Planalto deve alegar que vídeo de reunião citado por Moro é incompleto
Além da pressão de Bolsonaro para trocar o comando da Polícia Federal, vídeo conteria desentendimento entre ministros Paulo Guedes e Rogério Marinho
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de maio de 2020 às 09h58.
Última atualização em 7 de maio de 2020 às 16h48.
Após o ministro do Supremo Tribunal Federa l (STF) Celso de Mello determinar a entrega do vídeo de uma reunião citada em depoimento pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro , o Palácio do Planalto tentará alegar que as gravações são pontuais e curtas e que, portanto, não tem a íntegra do conteúdo à disposição. Além da suposta pressão que o presidente Jair Bolsonaro teria feito sobreMoropara trocar o comando da Polícia Federal (PF), o vídeo também conteria o registro de um desentendimento entre os ministros da Economia, Paulo Guedes , e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
O argumento, no entanto, contraria declaração do próprio presidente. Segundo revelou na semana passada, os encontros do primeiro escalão são filmados e os arquivos ficam guardados em um cofre. Na ocasião, Bolsonaro chegou a afirmar que divulgaria o vídeo da reunião comMoro, mas depois desistiu. "Último conselho que tive é não divulgar para não criar turbulência", afirmou.
Um dos motivos do recuo seria o desentendimento de Guedes e Marinho sobre gastos públicos para incentivar a retomada da economia após o fim da pandemia de coronavírus . Neste mesmo encontro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, teria feito críticas ao ministro do STF.
Na terça-feira, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, mandou o Palácio Planalto apresentar, em 72 horas, as cópias da reunião entre Bolsonaro e o primeiro escalão do governo do dia 22 de abril, dois dias antes da demissão deMoro. A ordem do decano também obriga o governo a preservar a integridade do conteúdo da gravação.
Secom
A gravação está atualmente sob responsabilidade do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten. Citado pelo site Antagonista como o responsável por ter formatado o cartão de memória da reunião do dia 22, o chefe da assessoria especial da Presidência, Célio Faria Júnior, negou que tenha ficado com a gravação. "Não é da minha competência gravar, manter, ou trabalhar qualquer tipo de mídia na Presidência da República. Essa competência é da Secom (Secretaria Especial de Comunicação)", disse.
Questionado se a gravação citada porMoroainda existe, o chefe da assessoria de Bolsonaro voltou a citar a órgão comandado por Wajngarten. "Não é da minha competência. Se existe ou não quem pode responder é a Secom", disse.
Questionada sobre a existência do vídeo e protocolos sobre gravação e armazenamento das reuniões ministeriais, a Secom informou apenas que "o Planalto não comentará". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.