Problema dos brasiguaios será desafio para novo presidente
Os brasiguaios são responsáveis pela grande parte da produção agrícola paraguaia
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Buenos Aires – O novo presidente do Paraguai , que será eleito domingo (21) e assumirá em agosto, tem um desafio pela frente: administrar os conflitos de terra, que marcaram o governo de Fernando Lugo (2008-2012) e ameaçam os 350 mil brasiguaios – como são chamados os brasileiros e seus descendentes que moram no país. A maioria vive da produção agrícola.
A agropecuária representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB) paraguaio, mas é responsável por 40% do crescimento econômico do país, que este ano pode alcançar 13%, segundo as ultimas estimativas do Banco Central do Paraguai.
Os brasiguaios são responsáveis pela grande parte da produção agrícola paraguaia – “cerca de 80%”, assegura a advogada Marilene Sguarizi, filha de colonos brasileiros e representante de cooperativas agrícolas.
Durante a campanha eleitoral, representantes dos brasiguaios reuniram-se com os dois presidenciáveis que lideram as pesquisas de opinião: Horácio Cartes, do Partido Colorado, e Efrain Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico. “Existe muita incerteza sobre quem vai ganhar, mas nestas eleições temos uma vantagem: tanto Cartes quanto Alegre têm consciência de que é preciso resolver o problema dos conflitos de terra”, disse Marilene, em entrevista à Agência Brasil . “Pedimos a ambos estabilidade jurídica”, acrescentou.
Em 2012, carperos (como são chamados os sem-terra paraguaios) ocuparam fazendas de Tranquilo Favero – um brasileiro, naturalizado paraguaio, conhecido como “rei da soja”. Alegavam que os títulos de propriedade dos produtores brasileiros são falsos.
Favero, assim como muitos outros brasiguaios, adquiriram terras baratas durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). Segundo movimentos sociais ligados à reforma agrária, terras do estado foram vendidas de forma irregular.
Os brasiguaios dizem que compraram as terras de boa fé e que investiram tempo, trabalho e dinheiro para torná-las produtivas. Atualmente, o Paraguai é o quarto produtor mundial de soja e está entre os maiores produtores de carne. “Para continuarmos investindo precisamos ter garantias jurídicas, que não existiam no governo de Lugo”, disse a advogada Marilene Sguarizi.
Eleito em 2008 com a promessa de governar para os pobres (que representam 30% da população paraguaia), o ex-bispo Fernando Lugo procurou resolver o conflito de terras sem repressão, deixando a questão nas mãos da Justiça. Mas sem intervenção da polícia, as ordens judiciais para desocupar as terras não eram cumpridas.
Foi um conflito de terra que desencadeou a queda de Lugo, um ano antes de concluir seu mandato. No dia 15 de junho de 2012, um enfrentamento entre policias e sem-terra, no interior do país, resultou na morte de 17 pessoas. O Congresso (de maioria opositora) acusou Lugo de “mau desempenho” e o submeteu a julgamento político. Uma semana depois do massacre, ele foi destituído e substituído pelo vice, Federico Franco – político conservador do Partido Liberal Radical Autêntico.
Mal assumiu, Franco recebeu 12 representantes da colônia brasileira no Paraguai, que manifestaram publicamente seu apoio ao novo governo e pediram à presidenta Dilma Rousseff que fizesse o mesmo. De nada adiantou.
Os governos da região questionaram a legitimidade do impeachment “relâmpago”, que Lugo chamou de “golpe parlamentar”. Brasil, Argentina e Uruguai suspenderam o Paraguai do Mercosul até as eleições presidenciais e incluíram a Venezuela como membro pleno. A adesão venezuelana tinha sido vetada, até então, pelo Congresso paraguaio – o mesmo que destituiu Lugo.
“Nós fomos beneficiados pelo processo de impeachment e nos sentimos traídos pelo governo brasileiro”, disse Marilene Sguarizi. “Na hora em que nossas terras estavam sendo invadidas, ninguém nos apoiou – o Brasil dizia que era um problema interno do Paraguai. Na hora em que os paraguaios destituem Lugo e colocam um presidente que faz valer a lei, o Brasil nos dá as costas”, acrescentou.
Tanto Cartes quanto Alegre têm posição mais favorável aos donos de terras do que Lugo. Cartes é candidato do Partido Colorado, que esteve no poder durante 61 anos, 35 deles na ditadura de Alfredo Stroessner. “Para os colorados, é delicado discutir a venda de terras brasileiras em tempos de Stroessner”, disse à Agência Brasil o diretor do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep), Federico Masi.
Já Alegre pertence ao mesmo partido que Franco, “mas os liberais estão divididos em três facções e nem todas pensam igual”. Alegre pertence a uma ala mais moderada que a do atual presidente e que apresenta um discurso mais social.
Apesar de o Paraguai ter se beneficiado da alta nos preços da soja e ter reduzido os níveis de pobreza de 40% a 30%, o nível de indigência não baixou. “A indigência ainda afeta 19% dos paraguaios, a grande maioria no setor rural”, disse Masi.
