Para apoiadores de Bolsonaro, "o povo indignado falou"
Gritos de alegria deram lugar a insultos ao PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do candidato derrotado, Fernando Haddad
AFP
Publicado em 28 de outubro de 2018 às 21h38.
Centenas de milhares de pessoas explodiram de alegria neste domingo (28) nas ruas de várias cidades brasileiras com a vitória do candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro ( PSL ), nas eleições presidenciais.
Em frente ao condomínio onde mora o capitão do Exército na reserva na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro , abraços, gritos de emoção e alegria se misturaram ao espocar dos fogos de artifício.
"Não tenho nada a temer de um governo de um ex-militar. Este país precisa de ordem, e pior não pode ficar, com tanta corrupção e insegurança", exclamou, à beira das lágrimas, a professora aposentada Jaz Lima, 60 anos.
Gritos de alegria deram lugar a insultos ao Partido dos Trabalhadores ( PT ), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-10) e do candidato derrotado, Fernando Haddad .
Um boneco inflável com a imagem de Lula vestindo uma roupa de presidiário foi erguido pela multidão, evocando os graves escândalos de corrupção que envolveram seu partido e muitos outros do espectro político.
Um dos pontos altos da campanha de Bolsonaro, que venceu estas históricas eleições filiado ao PSL, um minúsculo partido, e armado com as redes sociais, em sua promessa de combate sem trégua à corrupção.
"Aqui está este povo indignado, inconformado com a corrupção e a insegurança, acompanhando Bolsonaro. Este povo falou. É a primeira vez em que me sinto representado", disse André Luiz Lobo, um empresário negro de 38 anos.
A ascensão deste nostálgico da ditadura militar (1964-1985), partidário da flexibilização do porte de armas e de proteger juridicamente os policiais no exercício de sua atividade fizeram surgir temores na população sobre a possibilidade de violação dos direitos humanos.
Seu gesto de simular uma pistola com o dedo polegar e o indicador virou um símbolo e era repetido neste domingo por seus simpatizantes.
"Isso de direitos humanos é tudo invenção de moda. Direitos humanos para quem? Os bandidos que ficam lá dentro da cadeia recebendo [dinheiro] ou a gente aqui fora, preso?", disse Edelso Ribeiro, comerciante de 59 anos.
"Livres da Venezuela e Cuba"
Envolto na bandeira do Brasil, Daniel Reunieri, um advogado de 43 anos, saiu para comemorar a vitória na Avenida Paulista, a principal via de São Paulo, sob um forte esquema de segurança.
"Bolsonaro está virando a página da corrupção no Brasil", disse Reunieri à AFP.
Um helicóptero sobrevoava o local, enquanto fogos de artifício iluminavam os céus. Bolsonaristas aplaudiam a passagem de homens da Polícia Militar.
Vestindo camisetas pretas estampadas com o rosto de Bolsonaro, o casal Ariani e Luis Machado, com a filha de três anos, esperam que o militar faça "o Brasil de novo uma grande nação", ao estilo da promessa do presidente americano, Donald Trump, antes de chegar à Casa Branca.
Ao seu lado, enquanto agitava uma bandeira verde e amarela, a médica Sheila Sani, de 58 anos, exclama: "o Brasil está livre do comunismo, do comunismo da Venezuela e de Cuba".
Bolsonaro, militar da reserva de 63 anos, conseguiu capitalizar a decepção e a raiva da população, abalada por anos de recessão e estagnação, e exausta de escândalos de corrupção.