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PCC cumpre ameaça, mata 33 em Roraima e facções desafiam governo

A maioria das vítimas foi esquartejada ou decapitada, método usado pelo PCC em conflitos entre facções

Crime: A maioria das vítimas foi esquartejada ou decapitada, método usado pelo PCC em conflitos entre facções (Spencer Platt/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de janeiro de 2017 às 10h45.

Boa Vista - Cinco dias depois de 60 presos - a maioria do Primeiro Comando da Capital ( PCC ) - terem sido assassinados em cadeias do Amazonas por bandidos da Família do Norte (FDN), a facção paulista iniciou sua vingança e matou 31 detentos ontem na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista, Roraima. O massacre começou às 2h30 (hora local).

Segundo a administração da prisão, os detentos quebraram os cadeados das celas e invadiram a Ala 5, a cozinha e o cadeião - onde estavam os presos de menor periculosidade - e mataram os desafetos.

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A maioria das vítimas foi esquartejada, decapitada ou teve o coração arrancado, método usado pelo PCC em conflitos entre facções. Os corpos foram jogados em um corredor que dá acesso às alas. Não houve fugas.

Os assassinos filmaram as execuções e distribuíram o vídeo pelo WhatsApp. Deixaram claro que se tratava de uma vingança pelo massacre de Manaus.

"Olha aqui o que nós "faz" aqui com você, seu safado. Vocês (bandidos da FDN) mataram os nossos irmãozinhos", disse um criminoso enquanto ele e seus colegas chutam os corpos. "Aí o que vai acontecer com vocês. Aqui também tem criminoso."

Enquanto uma vítima é decapitada, um preso faz ameaças. "Essa aí é a resposta. Esse é FDN", diz o detento, que atira a cabeça da vítima no chão.

"A gente vai fechar teu olho." E o preso dá risada enquanto espeta uma faca o olho da vítima. Com o sangue, eles escreveram no chão: "Aqui é o PCC".

Para a desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) Ivana David, especialista em crime organizado, as rebeliões demonstram que os presos desafiam o Estado adotando comportamento que ultrapassa a selvageria.

"Nesses vídeos, percebe-se que os detentos não estão preocupados com eventuais retaliações por parte do Estado. Pelo contrário, mostram que não têm medo da lei nem de quem as aplica."

"É uma cena que choca pela brutalidade, pela violência, pela selvageria", afirmou o deputado federal e médico-legista aposentado Hiran Gonçalves (PP-RR), que esteve no presídio.

"Saí de lá agora e ainda havia 20 cadáveres para serem removidos. Um dos problemas é o fato de a equipe de necropsia ter de montar os cadáveres", disse.

Parentes

Pela manhã, as imagens das mortes foram parar no celular da auxiliar de limpeza Silvana Santos, de 44 anos. Sem pensar duas vezes, saiu correndo para o presídio, dando início a um calvário de incerteza e medo. É lá onde estão presos o irmão e dois primos dela. "É muita aflição, a gente fica sem saber se morreu ou não."

Silvana chegou às 6 horas à penitenciária, onde familiares de presos já aguardavam por informações sobre parentes. Do lado de fora, ouvia o que acontecia na unidade.

"Era muito barulho de bomba. Tudo quanto era polícia estava lá dentro." A auxiliar de limpeza disse estar convencida de que um primo é um dos 31 mortos no massacre. "Tenho certeza que ele já foi. Era da Ala 5 e, pelo que disseram, não sobrou ninguém de lá."

Segundo o delegado-geral em exercício de Roraima, Marcos Lázaro, os presos mortos no PAMC haviam rompido com o PCC e queriam criar uma facção criminosa local. Ele afirmou que nem todas as vítimas eram ligadas ao crime organizado - entre os mortos também havia acusados de estupro. O grupo planejava fundar a nova facção estaria insatisfeito, segundo Lázaro, com "a remessa de valores obtidos com as ações criminosas para outros Estados, bem como o descontentamento com a suposta falta de "apoio" do grupo".

Com 1.475 detentos, a unidade é reduto do PCC, que está em guerra contra membros da facção carioca Comando Vermelho (CV) e seus aliados da FDN.

Roraima tem 2.621 presos - 900 dos quais pertenceriam a facções, a maioria do PCC. Por segurança, o governo de Roraima transferira presos do CV para a Cadeia Pública de Boa Vista em outubro de 2016, após o PCC matar dez integrantes do CV.

Ministro

Em Brasília, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, negou que o sistema prisional brasileiro viva uma guerra entre facções rivais e que a situação tenha saído do controle.

Ele afirmou que o massacre de Boa Vista não se tratou, "aparentemente", de uma retaliação à FDN. Para o ministro, o que aconteceu em Roraima é o que pode ser chamando de "morte oportunista".

Ele tentou minimizar a responsabilidade do governo federal sobre o episódio e disse que a gestão do sistema prisional cabe aos Estados.

Horas antes do massacre, o setor de inteligência do Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo havia descoberto mais uma ordem vinda da cúpula do PCC para que a facção vingasse as mortes de 60 detentos no Amazonas. A mensagem é uma ameaça à FDN.

"FDN, o que vocês fizeram hoje vocês nunca mais terão sossego. Porque enquanto tiver família PCC iremos caçar vocês todos. Podem se esconder nos rios do Amazonas, porque se vocês saírem do Estado do Amazonas, FDN, iremos engolir vocês." Anteontem, outra mensagem do PCC com ameaças aos rivais havia sido interceptada pela Polícia Civil de São Paulo.

O presidente Michel Temer lamentou as mortes e "se solidarizou com o povo do Estado". Temer se encontra hoje com a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármem Lúcia.

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