Procuradora da Lava Jato se desculpa por fala irônica após morte de Marisa
Mensagens reveladas pelo The Intercept e UOL mostram conversas de procuradores ironizando a morte da ex-primeira dama e o pedido de Lula para ir ao velório
Clara Cerioni
Publicado em 28 de agosto de 2019 às 10h36.
Última atualização em 28 de agosto de 2019 às 10h46.
Brasília — A procuradora da República Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, pediu desculpas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o site The Intercept, em parceria com o UOL, vazar trechos de uma conversa na qual Jerusa e outros procuradores ironizam a morte da ex-primeira dama Marisa Letícia e o pedido de Lula para ir ao velório da esposa.
"Errei. Minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula", postou Jerusa em seu Twitter.
https://twitter.com/jerusabv/status/1166502935053918209
Após o pedido de desculpas, muitos internautas passaram a afirmar que o post da procuradora era, além da manifestação de arrependimento, um reconhecimento da veracidade das mensagens que vem sendo vazadas pelo The Intercept desde junho.
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), líder da bancada do PT na Câmara, reconheceu a nobreza do gesto da procuradora mas ressaltou que "é ainda mais importante o reconhecimento da veracidade das mensagens da #VazaJato".
A colega de partido de Pimenta, Benedita da Silva, repostou o pedido de desculpas de Jerusa com a frase "a verdade sempre prevalece".
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também se pronunciou. "Apenas uma procuradora pediu desculpas pelas absurdas ironias com mortes trágicas na família do ex-presidente Lula, levando esposa, irmão e neto", comentou.
"Espero que a reflexão noturna traga senso de humanidade aos agressores. Ainda há tempo", concluiu.
Ao perceber a repercussão do post inicial no qual pedia desculpas pelas ironias, Jerusa publicou outros dois textos nos quais afirma que "os procuradores da Lava Jato nunca negaram que há mensagens verdadeiras, exatamente porque foram efetivamente hackeados.Contudo, não é possível saber exatamente o quanto está correto, porque é impossível recordar de detalhes de 1 milhão de mensagens em 5 anos intensos".
E continuou: "lembrar de uma mensagem não autentica todo o conjunto. A existência de mensagens verdadeiras não afasta o fato de que as mensagens são fruto de crime e têm sido descontextualizadas ou deturpadas para fazer falsas acusações".
Entenda os vazamentos
Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda está em curso uma extensa investigação, conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.
O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.