrada Adhemar Bebianno, em Inhaúma, um dos acessos ao Complexo do Alemão, e atearam fogo em madeiras e pneus.
A vítima era professor de artes marciais de um projeto social na comunidade e estava se preparando para atuar em várias competições.
O projeto social no Complexo do Alemão é custeado pelo Ministério do Esporte e Jean ganhava R$ 950 por mês, de acordo com o contracheque de abril, apresentado pela família do atleta.
De acordo com o Jornal Voz das Comunidades, editado no Alemão, Jean ia participar de uma competição de jiu-jitsu em Juiz de Fora (MG), de disputar o torneio do Sesi e um campeonato brasileiro neste mês.
De acordo com moradores, Jean estava focado nos treinos e caminhava em direção a escola de artes marciais quando foi baleado com um tiro na cabeça e morreu na hora.
A mãe de Jean falou sobre a perda do filho em um vídeo:
Em nota, a assessoria da Polícia Militar informou que, na tarde de hoje, equipes das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão foram acionadas para verificar uma ação que culminou com dois homens atingidos por disparos de arma de fogo na Rua Canitar.
Chegando ao local, "os policiais constataram o fato e já se depararam com uma manifestação na Estrada Adhemar Bebianno, atuando para estabilizar a região. O comando da Coordenadoria de Polícia Pacificadora está apurando a dinâmica como o fato ocorreu".
No documento, a PM não informa se houve alguma ação na comunidade em que houve troca de tiros envolvendo militares e traficantes de drogas.
As Polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro mataram 434 pessoas de janeiro a março deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ).
Foram quase cinco (4,82) mortos por dia, recorde para o período na série estatística de 21 anos, iniciada em 1998.