Ao falar do Chile, Bolsonaro diz que governo deve antecipar problemas
Em cerimônia sobre os 300 dias do governo, presidente disse que sua gestão é uma das mais democráticos dos últimos tempos
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de novembro de 2019 às 18h16.
Última atualização em 5 de novembro de 2019 às 20h09.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (5), em solenidade de comemoração dos 300 dias da sua gestão, que o governo tem de ter a capacidade de se antecipar aos problemas, após fazer uma alusão ao Chile, país sul-americano que tem atravessado nos últimos dias os maiores protestos populares desde que retornou à democracia.
"Infelizmente aqui no Brasil existem alguns maus brasileiros que ficam o tempo todo maquinando sobre como chegar ao poder, não importa com que meios", disse Bolsonaro, durante o evento no Palácio do Planalto. O presidente disse que, se preciso for, o governo vai dar o sangue "pela nossa liberdade". "Nenhum de nós aqui se furtará a essa missão". afirmou. "Costumo dizer que mais importante que a própria vida é a liberdade", reforçou.
Em nova crítica aos meios de comunicação, Bolsonaro disse que, se dependesse de um tipo de imprensa, seria "réu sem crime". Ele disse lamentar o fato de a grande imprensa ter procurado colocar no colo dele a execução da ex-vereadora Marielle Franco. "Que motivo eu teria para cometer um ato daquele? Estaria contrariando meus princípios cristãos. O que aquela pessoa me atrapalhava? Zero!", disse.
Apesar das críticas de que teria um viés autoritário, o presidente disse que seu governo é um dos mais democráticos dos últimos tempos e destacou que nunca falou em controle social da mídia. O presidente aproveitou também para fazer uma defesa indireta do filho Eduardo, que é deputado federal e líder do PSL na Câmara.
Bolsonaro lembrou que durante o período que esteve na Câmara dos Deputados, respondeu "a uns 30 processos de cassação" e disse esperar que Eduardo Bolsonaro não siga nessa linha. Eduardo está na mira de partidos de oposição após aventar, em uma entrevista que foi ao ar na semana passada, a possibilidade de um novo AI-5 se a esquerda radicalizar no país.
"Mas em todos os momentos a Câmara respeitou o sagrado direito de opinião, seja qual for", exortou. Num evento recheado de autoelogios dos presentes, Bolsonaro disse confiar nos seus 22 ministros e brincou. "De vez em quando tem alguma fofoca, intriga ou fuxico não é seu Moro?", disse, dirigindo-se ao ministro da Justiça e Segurança Pública. A relação entre o ministro e o presidente já foi alvo de especulações em mais de um momento.
Desfazendo "amarras da esquerda"
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , aproveitou o discurso da cerimônia para fazer ataques a gestões anteriores e à imprensa. Diante de auditório lotado, que minutos antes gritava "Mito", endereçado ao presidente, Onyx afirmou que o Brasil foi por anos governado por pessoas que tinham compromisso apenas com projeto de poder.
"Estamos conseguindo a grande virada no Brasil", disse. Ele comemorou o projeto do novo pacto federativo, apresentado hoje no Congresso. "Hoje o governo passa a rediscutir a refundação do Estado brasileiro", observou. A estimativa apresentada pelo governo é de que sejam transferidos nos próximos anos R$ 450 bilhões a Estados e municípios.
Em seu discurso, Onyx afirmou ainda que o governo Bolsonaro estaria desfazendo amarras de esquerda que deixaram o Brasil na crise, quase num beco sem saída. Além das críticas, o ministro da Casa Civil reservou alguns minutos para elogiar o ministro da Economia, Paulo Guedes, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, além da ministra Tereza Cristina, da Agricultura.
Militares
Durante a cerimônia, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva defendeu o projeto de lei que marca a reestruturação da carreira militar . Para ele, o projeto, que tramita no Congresso, valoriza a meritocracia, a experiência e a retenção de talentos, além de ser "justo e necessário".
O ministro foi o primeiro a falar durante o evento, realizado no Palácio do Planalto. Azevedo e Silva citou ainda a atuação das Forças Armadas para combater os focos de incêndio na Amazônia e citou os indicadores mais baixos de queimada, registrados nos últimos dois meses.
Azevedo e Silva afirmou ainda que o governo respondeu "prontamente" diante do vazamento de óleo, que há dois meses atinge o litoral do Nordeste do País. "Estamos vencendo mais este desafio", avaliou.