Movimento no Galeão decola, mirando 16 milhões de viajantes em 2025, mas há cobranças de melhorias
Para que aeroporto se aproxime do movimento projetado, usuários e especialistas defendem mais eventos no Rio, 'hub' doméstico, 'stopover' e melhoria na segurança nas vias de acesso
Agência de notícias
Publicado em 7 de julho de 2024 às 09h49.
Após a adoção de medidas estratégicas, como as restrições impostas ao movimento no Santos Dumont a partir de outubro do ano passado, oAeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, já dá sinais de recuperação.
Este ano o número de passageiros deve chegar a 14,2 milhões, uma alta de 80%, e está sendo esperado um recorde histórico do fluxo de viajantes internacionais — 4,6 milhões. Doze novos destinos nacionais se somaram aos 14 existentes, e empresas aéreas já acertaram uma nova rota para Dallas, nos Estados Unidos, assim como mais viagens para Miami, Nova York e Buenos Aires.
O plano de voo da concessionária RIOgaleão para 2025 é bater 16 milhões de usuários— mais 12,6%. Embora representativa, a soma fica abaixo dos 17,4 milhões de 2017 e ainda longe de alcançar a capacidade do aeroporto de 35 milhões de viagens anuais.
Para que o Galeão se aproxime do movimento projetado, usuários e especialistas defendem novos quartos de hotéis junto ao aeroporto, mais eventos no Rio capazes de atrair turistas e a implantação de hub doméstico (centro de distribuição de voos) e stopover (conexão que permite ao viajante passar alguns dias na cidade e depois retomar o voo para outro destino). Outro ponto é a segurança pública nas vias de acesso ao Tom Jobim.
"Essas coisas não melhoram num estalar de dedos. Vão melhorando gradativamente. Tem pouco tempo, por exemplo, o início da coordenação dos aeroportos (voos domésticos começaram a ser transferidos do Santos Dumont para o Galeão há nove meses). Mas já tivemos um significativo aumento (29%) das cargas (nacionais) chegando ao Tom Jobim", citou o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões, acrescentando que, a despeito da mudança, a quantidade de passageiros, somados os dois aeroportos, cresceu.
No Santos Dumont, pousos e decolagens foram de quase 11 mil, em setembro do ano passado, para 6,3 mil, em maio último. E a quantidade de passageiros caiu pela metade. Em igual período, os voos domésticos no Tom Jobim saltaram de 3,2 mil para 6,3 mil, enquanto os passageiros nacionais mais que duplicaram. O que respingou positivamente no transporte para o exterior.
"Voos domésticos alimentam voos internacionais. Para cada seis nacionais, temos um internacional", explica Alexandre Monteiro, presidente do RIOgaleão.
Assédio de taxistas
Moradora de Santa Teresa, a paraense Zelena Ferreira conta que a migração de aeroporto fez aumentar seu tempo no trânsito. O que não chega a ser transtorno para ela:
"Levo mais tempo para chegar no aeroporto, mas a comodidade é maior. O Santos Dumont era muito lotado. O que acho ruim no Galeão é ter que aguentar taxistas me abordando. Hoje (quarta-feira) vim buscar uma sobrinha que está chegando de Belém. Contratei um Uber para me trazer e nos esperar fora do aeroporto. Quando ela desembarcar, o motorista vem nos pegar."
Há quem comemore a retomada do Tom Jobim, como o jornalista Fernando Morais, que tem a aviação como hobby:
"Frequento o Galeão desde os anos 80, para viajar ou para ver o clima e os aviões. Acompanhei a triste decadência dos últimos tempos. Havia lojas fechadas, e o número de passageiros era pequeno. Este mês, fui para São Paulo a trabalho e constatei que o aeroporto dá sinais de recuperação."
A agente de viagens Cyntia de Oliveira, porém, reclama da falta de um hotel com bom preço ou de uma poltrona confortável paga, para que passageiros em trânsito possam descansar entre um voo e outro:
"Vim cedo de Vitória, porque o voo era R$ 1.600 mais barato, e vou ficar até tarde da noite para embarcar para a Suíça de férias. Guarulhos tem vários hotéis próximos com day use, a preços acessíveis. Aqui, cobram mais de R$ 400."