Buenos Aires – O novo presidente do Paraguai , que será eleito domingo (21) e assumirá em agosto, tem um desafio pela frente: administrar os conflitos de terra, que marcaram o governo de Fernando Lugo (2008-2012) e ameaçam os 350 mil brasiguaios – como são chamados os brasileiros e seus descendentes que moram no país. A maioria vive da produção agrícola.
A agropecuária representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB) paraguaio, mas é responsável por 40% do crescimento econômico do país, que este ano pode alcançar 13%, segundo as ultimas estimativas do Banco Central do Paraguai.
Os brasiguaios são responsáveis pela grande parte da produção agrícola paraguaia – “cerca de 80%”, assegura a advogada Marilene Sguarizi, filha de colonos brasileiros e representante de cooperativas agrícolas.
Durante a campanha eleitoral, representantes dos brasiguaios reuniram-se com os dois presidenciáveis que lideram as pesquisas de opinião: Horácio Cartes, do Partido Colorado, e Efrain Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico. “Existe muita incerteza sobre quem vai ganhar, mas nestas eleições temos uma vantagem: tanto Cartes quanto Alegre têm consciência de que é preciso resolver o problema dos conflitos de terra”, disse Marilene, em entrevista à Agência Brasil . “Pedimos a ambos estabilidade jurídica”, acrescentou.
Em 2012, carperos (como são chamados os sem-terra paraguaios) ocuparam fazendas de Tranquilo Favero – um brasileiro, naturalizado paraguaio, conhecido como “rei da soja”. Alegavam que os títulos de propriedade dos produtores brasileiros são falsos.
Favero, assim como muitos outros brasiguaios, adquiriram terras baratas durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). Segundo movimentos sociais ligados à reforma agrária, terras do estado foram vendidas de forma irregular.
Os brasiguaios dizem que compraram as terras de boa fé e que investiram tempo, trabalho e dinheiro para torná-las produtivas. Atualmente, o Paraguai é o quarto produtor mundial de soja e está entre os maiores produtores de carne. “Para continuarmos investindo precisamos ter garantias jurídicas, que não existiam no governo de Lugo”, disse a advogada Marilene Sguarizi.
Eleito em 2008 com a promessa de governar para os pobres (que representam 30% da população paraguaia), o ex-bispo Fernando Lugo procurou resolver o conflito de terras sem repressão, deixando a questão nas mãos da Justiça. Mas sem intervenção da polícia, as ordens judiciais para desocupar as terras não eram cumpridas.
Foi um conflito de terra que desencadeou a queda de Lugo, um ano antes de concluir seu mandato. No dia 15 de junho de 2012, um enfrentamento entre policias e sem-terra, no interior do país, resultou na morte de 17 pessoas. O Congresso (de maioria opositora) acusou Lugo de “mau desempenho” e o submeteu a julgamento político. Uma semana depois do massacre, ele foi destituído e substituído pelo vice, Federico Franco – político conservador do Partido Liberal Radical Autêntico.
Mal assumiu, Franco recebeu 12 representantes da colônia brasileira no Paraguai, que manifestaram publicamente seu apoio ao novo governo e pediram à presidenta Dilma Rousseff que fizesse o mesmo. De nada adiantou.
Os governos da região questionaram a legitimidade do impeachment “relâmpago”, que Lugo chamou de “golpe parlamentar”. Brasil, Argentina e Uruguai suspenderam o Paraguai do Mercosul até as eleições presidenciais e incluíram a Venezuela como membro pleno. A adesão venezuelana tinha sido vetada, até então, pelo Congresso paraguaio – o mesmo que destituiu Lugo.
“Nós fomos beneficiados pelo processo de impeachment e nos sentimos traídos pelo governo brasileiro”, disse Marilene Sguarizi. “Na hora em que nossas terras estavam sendo invadidas, ninguém nos apoiou – o Brasil dizia que era um problema interno do Paraguai. Na hora em que os paraguaios destituem Lugo e colocam um presidente que faz valer a lei, o Brasil nos dá as costas”, acrescentou.
Tanto Cartes quanto Alegre têm posição mais favorável aos donos de terras do que Lugo. Cartes é candidato do Partido Colorado, que esteve no poder durante 61 anos, 35 deles na ditadura de Alfredo Stroessner. “Para os colorados, é delicado discutir a venda de terras brasileiras em tempos de Stroessner”, disse à Agência Brasil o diretor do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep), Federico Masi.
Já Alegre pertence ao mesmo partido que Franco, “mas os liberais estão divididos em três facções e nem todas pensam igual”. Alegre pertence a uma ala mais moderada que a do atual presidente e que apresenta um discurso mais social.
Apesar de o Paraguai ter se beneficiado da alta nos preços da soja e ter reduzido os níveis de pobreza de 40% a 30%, o nível de indigência não baixou. “A indigência ainda afeta 19% dos paraguaios, a grande maioria no setor rural”, disse Masi.