Os pontos sensíveis da reforma da Previdência, segundo Maia
Presidente da Câmara dos Deputados listou o que "do ponto de vista político está contaminando" debate da reforma da Previdência
Agência Brasil
Publicado em 25 de fevereiro de 2019 às 13h27.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2019 às 15h43.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), esteve nesta segunda-feira (25) em um debate sobre a reforma da Previdência promovido pelo jornal Folha de S.Paulo em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.
Ele listou três pontos que considera mais sensíveis durante a discussão da proposta, apresentada pelo governo na última quarta-feira (20) e que deve tramitar na Casa ao longo do primeiro semestre.
São eles a mudança no Benefício de Prestação Continuada (BPC), na aposentadoria rural e no tempo mínimo de contribuição.
BPC
Atualmente, o BPC é pago para deficientes, sem limite de idade, e idosos, a partir de 65 anos, no valor de um salário mínimo.
O benefício é concedido a quem é considerado em condição de miserabilidade, com renda mensal per capita inferior a um quarto do salário mínimo.
Pela proposta, a partir dos 60 anos, os idosos receberão R$ 400 de BPC, e somente a partir de 70 anos, o valor sobe para um salário mínimo.
"O importante é que a gente faça o debate daquilo que veio, mantenha o apoio daquilo que for majoritário e retire o que, do ponto de vista fiscal, não está ajudando, mas do ponto de vista político está contaminando", ressaltou após participar do debate.
Ele disse que o impacto fiscal do BPC não é relevante, então, não há necessidade de tratar desse benefício, destinado a pessoas mais pobres que não conseguiram contribuir ao longo da vida:
"O custo de debater o BPC na reforma da Previdência é muito alto", disse.
Aposentadoria rural
Pelas regras atuais para a aposentadoria rural, as mulheres se aposentam com 55 anos e os homens com 60 anos, com tempo mínimo de atividade rural de 15 anos.
A proposta prevê idade mínima de 60 anos tanto para homens quanto para mulheres, com contribuição de 20 anos. O presidente da Câmara também indicou que a mudança poderia ser retirada da proposta.
"O principal problema da aposentadoria é fraude. Se nós resolvermos essa distorção (fora da reforma), daqui para frente talvez esse déficit não cresça tanto", disse.
As mudanças nas regras do BPC e da aposentadoria rural trazem, de acordo com o presidente da Câmara, resistências, especialmente do Nordeste.
Maia espera conseguir apoio de, pelo menos, alguns dos governadores da região para a proposta, e esses pontos dificultam, na sua avaliação, essa articulação.
"O BPC e a aposentadoria rural tiram força dos governadores na base dos partidos", enfatizou.
Tempo de contribuição
A proposta de reforma da Previdência estabelece idade mínima para aposentadoria de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, com contribuição mínima de 20 anos. Nessa proposta, não haverá mais aposentadoria por tempo de contribuição.
Atualmente, a aposentadoria por idade é de 60 anos para mulheres e 65 anos para os homens, com contribuição mínima de 15 anos. A aposentadoria por tempo de contribuição é de 30 anos para mulheres e 35 para os homens.
Maia disse que o aumento do tempo mínimo de contribuição, de 15 para 20 anos, também será um tema sensível no Congresso.
"É uma alteração pesada. Se tem muita gente que não consegue atingir o mínimo de 15 anos, imagina aumentar para 20", disse.
Pressão e comunicação
Apesar das ressalvas em relação ao texto, o presidente da Câmara criticou a pressão feita pelos servidores públicos para evitar as mudanças na Previdência.
"Eles defendem os seus próprios interesses de forma irracional e sem nenhuma preocupação com o coletivo", disse sobre as categorias com maiores salários dentro do Estado.
Para Maia, é necessária uma estratégia de comunicação que dialogue com a sociedade e mostre a urgência e necessidade da reforma.
"Essa questão da comunicação é decisiva. Não tem como ir para o enfrentamento em um tema tão sensível como esse sem a capacidade de explicar, de forma muito clara para o cidadão, o que nós estamos fazendo", enfatizou.
Ele sugeriu que o grupo político do presidente Jair Bolsonaro, tão "competente" no uso das redes sociais durante a campanha eleitoral, deveria lançar mão do mesmo instrumento para comunicar a proposta para a sociedade.
Devido a importância para manter a saúde das contas públicas, a questão da Previdência vem, na avaliação de Maia, antes de outras propostas, como as medidas contra o crime propostas pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
"Nada disso vai ter impacto na sociedade se o sistema quebrar", disse.