Os 7 políticos mais cotados para a sucessão de Cunha
As novas eleições já foram marcadas pelo vice-presidente Waldir Maranhão (PP-MA) para a próxima quinta-feira (14)
Raphael Martins
Publicado em 12 de julho de 2016 às 19h57.
Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 12h07.
São Paulo – É oficial: haverá eleições para a presidência da Câmara dos Deputados . O agora ex-presidente da Casa Eduardo Cunha ( PMDB ) anunciou nesta quinta-feira (7) a sua renúncia ao cargo.
De olhos marejados e voz embargada, o deputado deixa o cargo. Interlocutores do Planalto já estavam admitindo, nos últimos dias, que a sombra de Cunha desgastava a imagem do governo interino. Tanto que em entrevista à revista VEJA, o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) confessou que teria aconselhado Cunha a "meditar" sobre a possibilidade de renúncia.
Este é um momento decisivo para o governo interino, já que uma vitória inesperada de um candidato pouco afinado ao Palácio do Planalto geraria desgaste inestimável.
“A substituição de Cunha gera um embate público pela sua vaga na presidência, fazendo com que o governo tenha que escolher um candidato e gerando conflito de interesse na base aliada”, afirmou Thiago Vidal, coordenador do Núcleo de Análise Política da Prospectiva Consultoria, em entrevista a EXAME.com quando o deputado balançava no cargo.
Os partidos agora correm para nomear seus indicados. As novas eleições já foram marcadas pelo vice-presidente Waldir Maranhão (PP-MA) para a próxima quinta-feira (14), às 16 horas. A escolha será secreta, por meio do sistema eletrônico.
A votação termina em primeiro turno se houver voto de maioria absoluta de deputados presentes a um candidato (50% mais um). Caso o número não seja alcançado, um novo sufrágio por maioria simples define o novo presidente. O quórum mínimo é de 257 dos 513 parlamentares.
O papel de Temer será balancear entre duas correntes de deputados e trazer consenso para seguir aprovando medidas de ajuste fical e mostrar resultado. São eles o "centrão" e a antiga oposição à Dilma.
Por pujança numérica, de mais de 200 parlamentares, o primeiro grupo deve sair beneficiado. Segundo estudo da Prospectiva, PP, PTB e PSC terão papel central nessa disputa.
"O PP, maior legenda do bloco e ao qual, em tese, cabe escolher o candidato, já ocupa a vice-Presidência da Casa. A alternativa seria a indicação de parlamentar do PTB ou do PSC. O primeiro, no entanto, possui apenas 18 deputados, e o segundo atualmente ocupa a liderança do governo na Câmara", diz o estudo.
Acontece que por serem partidos "laterais", uma escolha de Temer por apoiar um nome do "centrão" pode ser mal vista por aliados fortes, como o PSDB, DEM, PSD e o próprio PMDB. Pode haver uma organização entre as legendas para evitar fortalecimento do "centrão".
Analisados esses fatores, a consultoria chegou a sete nomes que podem despontar na corrida pela cadeira. A lista com análise segue abaixo.
A CORRIDA PELA PRESIDÊNCIA
Rogério Rosso (PSD-DF) foi governador do Distrito Federal após a prisão do ex-governador José Roberto Arruda. Ele está no segundo mandato como deputado federal. Apesar das ligações com Joaquim Roriz, ex-governador do estado, não era muito conhecido até seu papel como presidente da Comissão Especial do Impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT) na Casa. Segundo a Prospectiva, Rosso pretende se candidatar ao governo do DF e, por isso, tem interesse na visibilidade ao presidir a Câmara. Ele seria o preferido de Eduardo Cunha para o posto.
Marcos Rogério (DEM-RO) ainda é incógnita, diz a consultoria. O deputado mantém ligações fortes com indivíduos da área jurídica, como procuradores do MP e é um dos deputados mais atuantes na CCJ. A relatoria do processo contra Cunha lhe deu visibilidade e a posição agrada bastante ao DEM, que perdeu a liderança do governo para o PSC.
Outro nome dos Democratas pode ser Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado foi preterido à liderança do governo, mas possui bom trânsito entre partidos de oposição (PT e PCdoB).
Jovair Arantes (PTB-GO) é líder do partido, tem bom trânsito com siglas de oposição e foi o relator do processo de impeachmente de Dilma na Comissão Especial da Câmara. Pesa contra ele o fato de estar envolvido em escândalos.
André Moura (PSC-SE) é o atual líder do governo e principal nome do partido da Câmara. Apesar disso, é difícil medir sua possibilidade de subir ao posto de presidente por vários fatores: é homem forte de Eduardo Cunha e sua candidatura despertaria questionamentos. O cargo colocaria também holofote sobre vários escândalos e inquéritos em que está respondendo, inclusive uma acusação de assassinato.
Esperidião Amin (PP-SC) é um dos principais deputados de seu partido, que compõe o "centrão". Seria um nome de consenso, pela experiência política. Sua candidatura, porém, conflitaria com a vice-presidência ocupada pelo PP. Seria necessário então tirar Waldir Maranhão (PP-MA) do cargo e colocar outro partido no lugar.
Antonio Imbassahy (PSDB-BA) é o atual líder de seu partido e é forte no plenário. Em compensação, é um dos mais fracos na corrida pela Câmara. Carece de maior certeza pois sua candidatura vem sendo bastante discreta, o que não traria grande influência ao que Temer precisa.
CONTEXTO
Desde novembro tramita no Conselho de Ética da Câmara um pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha por quebra de decoro parlamentar, além de duas denúncias aceitas no STF para investigar suas contas na Suíça e envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.
"Estou pagando um alto preço por ter dado início ao impeachment. Não tenho dúvidas de que a causa do meu afastamento reside na condução desse processo", disse o deputado em discurso nesta tarde, esquecendo-se das inúmeras acusações que enfrenta na justiça.
Todo esse contexto enfraqueceu um poderoso comandante, que, segundo investigações apontam, usava de influência para financiar candidaturas de aliados. O esclarecimento do esquema fez esmorecer o poder.
Resultados recentes que mostram seu enfraquecimento foram a votação de sua cassação no Conselho de Ética e a recepção de seu recurso na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, ambos apontando para um final dramático. Com a renúncia, Cunha tenta sair de uma posição central e se castigar para tentar manter seu mandato.