Privatização da Eletrobras: crise hídrica deve gerar impacto no Congresso
Escassez de água e aumento do custo da energia representam novos elementos no jogo político por trás da capitalização da empresa, dizem analistas políticos; população se divide sobre venda da estatal
Carla Aranha
Publicado em 2 de junho de 2021 às 15h18.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 15h24.
A 20 dias do prazo final para a aprovação no Congresso da medida provisória que autoriza a privatização da Eletrobras , o agravamento da crise hídrica deve representar um elemento a mais no jogo político por trás da capitalização da maior empresa de energia elétrica da América Latina, na opinião de economistas e analistas políticos.
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“Se tivermos uma crise hídrica severa, o mundo político vai ter um cuidado maior com o debate da privatização da Eletrobras, e o investidor tende a ficar atento a riscos e uma eventual judicialização”, diz Murilo de Aragão, cientista político e presidente da Arko Advice. “A oposição é contrária à privatização, assim como os sindicatos, o que colabora para o caldo de debate”.
No Congresso, a capitalização da empresa, considerada uma grande empregadora em regiões como o Norte e Nordeste, não é unanimidade nem entre a base aliada. O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) é uma das vozes contrárias à privatização e, por isso, teria pedido para não ser escolhido relator da medida provisória — seu colega de bancada, senador Marco Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo no Congresso, acabou assumindo a missão nesta terça, dia 1º.
Um dos principais temores de aliados do governo no Congresso é que o aumento nos preços de energia provocado pela crise hídrica tenha um impacto negativo na privatização da Eletrobras junto à população. Até agora, a venda da empresa divide a opinião dos brasileiros.
Como mostra a última pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une EXAME Invest Pro , braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, 36% da população se diz favorável à capitalização da estatal e outros 36% se mostram contrários.
O levantamento realizado com 1.243 pessoas, entre os dias 19 e 20 de maio. Entre os moradores do Nordeste, 44% não gostariam que a companhia fosse privatizada, ante 32% do Sudeste. Em relação à renda, 52% daqueles que ganham mais de cinco salários-mínimos apoiam a venda da empresa, enquanto apenas 30% dos brasileiros que recebem até um salário-mínimo por mês compartilham dessa opinião.
“Entre os investidores, não se notam mudanças de visão devido à possiblidade de crise hídrica”, diz Victor Tâmega, gerente sênior de infraestrutura da Rio Bravo Investimentos. “A crise pode, isso sim, gerar mais pressão inflacionária, já que o custo da energia produzida por usinas térmicas, às quais o governo poderá ter de recorrer, é bem mais alto do que o das hidrelétricas”. Em média, o preço da energia térmica é pelo menos seis vezes maior do que aquele das hidrelétricas, segundo Tâmega.
Com os reservatórios em baixa, a previsão é que as chuvas intensas, capazes de aliviar o problema, não voltem a aparecer até setembro na Bacia do Rio Paraná, que abastece cinco estados, de acordo com projeções do Instituto Nacional de Meteorologia (Inpe). “As precipitações têm estado abaixo da média pelo menos nos últimos dois anos”, diz Marcia Seabra, coordenadora geral de meteorologia aplicada, desenvolvimento e pesquisa do Inmet.
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