Mais enfraquecido do que nunca, Lula volta a ficar frente a Moro
O presidente comparecerá ante o juiz nesta quarta-feira para responder perguntas sobre o suposto recebimento de propinas da Odebrecht
AFP
Publicado em 12 de setembro de 2017 às 10h44.
Luiz Inácio Lula da Silva , cada vez mais enfraquecido pelas delações de um de seus principais aliados, voltará a comparecer nesta quarta-feira, em Curitiba, ante o juiz Sérgio Moro , para responder a perguntas sobre suspeitas de recebimento de propinas da construtora Odebrecht.
O ex-presidente (2003-2010), de 71 anos, já foi condenado por Moro em julho passado a 9 anos e meio de prisão por ser beneficiário de um tríplex no Guarujá (São Paulo) ofertado por outra construtora, a OAS, em troca de sua influência para obter contratos na Petrobras.
O líder histórico da esquerda brasileira pode recorrer da sentença em liberdade, mas, se for confirmada em segunda instância, será difícil evitar a prisão, impugnando uma possível candidatura nas eleições de 2018.
Lula vive um momento muito ruim. Sua recente caravana de três semanas pelo nordeste, sua base eleitoral, não registrou concentrações em massa que poderia fazê-lo ganhar força ante um cerco judicial cada vez mais estreito.
Ele enfrenta atualmente cinco acusações que vão de corrupção passiva e lavagem de dinheiro até organização criminosa e tentativa de obstrução da justiça.
Mas o ex-líder sindical se declara inocente e denuncia uma perseguição que visaimpedir seu retorno ao poder e acabar com seu partido, o PT.
Delações explosivas
Essa linha de defesa está quase caindo por terra, uma vez que seu ex-ministro da Fazenda e membro da cúpula do PT, Antonio Palocci, afirmou na semana passada a Moro que a denúncia que será tratada nesta quarta "procede porque os fatos relatados nela são verdadeiros".
Segundo ele, a Odebrecht efetivamente pagou pelo terreno do Instituto Lula em São Paulo e colocou à disposição de sua família um apartamento em São Bernardo do Campo.
Palocci, detido há um ano e condenado em junho a 12 anos de prisão, acrescentou que Lula, às vésperas de passar o poder a sua herdeira política Dilma Rousseff, fez em 2010 um "pacto de sangue" entre o PT e a Odebrecht, o que implicava que a construtora colocaria à disposição do PT 300 milhões de reais.
Tanto Lula como o Instituto que difunde seu legado negaram qualquer irregularidade.
"A história que Antonio Palocci conta é contraditória com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e provas e que só se compreende dentro da situação de um homem preso e condenado em outros processos pelo juiz Sérgio Moro e que busca negociar com o Ministério Público e o próprio juiz Moro um acordo de delação premiada", postou Lula no Facebook.
O PT anunciou que se mobilizará para apoiar seu líder histórico em Curitiba, mas os observadores duvidam que o número chegue às 7.000 pessoas que se reuniram por ocasião do primeiro interrogatório, em 10 de maio.
Entre tantas contrariedades, Lula teve recentemente um consolo, quando o MPF pediu que fosse absolvido na causa de obstrução de justiça por considerar que o delator, o ex-ministro Delcídio do Amaral, que sustentou a denúncia, havia mentido.
Um reconhecimento que para a defesa de Lula ilustra o que aconteceu em todos os processos abertos contra ele.
Dijuntivas do PT
O PT não consegue se reerguer. Com muitos de seus líderes históricos acusados ou presos, a ex-maior força da esquerda da América Latina tenta ainda curar as feridas do impeachment de Dilma em 2016.
Para 2018, apostou todas as suas fichas em Lula, o político com mais intenções de voto e com um prestígio ainda forte nas regiões que se beneficiaram de seus programas sociais. Mas ele também é o candidato com maior rejeição entre os possíveis postulantes ao cargo.
Seu enfraquecimento deve obrigar o PT a elaborar um "plano B", mesmo que ninguém fale disso abertamente.
"Lula dificilmente poderá ser candidato. A candidatura de Lula é muito problemática atualmente", afirmou o filósofo Ruy Fausto, professor emérito da Universidade de São Paulo, autor de "Caminhos da esquerda: elementos para uma reconstrução".
Para sobreviver a esta crise, Fausto propõe que o PT admita que perdeu seu papel homogênico na esquerda.
"Que o PT permita a possibilidade de incorporação de outros grupos na campanha e a possibilidade de ter um candidato independente", apesar de ser difícil ganhar em 2018, afirmou Fausto à AFP.
Mas se o PT optar por "lançar um candidato da máquina, isso será um desastre", alerta.
Entre os candidatos mais mencionados nos corredores do partido figura o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.