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Nas redes, a oposição dominou após visita de Maduro e falas de Lula

Levantamento da consultoria Bites mostra que a maior parte do engajamento veio na esteira de comentários de influenciadores e parlamentares oposicionistas ao governo

Os presidentes Lula e Nicolás Maduro, durante encontro em 2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 31 de maio de 2023 às 20h08.

Última atualização em 31 de maio de 2023 às 20h27.

A visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ao Brasil, nesta semana, permitiu uma oportunidade para a oposição se mobilizar e criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Levantamento feito a pedido da EXAME pela consultoria de análise de redes sociais Bites mostra quea maior parte do engajamento nas redes se deu em tom crítico às declarações de Lula sobre o país vizinho, e ganhou especial tração após publicações de parlamentares oposicionistas.

"As falas do presidente Lula acabaram aumentando um pouco a polarização. Essa polarização no debate sobre a Venezuela já era dominada pela direita bolsonarista. Quando ele demonstra simpatia e se aproxima ao presidente da Venezuela, ele acaba dando um gás, um impulsionamento para essas críticas da direita contra o PT", diz André Eler, diretor adjunto da Bites. "O domínio foi completo da oposição."

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No final das contas, membros da base governista emplacaram somente três publicações entre as 100 que tiveram mais interações entre parlamentares em todas as redes.

No Facebook, a consultoria destaca que as duas transmissões ao vivo do presidente Lula sobre a recepção de Maduro no Palácio do Planalto figuraram entre as três publicações de maior repercussão na plataforma, com 56,3 mil e 33,9 mil interações, considerando comentários, reações e
compartilhamentos. "A outra publicação de maior dispersão na plataforma, num total de 1,7 mil publicações identificadas, foi a cobertura da CNN".

Apesar da comunicação partir do próprio perfil do presidente Lula, a recepção das publicações foi dividida entre apoiadores e opositores do governo, não sendo inteiramente positiva. No Instagram, por exemplo,a base governista emplacou somente três publicações entre as 100 com mais interações entre os parlamentares, com números menos expressivos do que os principais nomes da oposição.

Publicações dos deputados Marcel van Hattem (Novo-RS), Bia Kicis (PL-DF) e Carla Zambelli (PL-SP) também aparecem entre as de maior dispersão no período, repercutindo críticas a Lula e Maduro.

Defesa tímida — ou polarizada

O diretor da Bites destaca também que, do lado da base de Lula, houve certo "constrangimento com a defesa" às falas do presidente. "Ou uma defesa mais polarizada, de perfis mais de esquerda — mais à esquerda do que o PT — para poder defender o regime da Venezuela", afirma Eler. A polarização, naturalmente, diluiu o espaço para as defesas moderadas ou que buscassem uma explicação mais abrangente do tema.

No Twitter, a oposição também dominou o debate. Políticos contrários a Lula, como Eduardo Bolsonaro, Nikolas Ferreira (PL-MG), Júlia Zanatta (PL-SC), Marcel Van Hattem (Novo-RS) e o ex-ministro Fábio Wajngarten, lideraram o engajamento. Influenciadores e portais oposicionistas ao governo também tiveram os maiores níveis de engajamento. "Considerando os dez tuítes com maior dispersão, o de Laura Sabino foi o único de perfil de esquerda, ironizando o deputado Zé Trovão (PL-SC) pelo pedido de prisão de Maduro", diz trecho do levantamento. No total, foram mais de 1 milhão de menções no Twitter.

Crônica de uma narrativa anunciada

Outro estudo, da Quaest Pesquisa, havia mostrado na terça-feira, 30, que a repercussão à chegada de Maduro tinha sido negativa. Segundo o levantamento, o sentimento negativo foi majoritário nas menções, com 59%. "Em segundo lugar, foram 35% de menções informativas e, apenas, 6% de menções positivas".

A Quaest lembrou, em seu estudo, que o debate foi dominado por atores mais à direita, principalmente, com argumentos críticos a Lula, relembrando a proibição do TSE de associar o atual presidente a ditadores durante a campanha nas eleições presidenciais. "O debate tem tudo para continuar em alta nas redes e com fortes críticas ao presidente Lula, principalmente depois de seu discurso defendendo a retomada da compra de energia da Venezuela pelo Brasil ", diz trecho do levantamento da Quaest.

Visita de Maduro ao Brasil

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chegou na noite deste domingo, dia 28, a Brasília. Ele se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira, 29, e participou da cúpula dos países sul-americanos na terça-feira, dia 30, na capital.

A cúpula, no entanto, foi ofuscada pela reunião bilateral entre Lula e Maduro, na segunda-feira, na qual o presidente brasileiro defendeu Maduro e o regime venezuelano. Na ocasião, o petista disse que relatos de violações de direitos humanos, autoritarismo e restrição das liberdades democráticas na Venezuela eram fruto de uma "narrativa".

As declarações de Lula provocaram ruídos na reunião. Os presidentes do Chile, Gabriel Boric, de centro-esquerda, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, de centro-direita, reagiram com críticas à defesa do regime venezuelano feita pelo presidente brasileiro.

"Não se pode fazer vista grossa a princípios importantes. Discordo do que Lula disse ontem. Não é uma construção narrativa, é uma realidade e tive a oportunidade de ver em centenas de milhares de venezuelanos que vivem na nossa pátria", afirmou Boric, cobrando respeito aos direitos humanos.

Lacalle Pou, por sua vez, se disse surpreso com as declarações de Lula. "Fiquei surpreso quando se disse que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Vocês sabem o que nós pensamos da Venezuela e do governo da Venezuela", reagiu o uruguaio. "Se há tantos grupos no mundo tentando mediar a volta da democracia plena na Venezuela, para que haja respeito aos direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com um dedo. Vamos dar o nome que tem e vamos ajudar."

Última visita

O presidente venezuelano não visitava o Brasil desde 2015, quando participou da posse da ex-presidente da República Dilma Rousseff. Ele foi convidado por Lula para participar de uma reunião restrita de presidentes sul-americanos, nesta terça-feira, dia 30, no Palácio do Itamaraty.

Primeiro a chegar a Brasília, Maduro se reuniu em privado com Lula no Planalto. Depois, ambos mantiveram uma audiência ampliada, com a presença de ministros e participam de uma cerimônia de assinatura de atos bilaterais de cooperação. No Salão Leste do Planalto, agentes do GSI se posicionaram próximo das vidraças, com pastas balísticas, que se abrem em formato de escudo para blindar Maduro em caso de disparos.

O encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolás Maduro foi adiado por duas vezes. Maduro tem cancelado viagens internacionais às vésperas. Em janeiro, ele deixou de vir à posse de Lula e à cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), realizada em Buenos Aires.

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