Lula diz que vai apoiar quem enfrentar Bolsonaro: "Não precisa ser do PT"
Ex-presidente disse que o PT apoiará legendas de esquerda e centro-esquerda nas eleições municipais de novembro para construir oposição a Bolsonaro
Reuters
Publicado em 20 de setembro de 2020 às 10h20.
Última atualização em 20 de setembro de 2020 às 10h23.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva garante que está aberto a apoiar qualquer candidato que possa derrotar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 e nas disputas municipais deste ano.
"Eu estarei disposto a apoiar qualquer candidato que tenha compromisso com o povo trabalhador contra o Bolsonaro. Não precisa ser do PT. Se for um candidato do PDT, do PCdoB, do PSB, do PSOL que estiver na disputa em que o PT não esteja, o PT não terá nenhuma dúvida de apoiar qualquer candidato progressista", disse Lula em entrevista por videoconferência à Reuters na sexta-feira.
Se ele próprio poderá concorrer ou não nas próximas eleições presidenciais, Lula afirma que depende da Justiça. O ex-presidente tem duas condenações criminais por corrupção que o impedem de concorrer, a menos que consiga derrubá-las.
O ex-presidente disse que o PT apoiará legendas de esquerda e centro-esquerda nas eleições municipais de novembro para construir oposição a Bolsonaro, a quem acusou de ter fracassado em liderar o Brasil durante sua pior crise econômica e de saúde pública na pandemia do coronavírus.
"O Brasil está desgovernado, como um transatlântico em alto mar sem comandante, porque o Bolsonaro só cuida de contar coisas dele com fake news, sem se preocupar em cuidar do Brasil. O papel de um presidente é cuidar de seu povo. Isso significa pensar no emprego, no salário, na saúde, em comer três vezes ao dia", declarou.
Lula diz que o auxílio emergencial melhorou a aprovação de Bolsonaro, mas isso tem um preço e, quando acabar em dezembro, o atual presidente vai ter que explicar.
Ainda um dos políticos mais populares do país, após seu governo de 2003 a 2010, Lula afirma que os casos de corrupção contra ele foram politicamente motivados para impedi-lo de retornar ao poder e espera que as sentenças possam ser anuladas pelos tribunais, conforme surjam evidências de parcialidade dos procuradores.
Lula está seguro de seu lugar nos livros de história por tirar milhões da pobreza e disse que não há necessidade de um mea culpa pelas irregularidades cometidas por seu partido.
"Autocrítica pedem ao PT as pessoas que não têm crítica ao PT, para eles terem um motivo para criticar o PT", afirmou.
"Certamente não fizemos tudo o que deveríamos ter feito, mas nós fizemos a maior política de inclusão social na história deste país. Nunca se cuidou tanto dos pobres, dos negros, dos indígenas", acrescentou.
Se Lula estivesse liberado para concorrer e a eleição fosse hoje, ele empataria com Bolsonaro em um segundo turno, de acordo com pesquisa da PoderData, a divisão de pesquisas do jornal digital Poder360, apurada na semana passada.
A pesquisa mostrou que Lula leva vantagem entre mulheres, jovens e eleitores universitários, enquanto Bolsonaro conquistaria Estados do cinturão agrícola, o Amazonas e mesmo o Nordeste, que já foi um reduto de Lula, mas onde Bolsonaro conquistou espaço com pagamentos emergenciais às famílias durante a pandemia.
Reconstrução Nacional
Lula, que fará 75 anos no mês que vem, saiu da quarentena na quinta-feira pela primeira vez desde 12 de março para fazer exames médicos de rotina, que mostraram que ele está em boas condições de saúde.
"Deus não foi generoso comigo só na política, mas na saúde também. Eu fiz todos os exames que tem que fazer um ser humano que quer viver até 120 anos, está tudo maravilhosamente muito bem. Tenho a energia de 30 anos e tesão na política de 20 anos”, brincou.
Na segunda-feira, o PT lançará um Plano de Reconstrução Nacional que vai propor a recuperação da economia com fortes investimentos industriais e a criação de um novo programa de assistência social que garantiria às famílias de baixa renda uma bolsa de 600 reais por mês.
Lula foi preso em 2018 e passou 560 dias na prisão até ser libertado em novembro do ano passado, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) reverteu a possibilidade de iniciar a execução da pena de prisão após condenação em segunda instância, na maior derrota que a corte impôs à operação Lava Jato. O ex-presidente enfrenta outras quatro acusações de corrupção.
"Eu estou tranquilo. Não sei o que a Justiça vai fazer. Eu espero apenas que se faça justiça", disse. "Estão desmontando o embuste que foi a Lava Jato."
Candidato ou não, Lula pretende liderar seu partido e começar a viajar pelo Brasil assim que a pandemia diminuir.
O que ele mais quer é ser julgado não pelos tribunais, mas pelos eleitores, em uma eleição em que seu partido concorra contra Bolsonaro pelo legado de melhorar a qualidade de vida dos brasileiros pobres, especialmente no Nordeste, sua terra natal.
"Eu adoraria ser julgado pelo povo brasileiro outra vez... Acabamos com a fome no Brasil e a fome voltou", disse.