Já o Visit Rio Convention Bureau relaciona a recuperação do Galeão a eventos na cidade. A estimativa da entidade é que a agenda cresça este ano 25% — com Rock in Rio, a cúpula do G-20 e encontros internacionais de aviação, restaurantes e aduanas, entre outros —, em comparação a 2024.
"Para melhorar a experiência do visitante, e para que ele tenha vontade de voltar, segurança e transporte são temas cruciais, com impacto direto sobre o setor", diz o presidente do Visit Rio, Carlos Werneck, que também defende uma maior conectividade dos passageiros que desembarcam no Rio com outros destinos nacionais e internacionais.
Segurança é obstáculo
A segurança nos acessos ao Galeão ainda preocupa. Mas uma faixa exclusiva na Linha Vermelha e uma linha expressa de ônibus entre o aeroporto e o Terminal Gentileza facilitaram a chegada ao Aeroporto Internacional, na Ilha do Governador.
"Não há turismo sem transporte", observa o presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (ABIH-RJ), Alfredo Lopes.
O diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, por sua vez, vai na mesma linha e afirma que não é o aeroporto que atrai passageiros:
"São os negócios, o turismo e a segurança pública."
Consultor da Fecomércio RJ, Otávio Leite lembra pesquisa feita pela federação antes da migração dos voos do Santos Dumont que mostrava que 76% dos passageiros aceitavam pegar o avião no Tom Jobim. Ele ressalta, porém, que para o Galeão chegar ao que foi projetado é preciso esforço público e privado para atrair visitantes para lazer, trabalho e congressos.
"Apostar na construção de stopover, nacional e internacional, é uma boa medida. Articular com grandes companhias internacionais a implantação de novos voos, investindo em promoção e marketing, é outra" sugere.
A portuguesa TAP confirma que está em conversações com a prefeitura e o governo para criar no Rio um programa de stopover semelhante ao que tem na Europa. A ideia, diz Otávio Leite, é envolver hotéis e restaurantes, a fim de garantir melhores preços e atrair visitantes durante a baixa temporada.
Mais investimentos
No momento, apenas a Emirates faz stopover (dos seus voos para Buenos Aires) no Rio. Mas o presidente do RIOgaleão, Alexandre Monteiro, diz que tem conversado com outras empresas aéreas, inclusive brasileiras, sobre a possibilidade de novas “escalas estendidas”.
Ele tem também tratado com as companhias sobre a ideia de criar um hub doméstico. Por enquanto, as nacionais preferem a discrição. A Latam diz que “sempre avalia as oportunidades”, a Gol, que não comenta o assunto “por se tratar de um tema estratégico”, e a Azul — que adotou um hub temporário no Tom Jobim, em maio, por conta do show da Madonna — que “segue atenta ao mercado”.
Quanto à manutenção e a investimentos, Monteiro anuncia que, este ano, os gastos da concessionária devem ficar entre R$ 80 milhões e R$ 90 milhões. Para 2025, entre R$ 130 milhões e R$ 140 milhões. De desembolsos de parceiros, cita a intenção de iniciar em 2025 a construção de mais um hotel próximo ao aeroporto, com 200 quartos e a um custo de R$ 100 milhões.
Ainda para o futuro, há pedidos de aumento das salas vip, incluindo da Flybondi, uma das quatro companhias low-cost instaladas no aeroporto e que transportam 20% dos passageiros internacionais. E há possibilidade de a Turkish passar a operar no Tom Jobim em 2025.
Apesar de mais voos e passageiros, quem circula pelo internacional ainda se depara com o Terminal 1 fechado por tapumes. Entretanto, diz o presidente do Riogaleão, um terço das pontes de embarque nessa parte do aeroporto está funcionando, sendo que este mês, devido ao movimento, todas devem ser utilizadas.
"O Rio é o segundo mercado, a segunda economia e o cartão-postal do Brasil. Não existe infraestrutura aeroportuária disponível no país num local com as características do Rio. Estamos sempre conversando para trazer novas empresas e novos voos para cá", diz Monteiro.