Paulo Preto ainda exerce influência na Dersa, dizem procuradoras
Ex-diretor da empresa é acusado de desviar cerca de R$ 7,7 mi em recursos e imóveis destinados ao reassentamento de pessoas desalojadas para obras em SP
Agência Brasil
Publicado em 14 de junho de 2018 às 21h50.
Procuradoras da República integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo, que investigam desvios de dinheiro público de obras viárias, disseram que o ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ainda exerce influência sobre a empresa estadual.
"Isso ele próprio fez questão de dizer na primeira audiência de custódia. Que tinha contato com a Dersa até hoje e que ele recebeu, de secretárias lá de dentro da Dersa, a documentação relativa ao processo. Ele próprio fez questão de demonstrar que exerce influência e um domínio sobre todos os fatos", afirmou a procuradora Anamara Osório Silva, integrante da força-tarefa, conforme divulgou o Ministério Público Federal (MPF).
Nesta quinta-feira (14) foi realizada uma audiência judicial para depoimento de três testemunhas de acusação no processo em que Paulo Preto e mais quatro pessoas respondem pelos crimes de peculato e formação de quadrilha. De acordo com informações do MPF, os depoimentos confirmaram os fatos da denúncia.
Paulo Preto é acusado pelo Ministério Público de ter desviado cerca de R$ 7,7 milhões em recursos e imóveis que eram destinados ao reassentamento de pessoas desalojadas para obras viárias em São Paulo. Entre as obras investigadas e apontadas na denúncia estão a construção do trecho sul do Rodoanel, o prolongamento da avenida Jacu Pêssego e a nova Marginal Tietê. Segundo a denúncia, o dinheiro foi desviado em proveito próprio e de terceiros e ocorreu entre os anos de 2009 e 2011. O esquema, de acordo com o MPF, era comandado por Paulo Preto e começou a ser investigado primeiramente pelo Ministério Público estadual, mas como envolvia verbas federais, a investigação foi encaminhada ao Ministério Público Federal.
De acordo com a força-tarefa, o relacionamento do acusado com a Dersa foi um dos motivos para o segundo pedido de prisão, determinado pela Justiça Federal em São Paulo. O ex-diretor já foi preso duas vezes, no entanto, foi liberado após habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
"Eles tinham ordem da Justiça para retirar as pessoas [de áreas vizinhas a canteiros de obras do Rodoanel]. Eles não só retiraram as pessoas, como pagaram e pagaram um valor muito maior que o que já tinha sido pago para outros invasores. Foram pagos até R$ 10 mil em dinheiro", segundo a procuradora da República Ana Cristina Bandeira Lins, também integrante da força-tarefa. De acordo com o MPF, os depoimento de hoje confirmaram que as indenizações foram pagas em dinheiro, o que dificulta a fiscalização pelo poder público.
A procuradora regional da República Janice Ascari, também membro da força-tarefa, disse que uma testemunha da empresa Diagonal, contratada pelo consórcio do Rodoanel para tratar do pagamento de indenizações a pessoas removidas pelas obras, alertou superiores sobre as irregularidades e foi repreendida. "Ela recebeu ordem para realizar os pagamentos. Ordens diretas de Paulo Vieira de Souza para a empresa", disse Ascari.
A defesa de Paulo Vieira de Souza tem declarado que a denúncia do Ministério Público é contrária à conclusão da auditoria e investigações internas da Dersa que inocentaram o ex-diretor de qualquer ato ilícito ou favorecimento a quem quer que seja.